De forma lúdica,o jogo Passeando Pelas Ruas permite ensinar sobre fatos históricos da cidade de São Paulo, além de reflexões sobre cidadania, diversidade e temas sociais.
O processo de ensino e aprendizagem pode ser complementado por jogos que desenvolvem habilidades cognitivas e emocionais, contribuindo para que o conteúdo pedagógico seja assimilado de forma mais natural pelos alunos. Um exemplo é o jogo Passeando Pelas Ruas, criado por um coletivo de mesmo nome para contar a história da cidade de São Paulo de forma lúdica, participativa e divertida.
Criado em 2014, o coletivo é integrado pelo professor de história Philippe Reis, pela historiadora Renata Geraissati, e pela pedagoga Paloma Reis, e promove passeios gratuitos toda semana para diferentes pontos da capital paulista, saindo de São Miguel Paulista, na zona leste.
No jogo de tabuleiro, que pode ser jogado por crianças, jovens e adultos, existem cinco caminhos para as diferentes zonas da cidade, cada uma com um prédio histórico que a representa em forma de pino: Sítio Morrinhos (zona Norte); Museu do Ipiranga (Sul); Capela de São Miguel (Leste); Memorial da América Latina (Oeste), e Edifício Martinelli (Centro). Os pinos avançam conforme o jogador acerta perguntas sobre uma personalidade, um patrimônio, um logradouro ou um tipo de entretenimento da cidade. São 240 cartelas com perguntas e quem chegar primeiro à sua área de origem, vence.
Para Philippe, aprender sobre a história da cidade permite criar “a ideia de identidade e apropriação do espaço no qual se vive. Ao conhecer o nosso bairro e outras regiões com as quais possuímos vínculos, como o local de estudo ou trabalho, é possível desenvolver nossa intelectualidade, cidadania, exercício de democracia e outros valores”.
É possível discutir muitos temas a partir da história de uma cidade como São Paulo, explica o professor. “O jogo traz para discussão a ideia de que a cidade é plural, diversa e que não somos centrados no bairro em que vivemos. É importante entender que a cidade tem uma complexidade, que possui espaços diversos. Mostrar questões sobre essas diferenças também é uma forma de conhecer a cidade”, afirma.
O jogo nas escolas
O Passeando Pelas Ruas produziu até o momento, com fomento da prefeitura, 100 unidades que seriam distribuídas gratuitamente para escolas públicas. A primeira que recebeu o jogo foi a E.M.E.F. Virgílio de Mello Franco, no Jardim Helena, zona leste, após a formação de cerca de 50 professores. O projeto lançará um financiamento coletivo para chegar a outras instituições.
Segundo Philippe, a aceitação na Virgílio de Mello Franco foi excelente tanto para quem já participou dos passeios promovidos pelo coletivo como para quem nunca fez parte deles.
“O jogo traz o lúdico para todos. Cada dica presente nas cartas traz uma história que o aluno pode pesquisar”, diz. Além disso, é uma ótima maneira de complementar o ensino e a aprendizagem, se tornando uma ferramenta que auxilia educadores.“Existem várias possibilidades para adaptar o material à realidade do aluno e, dessa forma, pensar em discussões que se relacionem com temas educacionais e sociais”, afirma o professor.
Diversidade histórica
Além de História e Geografia, outros temas permeiam o jogo, como a descentralização da história de uma cidade. “A ideia é mostrar que o espaço no qual uma pessoa vive também tem história. Existe uma naturalização de que apenas alguns lugares são históricos, como o centro da cidade e arredores. Essa ‘consagração’ acaba por deixar de lado outros bairros, como se eles não tivessem a sua própria história. O jogo traz a ideia de que existe uma diversidade na cidade que precisamos conhecer”, exemplifica Phelippe.
Outros assuntos também podem ser abordados a partir do jogo, como direito à cidade, gentrificação, participação social, imigração, construção da memória, racismo e machismo. “Uma dificuldade que tivemos quando estávamos selecionando os logradouros que estariam no jogo foi perceber como poucos deles têm nomes de mulheres, assim como de pessoas negras. Essas e outras questões podem ser discutidas”, diz Phelippe Reis.
Para ensinar História e temas relacionados, que podem ser debatidos a partir do jogo de tabuleiro, é fundamental considerar as pessoas e a influência do tempo, segundo o professor. “A História como construção de conhecimento é aperfeiçoada ao longo do tempo. Gosto de comparar a uma casa, que está sempre em processo de transformação. É assim que a História caminha, você a constrói de acordo com as perguntas que faz ao passado”, analisa. “Além disso, a História sem pessoas não é História. Não é só o prédio ou a rua, tem que ter gente ali. Se não tem gente, não tem História”, finaliza.