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Olhar individualizado e apoio ao trabalho voluntário estão entre as estratégias de organização para garantir reparação afetiva a crianças e adolescentes acolhidos.

Tomar um ônibus rumo a um lugar distante na cidade, abrir uma conta no banco, marcar uma consulta médica, lidar com o próprio dinheiro, fazer um currículo, preparar-se para uma entrevista de emprego. Em algum momento, todo cidadão se depara com a primeira vez diante dessas atividades que, com a prática, tornam-se corriqueiras. Para superar a apreensão da estreia, nada como uma presença adulta ou simplesmente mais experiente para apontar o caminho.

*Acolhimento institucional

Esta é uma das medidas de proteção previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para garantir os direitos das crianças e adolescentes quando estiverem ameaçados ou violados. Os serviços de acolhimento são responsáveis por acolhê-los temporariamente até que possam retornar para suas famílias de origem ou serem colocados em família substituta (os casos de guarda, tutela ou adoção). Segundo um levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social (2011), no Brasil, aproximadamente 2,6 mil serviços de acolhimento institucional atendem a 37 mil crianças e adolescentes.

Garantir essa referência e fortalecer a autonomia das crianças e adolescentes atendidos pelo acolhimento institucional* estão entre os intuitos do trabalho realizado pelo Instituto Fazendo História. Desde a sua fundação, em 2005, a organização desenvolve programas que ampliam a capacidade deste serviço, procurando assegurar ao seu público-alvo uma reparação efetiva – uma prerrogativa do período de acolhimento, apesar do seu caráter provisório – e torná-lo apto a se apropriar e a transformar suas histórias de vida.

De acordo com relatório de 2014, os projetos e ações do Instituto mobilizaram 542 voluntários, atenderam diretamente 1.472 crianças e adolescentes e reuniram 1.445 profissionais dos serviços de acolhimento em suas formações. “Promover encontros entre a comunidade e o serviço de acolhimento é uma marca do nosso trabalho”, afirma Mônica Vidiz, coordenadora do novo programa Apadrinhamento Afetivo, voltado, sobretudo, a crianças e adolescentes com poucas chances de adoção ou retorno familiar.

O universo ao qual se refere é de aproximadamente 4,7 mil crianças e adolescentes com 7 a 17 anos, idade em que declinam as chances de inserção em uma nova família. A iniciativa partiu da Vara da Infância e da Juventude do Fórum Central de São Paulo e contou com o Instituto Fazendo História para a realização. Ao longo do segundo semestre de 2015, madrinhas e padrinhos voluntários passaram por uma qualificação, envolvendo também as crianças e adolescentes e os profissionais do serviço de acolhimento.

“É uma função importante, que precisa ser desenvolvida com muita competência, sensibilidade e comprometimento”, destaca a coordenadora. Por isso, a organização propõe um acompanhamento que se distribui ao longo de três anos para que o padrinho entenda os comportamentos daquela criança ou jovem e em quais áreas ele pode ter uma contribuição mais efetiva. “Falamos em apadrinhamento afetivo, mas apenas o afeto não basta. Claro que é superimportante, mas nem sempre traz o impacto que consideramos necessário”, explica Mônica.

Presença duradoura

Como em qualquer outra relação, ao longo da convivência surgem conflitos e desafios, e é neste momento que o apoio técnico torna-se especialmente relevante. O Instituto não faz, porém, uma distinção específica entre os dilemas de adolescentes e de crianças – público compreendido na maior parte dos seus projetos. “Olhamos cada um com um olhar particular e individualizado”, afirma Débora Vigevani, coordenadora do programa Fazendo Minha História, que promove o registro das histórias de vida das crianças e adolescentes por meio do contato com a literatura.

Para refletir caso a caso e qualificar o atendimento dos voluntários, a organização conta com alguns dispositivos, como as supervisões mensais, nas quais o grupo discute os desafios encontrados no decorrer do trabalho com um técnico mais experiente, e as capacitações semestrais para todos os voluntários, nas quais um convidado aborda um conteúdo específico, como as características do desenvolvimento na adolescência, depois disponibilizado no blog.

A atuação do Instituto Fazendo História, como explica Débora, concentra-se na oferta de um voluntariado qualificado e não pautado por ações pontuais e doações. “Oferecemos uma presença duradoura”, define a coordenadora. O objetivo é que as crianças e adolescentes acolhidos tenham a oportunidade de estabelecer vínculos de confiança, favorecendo o seu gradativo desligamento da instituição e a conquista de autonomia para a realização dos seus próprios projetos na vida adulta.

Voluntariado qualificado contribui para melhorar serviço de acolhimento
Voluntariado qualificado contribui para melhorar serviço de acolhimento