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A conferência reuniu especialistas para debater sobre equidade, competências do século XXI e inteligência coletiva na educação e no mercado de trabalho

#Educação#Educadores#enlightED

A imagem mostra palco de uma das conferências do enlightED 2020, conferência que mostra tendências da educação global. Há quatro pessoas sentadas em cadeiras em semicírculo e um homem sendo entrevistado, aparecendo em um telão no centro.

O ano de 2020 vem sendo marcado pela mudança. Mudança de hábitos, de formatos e de soluções. Como um evento dedicado a trazer os destaques e desafios no campo da educação diante da revolução digital, o enlightED 2020 não teria como deixar de se conectar com o contexto global e as reflexões coletivas impulsionadas pela pandemia.

A terceira edição do evento – organizado pela Fundação Telefônica Espanha, pela IE University e pelo South Summit  – alcançou uma nova dimensão ao promover um encontro de alcance internacional de forma remota, disponibilizando a transmissão dos painéis e workshops gratuitamente com legendas em espanhol, inglês e português.

Foi dividido em cinco dias — de 19 a 23 de outubro — e reuniu especialistas renomados, bem como startups de inovação, investidores e empresas que colaboram para o desenvolvimento de uma sociedade mais conectada com as necessidades do século XXI.

O tema central aprofundou as soluções encontradas para os impactos da pandemia na educação, no mercado de trabalho e nas projeções para o futuro. Após sete meses convivendo com as mudanças trazidas pela crise sanitária, econômica e social, já é possível mapear as urgências e os caminhos para construir uma nova realidade.

“O que significa aprender? A pandemia nos ensinou que é muito mais do que ouvir ou absorver, mas também está relacionado a viver. Estamos vivendo uma tormenta e ao mesmo tempo uma revolução. Este momento serviu como catalisador para abrir os olhos para mudanças que já precisávamos realizar”, resume Rory Simpson, diretor de aprendizagem da Fundação Telefônica Espanha.

A seguir, confira algumas reflexões e perspectivas que se destacaram no evento:

Desigualdades que pautam soluções

Ao longo de 2020, 200 países tiveram de fechar as escolas e 1,5 bilhões de estudantes ficaram sem aulas presenciais, esse panorama ainda inclui cerca de 3,6 bilhões de pessoas sem acesso à internet. Isso se agrava em regiões onde a desigualdade de gênero, de raça e de classe se fazem mais visíveis, com uma parcela significativa da população permanecendo excluída de avanços que resultam em melhores oportunidades de vida.

Na opinião dos especialistas que participaram do enlighted 2020, todas as soluções encontradas a partir de agora tem de estar voltadas para fechar essas lacunas. “Acredito que a principal meta da educação continua sendo garantir oportunidades iguais para todos os estudantes”, diz Emilia Ahvenjärvi, embaixadora finlandesa e representante da área de Ciência e Educação em Buenos Aires, na Argentina.

E se as competências digitais tornaram-se indispensáveis no contexto de 2020, também ficou evidente que nem todos os grupos afetados pela crise tem acesso a meios que garantam o desenvolvimento delas. Na mesma perspectiva, os especialistas chamaram atenção para a importância de usar a tecnologia para potencializar as conexões humanas em vez de substituí-las nesse processo.

O papel desempenhado por professores, estudantes, empreendedores e cidadãos comuns revela estratégias que surgiram durante este período em lugares marcados por abismos sociais mais profundos. Um dos caminhos apontados foi estabelecer parcerias com os mais diversos atores envolvidos no sistema educacional com o intuito de consolidar uma estrutura mais igualitária e acessível para a educação.

“De repente, nos tornamos mais conscientes da realidade das famílias, dos desafios dos educadores e da ausência de conectividade que exclui crianças do processo educacional. A transformação é possível, mas temos de construí-la em parceria com outros atores da sociedade, sejam eles de setores públicos ou privados”, diz Letícia Rato, gerente de Parcerias Globais do Programa Profuturo, iniciativa da Fundação Telefônica Espanha e da Fundação “la Caixa” que já foi implementada em 38 países.

Educação e mercado de trabalho após pandemia

Mesmo antes da pandemia, a incerteza já fazia parte da realidade construída globalmente. Essa conclusão foi unânime entre os palestrantes do enlightED 2020, que ressaltaram o avanço da tecnologia e as constantes transformações sociais como características marcantes do chamado mundo VUCA (cuja tradução do inglês é Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade).

“Nós, seres humanos, temos a necessidade de nos antecipar e prever o que vai acontecer. Mas neste contexto, é papel das empresas e sistemas educativos orientar e formar as pessoas para saberem lidar com a frustração. A complexidade dos desafios que temos de lidar, com ou sem pandemia, já nos leva a buscar soluções diferentes das que tínhamos antes”, afirma Júan Carlos Mora, presidente do Grupo Bancolombia.

Ao mesmo tempo, foram as urgências trazidas pela crise que mostraram o quanto o mercado de trabalho e a educação estão desconectados. Na opinião de Satya Nadella, diretor executivo da Microsoft, o maior aprendizado foi a necessidade de focar menos na tecnologia em si e mais em como ela está sendo ensinada e utilizada nas escolas, universidades e empresas.

“Principalmente neste momento em que vivemos, fica claro que quando falamos de educação estamos tentando responder aos problemas que um determinado contexto de mundo nos coloca. A tecnologia pode ajudar, mas é apenas uma ferramenta. Tudo vai depender de como ensinamos, inspiramos e engajamos nossos educadores, estudantes e trabalhadores”, afirma o especialista.

