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Pesquisa aponta que o mercado de tecnologia possui pouca diversidade e falta de representatividade. Mesmo assim, a área pode ser um caminho promissor para mulheres negras que querem empreender

A imagem mostra quatro mulheres dentro de uma sala. Sentadas em volta de uma mesa, três delas olham para frente, onde se vê uma imagem em projeção, apresentada por outra mulher.

Detetive de dados, facilitador de TI, gerente de equipe humanos-máquinas. Essas são algumas das 21 profissões do futuro e que devem fazer parte do nosso cotidiano até 2030. Todas elas têm algo em comum: o uso da tecnologia. O levantamento vem do relatório do Center for the Future ofWork, criado pela Cognizant Technology Solutions, uma empresa de tecnologia da informação americana.

Apesar desta nova demanda estar em um futuro bem próximo, o Brasil, que tem um cenário com carência de 240 mil profissionais na área de tecnologia, ainda tem um grande passo para dar. Especialmente, quando o assunto é diversidade e representatividade de pessoas negras no mercado de trabalho.

Entre os profissionais da área tecnológica predominam homens (68,3%) e pessoas brancas (58,3%). Os dados são da pesquisa “Quem Coda o Brasil”, realizada pela PretaLab (iniciativa que estimula a diversidade no universo das tecnologias), em parceria com a consultoria global de software ThoughtWorks. O estudo foi realizado entre os meses de novembro de 2018 e março de 2019, somando um total de 693 participantes válidos em 21 estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal.

21% dos entrevistados responderam que em suas equipes não há nenhuma mulher e 32,7% disseram não trabalhar com nenhuma pessoa negra. “As novidades e avanços tecnológicos têm um impacto na nossa vida. Não é porque hoje nos comunicamos de uma forma diferente que as desigualdades diminuíram. Pelo contrário, vemos, inclusive que elas aumentaram”, comenta Silvana Bahia, Diretora de projetos do Olabi e coordenadora da PretaLab.

De acordo com Silvana, o mercado da tecnologia está em ebulição, enquanto as mulheres negras acumulam os piores índices de empregabilidade do país. “A maioria das pessoas que trabalham hoje nos times técnicos são homens, brancos, jovens, heterossexuais e que estudaram em lugares bons. Reflexo de uma desigualdade social”, comenta.

Caminhos possíveis

Para contrapor esse cenário, a PretaLab criou uma ferramenta que pretende unir profissionais negras e empresas interessadas em preencher vagas. Por meio de uma plataforma online, as profissionais cadastram seus currículos e apresentam suas habilidades e experiências. Além de aumentar as chances de empregabilidade para estas mulheres, a ferramenta pretende que mais meninas e mulheres negras aproximem-se destas áreas e que elas se conectem entre si para desenvolver projetos e trocar informações.

As mulheres negras e indígenas que querem se cadastrar, podem fazer o registro na aba “perfis” disponível no site. Silvana conta que antes mesmo da plataforma vir a público, já tinham mais de 100 perfis cadastrados. Hoje em dia, mais de 250 mulheres que trabalham em diferentes nichos como engenharia de sistemas, criptomoedas, desenvolvimento de software e tantas outras especialidades fazem parte da rede.

“Não é só contratar. As empresas, de forma geral, não são ambientes que pensam em desigualdade. Então, temos tentado ajudar esses espaços a se tornarem lugares antirracistas”, conclui Silvana.

Empreendendo por necessidade

O pensamento de Silvana dialoga com o relatório especial produzido pelo Sebrae, que aponta que as mulheres negras representam hoje a metade das donas de negócios no país. O estudo mostra que 9,6 milhões de empreendedoras do sexo feminino estão à frente de um negócio, formal ou na informalidade, como empregador ou trabalhando por conta própria.

O empreendedorismo por necessidade é mais forte entre as mulheres negras (49%) do que entre as brancas (35%) e a informalidade também chama atenção. Apenas 21% das empreendedoras negras têm CNPJ, contra 42% das mulheres brancas.

“As mulheres negras não são absorvidas pelo mercado de trabalho formal. Então, empreender passa a ser uma necessidade, muitas vezes. “Ainda somos as que estão no mercado informal e ganhando os piores salários“, comenta Silvana Bahia.

As empreendedoras negras têm maior participação em serviços domésticos (como diaristas, cuidadoras de crianças, jardinagem, camareiras, caseiros e cozinheiras, entre outros), cabelereiras e outras atividades de tratamento de beleza, além de serviços ambulantes de alimentação, de acordo com o estudo do Sebrae. Os dados mostram também que elas atuam no comércio varejista de artigos do vestuário e de perfumaria e de higiene pessoal, confecções de roupas, fabricação de outros produtos têxteis e atividades de ensino.

Como driblar esse cenário?

De acordo com Silvana Bahia, apesar de alguns avanços no cenário nacional, como, por exemplo, o aumento da escolarização de nível superior, a desigualdade ainda persiste. Segundo a pesquisa “Estatísticas de gênero“, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 10,4% das mulheres negras tem ensino superior completo, esse percentual é 2, 3 vezes menor do que o de mulheres brancas.

Para a coordenadora do PretaLab, a tecnologia e a inserção das mulheres negras nesse mercado são essenciais para resolver questões importantes da atualidade. Entre elas, a falta de diversidade nos times técnicos e como isso impacta nas tecnologias usadas por nós, que podem perpetuar preconceitos. Consequentemente, isso impacta na questão da empregabilidade de mulheres negras, que passam a ter maior acesso a esses espaços.

“Para se tornar uma desenvolvedora, em alguns casos, não é preciso ter cursado uma faculdade. A tecnologia permite a aprendizagem autodidata. Então, para nós esse é um encontro muito feliz”, finaliza.

Mulheres negras na tecnologia: como o mercado pode ser mais diverso
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