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Multiplicadores da Rede Pense Grande contaram com evento que abordou temas como evasão escolar, o papel da escola e exemplos de boas práticas de engajamento

A imagem mostra uma pessoa de costas, sentada com fones de ouvido, olhando para a tela de um computador onde se vê o rosto de várias pessoas em uma videoconferência

Em um cenário onde a evasão escolar é intensificada pela pandemia, a pergunta chave para os educadores de todo Brasil é: Como engajar o jovem estudante do século XXI? Para falar sobre esse desafio, o Encontro Nacional da Rede Pense Grande realizou um evento online e interativo, com especialistas convidados e multiplicadores da rede.

A metodologia Pense Grande, programa de apoio ao empreendedorismo social da Fundação Telefônica Vivo, é aplicada na formação de multiplicadores de seis polos ao redor do Brasil: Baixada Santista, Minas Gerais, Sergipe, Bahia, Etecs e ONGs da capital paulista, tendo a organização Atados como o parceiro executor do projeto.

Em 2020, o desafio foi adaptar os encontros para o formato online e garantir que a experiência de fortalecimento da cultura empreendedora continuasse a fazer sentido, sem se esquecer dos vínculos e dos espaços de troca.

“Começamos com encontros locais, pelo Zoom, pois entendemos que era importante ter esse primeiro momento de escuta das diferentes realidades. Criamos uma plataforma e fomos testando juntos outros métodos e espaços de vínculo”, conta Gabriel Nardelli, coordenador do projeto na Atados. “Foi aí que chegamos ao tema principal para o encontro nacional: a dificuldade de engajamento do jovem na quarentena”.

O encontro foi dividido em dois dias e além dos debates, houve espaço para a dinâmica #SeVira, momento em que os multiplicadores tiveram de encontrar soluções coletivas para quatro casos envolvendo problemas reais de engajamento em contextos diferentes, representando a diversidade de cenários enfrentados pelos educadores brasileiros.

“Mesmo online, estamos em 62 pessoas empenhadas, empregando valor a essa construção dinâmica feita pela rede, que parte da perspectiva de cada educador, jovem multiplicador e quem mais chegar para somar com a nossa causa”, afirmou Luciana Scuarcialupi, coordenadora de projetos sociais da Fundação Telefônica Vivo.

Primeiro passo: uma escola significativa e acolhedora

O painel inaugural do encontro trouxe a reflexão sobre o papel da escola, sobretudo a que se construirá no período pós-pandemia. Para Natacha Costa, diretora-presidente da Associação Cidade Escola Aprendiz não existe jovem desinteressado, e sim proposta desinteressante.

“Enquanto centrarmos nossas energias na lista de conteúdos, não vamos garantir a aprendizagem. Quanto mais a gente souber aprender levando em consideração o papel social da escola, da comunidade, das vivências, mais potência estaremos levando para a educação”, defendeu.

A especialista acredita que a oportunidade de apostar em uma educação integral, que leva em consideração a voz dos estudantes e o desenvolvimento deles como sujeitos, tem se mostrado assertiva durante a pandemia.

Jéssica Nascimento, coordenadora pedagógica da E.E Mauro de Oliveira, localizada no centro de São Paulo, defendeu a importância de olhar para o emocional dos estudantes e dos educadores.

”Perder o vínculo neste momento é muito fácil. Por isso, nossos esforços têm sido no sentido de manter uma relação próxima com as famílias e com os estudantes, ligando e mandando mensagens diariamente, com atenção às necessidades de cada um”, relatou.

Além dos roteiros com conteúdos, a escola buscou fazer uma parceria com estagiários de psicologia da universidade PUC-SP para acompanhamento gratuito, e disponibilizou tutoria para ajudar na organização da rotina.

“Quando estamos em casa sozinhos, ficamos desanimados, ansiosos e perdidos. Ter a oportunidade de conversar com os psicólogos nos deu o respiro necessário. Foi um desafio no início, mas admiro os nossos professores por nos ouvir e dar o que era necessário para voltarmos a ter uma rotina”, contou Kyldere Araújo, aluno do 1º ano do Ensino Médio e líder de classe na Mauro de Oliveira.