Já Mona Mourshed, empreendedora social, presidente e fundadora da Generation –organização sem fins lucrativos que tem como objetivo recrutar, treinar e realocar grupos de pessoas que geralmente são excluídas do mercado de trabalho, acredita que essa percepção da tecnologia e das competências digitais tem de passar por todos os níveis educacionais para alcançar impacto positivo na sociedade.

“Estamos enfrentando o desemprego massivo e as pessoas estão precisando de conexões com o mercado de trabalho. Isso significa que elas não estarão dispostas a investir em cursos universitários longos e que rapidamente ficam desatualizados. Mais do que nunca, as universidades devem repensar seu desenho para construir cursos mais dinâmicos e relevantes para a atuação prática”, afirma.

Partindo do ponto de que existem competências e habilidades essenciais não contempladas pelo sistema educacional, o presidente e fundador da plataforma CourseraJeff Maggioncalda, acrescenta: “O que estamos assistindo é uma mudança na forma como as pessoas aprendem, ensinam e também na forma como trabalham. Não encontraremos mais o escritório no mesmo modelo presencial, cinco dias na semana, assim como não voltaremos para um mundo onde não exista um sistema online de aprendizagem complementar. Precisamos estar treinados para isso”, prevê.

Desenvolvendo competências do século XXI 

Com as escolas fechadas e as estratégias de ensino remoto ganhando força ao redor do mundo, está em discussão um novo modelo de educação. O que é e como deve ser uma escola digital? Para a diretora geral do Profuturo, a resposta está muito mais ligada às competências e habilidades do século XXI do que com a tecnologia.

“Estamos pensando a escola digital como um espaço conectado com a realidade dos estudantes dessa geração. A ideia do Profuturo é trabalhar competências como pensamento crítico, criatividade, comunicação, capacidade de tomar decisões, também entre os professores e em regiões sem acesso à internet”, complementa Magdalena Brier.

As chamadas soft skills, conectadas diretamente à inteligência emocional, sempre fizeram parte da vida, mas até recentemente estiveram afastadas do currículo escolar e das habilidades requeridas pelas empresas. Com o tema saúde mental cada vez mais em evidência, elas passam a ocupar papel central nas projeções para o futuro.

“O aprendizado está ligado ao pensamento. Não adianta termos conteúdos prontos e tecnologias de ponta se primeiro não ensinarmos os estudantes a pensar de maneira lógica e crítica. Entender o que são algoritmos, como funcionam as máquinas, como exercer a cidadania digital é mais importante do que aprender a usar a tecnologia em si”, comenta Marina Umaschi Bers, professora de Desenvolvimento Infantil e Ciência da Computação na Tufts University, dos Estados Unidos.

Já Mario Alonso Puig, médico e presidente do Centro de Saúde, Bem-Estar e Felicidade na IE University, na Espanha, aponta que apenas a união nos possibilitará a sair fortalecidos deste período. “Um ponto que nos diferencia em nossa evolução como seres humanos é a capacidade de colaborar. Os esforços individuais são importantes, mas é nas relações que encontraremos a criatividade vinda da inteligência coletiva. O que vivemos é bastante traumático e tentar negar essa realidade é como fingir viver em outro lugar”, analisa.

O médico, especialista em comportamento social acrescenta que o desenvolvimento da resiliência se dá em três dimensões: física, mental e emocional. Dessa maneira, encontraremos no autoconhecimento, no autocuidado e na capacidade de lidar com a frustração, as competências necessárias para lidar com a incerteza.

No âmbito profissional encorajar e treinar colaboradores para dominarem essas habilidades socioemocionais também é fundamental para que o resultado dos negócios movimente soluções mais criativas, justas e diversas para uma sociedade em constante transformação.

É o que pensa Bernardo Crespo, diretor do programa de Gestão da Transformação Digital, na IE Business School“As organizações e a escola precisam estabelecer mais conexões. Pensar em formas alternativas de avaliar e ensinar também está relacionado a forma como os estudantes estarão preparados para o futuro do trabalho. É preciso formar seres humanos capazes de tomar decisões, pensar criticamente e eticamente sobre as tecnologias, para que usem todo o potencial que temos de enxergar além delas”, diz.

Relfexões sobre a educação no mundo

• As tecnologias são apenas uma ferramenta e devem ser pensadas a serviço das interações humanas;
• Competências digitais e socioemocionais devem fazer parte do currículo escolar, do escopo das universidades e da educação executiva para o mercado de trabalho;
• A principal meta dos sistemas educacionais, empresas e governos deve estar voltada para a redução de desigualdades sociais;
• Tanto a escola, quanto o trabalho precisam oferecer alternativas mais flexíveis e significativas;
• O ensino híbrido e o trabalho fora do escritório tendem a continuar presentes parcialmente e de maneira complementar ao presencial;
• O papel e o treinamento dos educadores deve ser priorizado.

Infográfico traz as principais tendências debatidas no enlightED 2020: inteligência artificial, data mining, programação nas escolas e empreendedorismo na educação. O texto tem figuras no meio, com ilustração que remetem ao cérebro humano e objetos que simbolizam criatividade, como uma lâmpada.
enlightED 2020: tendências e reflexões na construção de uma nova educação global
enlightED 2020: tendências e reflexões na construção de uma nova educação global