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Questões emocionais, planejamento de atividades, presença da família, mudança no currículo, e evasão escolar são todos temas que permeiam o engajamento dos estudantes no ensino não presencial. Entenda!

#Educação#Educadores#Estudantes

Imagem uma criança sorrindo, com a mão no queixo. À sua frente é possível ver um notebook e na tela a imagem de uma professora sorrindo e apontando para uma lousa com equações matemáticas

O engajamento dos estudantes no ensino remoto foi tema do segundo encontro da série Conversas que Aproximam promovida pela Fundação Telefônica Vivo. O encontro aconteceu no dia 10 de setembro e contou com a presença de Paula Carolei, doutora em Educação, Ana Paula Gaspar, especialista em Tecnologia Educacional, e Marcela de Oliveira, diretora do Gente – Escola André Urani – RJ.  A mediação do papo ficou por conta de Renata Altman, gerente de Projetos Sociais da Fundação Telefônica Vivo.

Renata Altman começou o bate-papo comentando os dados da pesquisa Educação não presencial, realizadas pelo Instituto Datafolha e encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures.

Entre várias análises, a pesquisa mostra que, de maio a julho, a porcentagem de alunos da rede pública que participaram de algum tipo de atividade pedagógica não presencial passou de 74% para 82%. No entanto, apesar dos dados mostrarem um contexto bastante otimista, existe uma série de desafios para manter os estudantes engajados nos estudos: dificuldade em manter uma rotina em casa, o relacionamento com a família, distrações, ou problemas emocionais.

As convidadas conversaram sobre as diferentes faces da motivação dos estudantes e como mantê-los engajados durante as aulas remotas. Confira, a seguir, os principais temas da discussão.

A série Conversa que Aproximam vai promover sete encontros online com temas relevantes para o atual momento da educação. Serão três bate-papos voltados para educadores, reunindo especialistas para debater sobre o cenário atual com trocas de experiências sobre novas práticas pedagógicas e ferramentas digitais. Além disso, teremos mais quatro encontros com foco em empreendedorismo e o desenvolvimento de projetos de vida dos estudantes. Fique ligado em nossas redes sociais!

As várias dimensões do engajamento

“O aprender é muito mais profundo do que só se movimentar e vai além da motivação externa, como premiações, que não são sustentáveis em longo prazo”, afirma Paula Carolei.Segundo as especialistas, o engajamento dos estudantes passa por várias dimensões, e por se tratar de um tema complexo e subjetivo, não tem uma simples solução.

De acordo com as educadoras, despertar o projeto de vida dos alunos a partir da aprendizagem significativa ou trabalhar para se sintam parte de um grupo tem um forte poder mobilizador e transformador.

Ana Paula Gaspar explica que é necessário trabalhar o engajamento conforme as diferentes fases da criança e do jovem. “Para a educação infantil o engajamento das crianças está na descoberta do mundo. Nos jovens estudantes do Ensino Fundamental está na descoberta do próprio conhecimento, no prazer de aprender. Eles passam a ter consciência do seu próprio projeto de aprendizagem. Para os jovens do Ensino Médio, o engajamento está na descoberta de si, porque é uma idade muito bonita para as viagens internas”, explica a especialista em tecnologia educacional.

Como driblar as distrações e estimular a autonomia

Tornar o aluno cada vez mais consciente da sua aprendizagem, mais responsável e mais capaz de definir as suas próprias metas, contribuem para estimular a autonomia e interferem diretamente no envolvimento dos estudantes, durante o ensino remoto.

Marcela de Oliveira, diretora do Gente, defende a aprendizagem por projetos para desenvolver a autonomia e trabalhar com as distrações. Na escola André Urani, por exemplo, foi criado um projeto de fábulas que acabou incentivando a leitura.

Em um mundo permanentemente conectado, as distrações fazem parte da vida do aluno, mas Paula Carolei não tenta combatê-las. “Se o mundo tem ruído, como a gente faz música disso? Ensinar o aluno a lidar com as distrações faz parte da vida”, afirma.

“É necessário se desfazer da ideia de que o aluno tem que ficar sentado e atento o tempo todo. Nós temos que incorporar a dinâmica dos games: criar contextos divertidos, provocativos e desafiantes, no qual eles tenham que criar papéis e se colocar no lugar do outro”, complementa Paula, que também é professora e coordenadora do curso de tecnologia em design educacional da Unifesp.