Por que a educação tem que mudar?

Emanuelly Oliveira, fundadora do Social Brasilis, contou como descobriu um propósito após se formar professora e dar aulas em um dos bairros mais violentos de Fortaleza na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ela notou que mesmo sem conhecer o alfabeto, seus alunos estavam conectados às redes sociais, o que a levou a aliar a tecnologia ao ensino da Língua Portuguesa.

“Comecei a ensinar gêneros textuais aplicados ao ciberespaço. Quanto mais eu trabalhava, entendia que o Brasil tem um déficit no ensino dessas habilidades e isso deveria ser uma preocupação para o futuro”, relembra.

Em 2015, a empreendedora e educadora investiu em desenvolver competências digitais através de uma proposta pedagógica gamificada e pensada para o engajamento de jovens e adultos. No ano seguinte, participou do Pense Grande Incubação, uma iniciativa da Fundação Telefônica Vivo e, desde então, seu projeto atua em sete programas educacionais, um corporativo e já impactou indiretamente cerca de 30 mil pessoas.

“A tecnologia vai mudar profundamente o futuro do trabalho, automatizando cada vez mais os processos. Isso vai afetar a economia das bases, gerando ainda mais desigualdade social. Por isso, a ideia é levar conhecimento para que esses jovens possam não apenas consumir conteúdo, mas se apropriar da tecnologia para causar impacto positivo na sociedade”, conclui Emanuelly Oliveira.

O segredo para o engajamento dos jovens

Os multiplicadores da rede voltaram a se encontrar no segundo dia do evento para finalizar as soluções do #SeVira e participarem do último painel do evento, que trouxe alguns exemplos de boas práticas. Edgar Gouveia, urbanista e especialista em jogos colaborativos, contou sobre os princípios que carregou quando criou a Jornada X.

“Essencial para o jovem é brincar, inventar. Mesmo em tempos de horror, uma criança sempre dá um jeito de imaginar. É cruel colocá-los em um modelo de sala que pede para que simplesmente fiquem quietos e prestem atenção”, argumentou. Para Edgar, o recreio é o espaço mais poderoso da escola, onde os jovens se desenvolvem e são protagonistas do seu próprio aprendizado.

A educadora Carla Menezes, da rede pública de Sergipe, concordou e contou que passou a observar seus estudantes durante o intervalo para que pudesse se apropriar de seus gostos nas aulas de Educação Física.

“Ouvi os estudantes sobre como eles estavam se sentindo e muitos deles trouxeram a ansiedade e a vontade de aprender através de jogos. A partir de então, procuramos juntos e decidimos pelo jogo Among Us. Os alunos conduziram tudo: fizeram tutoriais, criaram até um campeonato!”, detalhou.

Carla também usou a rede social Tik Tok como ferramenta para trabalhar danças típicas do folclore brasileiro e se surpreendeu com o engajamento dos jovens. Segundo a educadora, envolvê-los em atividades com sentido, autonomia e que estimulem a corresponsabilidade pelo aprendizado mantém o interesse.

Letícia Alves, 22, estudante de arquitetura e urbanismo, relatou que o Jornada X a levou a objetivos maiores ao atuar com protagonista de uma comunidade em Juiz de Fora (MG). “O jogo mostra suas limitações, ao mesmo tempo em que desenvolve o seu potencial. Durante a missão especial de pandemia, nossa liga arrecadou mais de R$ 8 mil em cestas básicas e 500 máscaras”, contou.

Mobilizar ações rápidas, divertidas, gratuitas e extraordinárias é o pilar que sustenta não apenas a iniciativa de engajamento, mas também o próprio perfil dos jovens dessa geração. Nesse contexto, a estudante também divulgou o Desafio 10×10, gincana ativa durante a pandemia.

Mais do que incentivar os participantes a usarem as ideias e debates inspiradores nas propostas apresentadas no #SeVira, o Encontro Nacional da Rede Pense Grande serviu, sobretudo, para plantar a semente de uma aprendizagem significativa no dia a dia dos educadores.

Rede Pense Grande debate como engajar o estudante no século XXI
Rede Pense Grande debate como engajar o estudante no século XXI