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A união das Marias Bonitas de Lourdes resgata a cidadania e transforma realidades a partir de ajuda mútua entre mulheres

Qual é o tamanho do impacto gerado por um grupo engajado em transformar e fazer o bem? Em Lourdes, bairro no centro de Belo Horizonte (MG), os moradores descobriram essa resposta pelas ações solidárias organizadas pelas Marias Bonitas de Lourdes, um grupo de mulheres que resgata o conceito de cidadania e voluntariado para promover mudanças significativas na comunidade.

O que começou com gestos simples – indicar um médico ou serviços específicos, fornecer um ingrediente em falta, encontrar uma cachorrinha perdida na vizinhança, transformou-se em uma rede com mais de 1.500 mulheres unidas para movimentar doações, trabalhos voluntários, empregos e melhorias de infraestrutura, dentro e fora da região de Lourdes.

A ideia partiu de um grupo de WhatsApp criado pela Polícia Militar para que os próprios moradores estivessem atentos a possíveis ocorrências. Com o tempo, as integrantes começaram a debater outras necessidades, reunindo inicialmente 25 mulheres.

“Todas nós ficamos animadas com a possibilidade de realmente fazer alguma diferença no bairro e na vida de outras mulheres. Algumas de nós se conheciam, outras não. Então, em julho de 2017, decidimos fazer nosso primeiro encontro presencial”, relembra Clarissa Vaz, empresária e administradora das Marias Bonitas de Lourdes.

Quem são as Marias Bonitas?

Segundo Clarissa, o nome surgiu espontaneamente e teve aceitação imediata das integrantes. “Maria” vem para homenagear um nome tradicional da cultura brasileira, “Bonita” representa a beleza que se destaca ao fazer o bem. A junção dos dois faz menção à figura da cangaceira Maria Bonita, uma mulher à frente de seu tempo.

Após o encontro, as Marias Bonitas organizaram a primeira ação, embora não esperassem uma repercussão tão positiva: decidiram enfeitar um buraco que existia há meses na estrada. “No dia seguinte, o buraco já havia sido consertado. Foi ali que vimos o poder que existia em uma pequena atitude. Percebemos que podíamos fazer algo junto com a administração pública para melhorar a nossa comunidade”, conta a administradora.

Não demorou muito até que o grupo passasse a ser conhecido e respeitado, de modo que as notícias sobre as ações passaram a inspirar mulheres de outras comunidades. Rapidamente as 25 integrantes se tornaram 220 só em Lourdes.

Ao longo dos três anos de atuação mulheres de outras cidades mineiras (Pedra Azul, Nova Lima e Pará de Minas) e até mesmo de outros Estados, como São Paulo e Bahia, entraram para a iniciativa. E as integrantes estão sempre dispostas a abrir novos grupos. “Onde existir uma mulher disposta a fazer o bem, existirá também uma Maria Bonita de braços abertos para recebê-la”, reforça Clarissa.

Solidariedade, coerência e organização

À medida que o número de mulheres no grupo crescia, também aumentou a demanda por outros assuntos. As Marias Bonitas passaram a se envolver em outras causas, projetos sociais e doações, sem deixar de lado as melhorias de infraestrutura. Dada a nova dimensão do grupo, foram criados subgrupos no WhatsApp com temas diversos para garantir a organização e a coerência das ações.

Existem grupos para falar de receitas, filmes, viagens, dicas para pets e com resumo de notícias. E outros ligados mais a causas, como meio-ambiente (Bonitas Green); livros (Bonitas na Leitura); vendas (Vendas), emergências e empréstimos de itens hospitalares como muletas, inaladores e bengalas (Bonitas do Bem); e até mesmo um dedicado a conectar  empreendedoras sociais com doações e empregos (Doações e Empregos).

O Bonitas da Saúde foi a criação mais recente e é dedicado exclusivamente a debater sobre a pandemia de coronavírus. Clarissa conta que outros grupos da rede estavam sendo usados para espalhar fake news e notícias alarmantes. Por isso, decidiram chamar médicas e profissionais da saúde para combater a desinformação. Além disso, o espaço também serve como uma rede de apoio psicológico, sobretudo neste momento de isolamento social. Tem sido ainda uma ferramenta para potencializar as ações solidárias.

“Apesar das atividades surgirem espontaneamente, nossos grupos têm regras para garantir que as integrantes estejam cientes do real objetivo das Marias Bonitas. O maior desafio é passar essa visão do todo. Cada palavra e atitude pode transformar a vida de outra pessoa”, responde Clarissa sobre os desafios na gestão dos conteúdos.

Política, futebol e religião também são assuntos evitados. “Não discutimos opiniões individuais”, acrescenta a empresária. Segundo ela, as mulheres que entram com objetivos individuais não costumam permanecer muito tempo dentro da iniciativa.

Dia das Mães solidário

As ações solidárias de Dia das Mães das Marias Bonitas de Lourdes costumam gerar bons frutos. Em 2018, o grupo organizou um bazar de produtos feitos pelas próprias integrantes. Para aquelas que faziam comidas, artesanatos, roupas, crochê, mas não tinham vitrines para expor, a oportunidade gerou visibilidade e a oportunidade de obter renda extra.

Para este ano, existem duas ações programadas. A primeira é a campanha Minha mãe é um presente, que inverte a dinâmica tradicional do Dia das Mães. Para participar, as integrantes enviam um vídeo de um minuto para os filhos, deixando uma lição ou legado que gostariam de passar adiante.

Uma comissão, composta por mulheres de fora, ficará encarregada de selecionar os dez vídeos mais tocantes e inspiradores. As mães vencedoras ganharão um ensaio fotográfico, feito por uma das Marias Bonitas.

O segundo projeto é a Rifa do Bem, que será online e vai arrecadar dinheiro arrecadado para uma instituição social. As participantes concorrerão a um tênis e a uma havaiana personalizados, produzidos por uma artista que trabalha com crochê.

“Um dos maiores aprendizados que as Marias Bonitas me deram foi saber que não estou sozinha no mundo. Preocupar-se com o bem-estar do outro e acreditar nas pequenas mudanças é contribuir para um país melhor. A nossa missão é dar as mãos, olhar para a realidade do próximo e participar ativamente dessa transformação”, conclui Clarissa.

Grupo de mulheres organiza ações solidárias para transformar comunidades
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