Ao comentar o artigo “Jogo, vida e projeto” do pesquisador Nilson José Machado, ela fala que quando o aluno trabalha por projeto ele precisa se arriscar, lidar com erro, ser resiliente, e isso é bastante desafiador.

Planejamento de aulas remotas

Ana Paula Gaspar conta que é muito importante trazer ferramentas de visualização para o processo de planejamento de aulas. Foi com esta intenção que ela e outras amigas criaram a PERA (Ferramenta de Planejamento de Experiências Remotas de Aprendizagem).

A PERA é um quadro, onde é necessário levar em consideração quatro componentes: as pessoas, a interseccionalidade pedagógica, a prática pedagógica e as tecnologias digitais.

“Foi muito importante inserir a família no primeiro quadrante, pois quase nunca levamos em consideração a família no planejamento de atividades escolares”, diz Ana Paula.

No segundo quadrante, o de interseccionalidade pedagógica, é fundamental pensar nos objetivos do planejamento. “A gente precisa repensar o currículo neste momento. Não faz sentido eu dar o gênero rapsódia, se agora podemos trabalhar o gênero diário, já que as pessoas estão enclausuradas em casa”.

Ela ainda ressalta que por mais que seja tentador pensar nas tecnologias digitais no primeiro momento, este é só o último passo. “Eu diria que esta ferramenta é um espelho, para que os alunos e professores visualizarem seus próprios processos”, complementa.

Paula Carolei também compartilhou que desenvolveu o Deep – Design de Estratégia Pedagógicas, e isso ajudou os professores a darem visibilidade para a sua estratégia para que pudessem refletir sobre a sua prática. “É importante a gente ter várias possibilidades para ajudar o professor a se reconstruir neste momento”.

Aprender a lidar com emoções

Durante a pandemia, as questões emocionais são um forte indicador de falta de engajamento dos estudantes. Além dos fatores sociais envolvidos, por conta da crise sanitária em que vive o mundo, os alunos ainda sofrem com as relações familiares e as angústias individuais.  Aprender a lidar com as emoções dos alunos é um dos passos para mantê-los motivados.

“Como a gente apoia a criança para entender o que está acontecendo em casa? Antes pensava-se que a escola era o lugar apenas do conhecimento. Mas não é mais assim. É muito importante que o professor entenda de comportamento humano”, fala Ana Paula.

A especialista complementa que para que isto aconteça é necessário que o educador trabalhe primeiro com suas próprias emoções e tenha ações de autocuidado. “Lidar com emoções está no mesmo nível de dificuldade de lidar com a tecnologia”, acredita.

Já Paula Carolei pontua a importância das narrativas para trabalhar o emocional em sala de aula. “Por trás dos jogos e da cultura pop, nós temos as narrativas. Histórias ensinam a lidar com questões difíceis e complexas, pois o storytelling faz com que a gente se projete”, afirma.

Evasão escolar e a presença da família

Ainda segundo a pesquisa Educação não presencial do Datafolha, 46% dos pais não acham que os filhos estão motivados a fazer atividades escolares em casa e 31% temem que o aluno desista dos estudos.

A diretora Marcela de Oliveira faz um apelo aos pais. “A escola é um direito. Se o aluno abandona a escola, ele está deixando de ter um direito assegurado”. Ela conta que na André Urani eles reorganizaram o currículo para o momento do isolamento com a presença dos responsáveis, que agora estão acompanhando as atividades pedagógicas pelas redes sociais.

Já a Ana Paula defende a ideia do “Agente Público de Educação” para lidar com a evasão. “E se a escola batesse na casa dos alunos que não estão comparecendo? Troque um dia de aula remota por uma visita a cada estudante que não está presente. Esta é uma maneira incrível de dizer ao estudante que a escola se importa com eles”, defende a especialista.

Valorização da escola

Um ponto comum na fala dos jovens é a questão da valorização do professor e da escola como um todo. A impossibilidade de contar com a presença do docente evidenciou para os estudantes a relevância do papel desempenhado pelos educadores.

A falta do professor e do ambiente escolar é o maior ponto de motivação, ou desmotivação dos estudantes. “Uma grande recompensa neste momento foi a percepção dos alunos de como a escola faz parte da vida deles”, conta Marcela de Oliveira.

“Quando a gente fala de aprendizagem a gente não fala somente dos conteúdos, a gente tá falando também do vínculo afetivo que essas crianças vão manter com a escola. E esse tem sido um grande desafio nesse momento”, conclui a diretora.

Engajamento de estudantes vai além da motivação externa
Engajamento de estudantes vai além da motivação externa