A sala de aula não precisa estar organizada ao redor do professor,
mas ser repensada de forma a facilitar a aprendizagem
mas ser repensada de forma a facilitar a aprendizagem
Conceito
Desafios
- Perceber e aceitar que se pode reinventar a escola, legalmente. Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2013, p. 27): “Essa ampliação e diversificação dos tempos e espaços curriculares pressupõe profissionais da educação dispostos a reinventar e construir essa escola, numa responsabilidade compartilhada com as demais autoridades encarregadas da gestão dos órgãos do poder público, na busca de parcerias possíveis e necessárias, até porque educar é responsabilidade da família, do Estado e da sociedade.”
- Transformar espaços escolares em ambientes que “conversem” com a proposta pedagógica. Pensemos num modelo em que cada estudante segue um itinerário formativo, cada um no seu ritmo, livre para pedir a ajuda do professor e dos colegas, seja em que matéria for. Precisamos de um espaço mais versátil, para que o aluno possa transitar livremente, acessando com facilidade aqueles que podem contribuir com seu processo de aprendizagem
- Ampliar os espaços de aprendizagem para além da sala de aula e dos muros da escola
Caminhos percorridos
Uma solução muito disseminada pelas escolas inovadoras, cujo anseio é reconfiguração do
espaço físico, foi a derrubada de algumas paredes internas para permitir a expansão das salas
de aula.
Os grandes “salões”, como são chamados esses novos ambientes, aumentam as possibilidades
de organização das classes, expandem a noção de espaço dos alunos e também são propícios
para a realização de trabalhos em grupo, que agregam diversos benefícios, como o
desenvolvimento das competências e habilidades para o século XXI.
Como os estudantes não precisam mais ficar enfileirados, eles aprendem a se relacionar uns
com os outros, buscando ajuda dos colegas com que têm mais sintonia, com um objetivo claro
em mente: aprender.
Em algumas escolas, inclusive, os grandes salões possibilitaram a criação de classes
multisseriadas, onde alunos de diferentes idades passam a conviver e interagir, ajudando-se
mutuamente.
No salão, nós fazemos os roteiros, cada estudante faz o seu. Os estudantes conseguem se
ajudar nos grupos de cinco ou seis estudantes, mas às vezes pedimos ajuda do professor.
Ficamos em mesas grandes e facilita da gente se ajudar.Aqui, nós ficamos quatro pessoas em uma mesa só, no salão. Quando a gente entra na escola a gente senta com quem quiser, mas se um dos colegas começa a se adiantar num roteiro, ou uma pessoa está com mais dificuldade, os grupos podem ir mudando. Quando a gente tem dúvida, primeiro perguntamos para o grupo, depois perguntamos para a professora.
Exemplos de quem já faz
Na EMEF Campos Salles, em São Paulo, não existe sala por turma: os estudantes ficam
em salões enormes e o número de paredes da escola foi reduzido. Na Amorim Lima,
eles se separam por ciclos, cada um em um salão, enquanto na Campos Salles essa
divisão se dá por ano. Em ambas, o que se vê são muitos estudantes se ajudando o
tempo inteiro e os professores circulando por todo o salão, num clima colaborativo e
orgânico.
A Wooranna Park Primary School, na Austrália, também utiliza salões e acredita que o
espaço de aprendizagem deve ser atrativo e dinâmico. Por isso, várias intervenções
foram feitas no espaço da escola, ao longo dos anos, para privilegiar a integração.
Algumas das mudanças, além da retirada de divisórias e paredes para criar os salões,
foram: a criação de locais para reuniões, de áreas multimídia, espaço para robótica e
estúdios de rádio e TV. Outro fator importante considerado pela escola é a escolha dos
móveis, que devem ser confortáveis, facilitando a interação, como sofás e mesas
redondas.
O GENTE, colégio localizado no Rio de janeiro, criou espaços amplos e abertos,
possibilitando o trabalho coletivo de alunos e professores, transformando o ambiente
em local atrativo ao aprendizado.
Por meio dessa comunicação ativa e sem delimitação de espaço, o conhecimento é construído,
incentivando a cocriação, a colaboração e a solidariedade, ao mesmo tempo em que todos
aprendem a conviver e atingir objetivos em grupo. Nesse contexto, móveis funcionais têm
papel fundamental.
Exemplos de quem já faz
Na escola Vittras, na Suécia, há espaços abertos repletos de móveis funcionais, que
passam longe das carteiras tradicionais, para motivar os alunos a fazer perguntas e a
aprender de acordo com os próprios interesses, mas de forma colaborativa.
No GENTE, foi desenvolvida toda uma linha de mobiliário modular, com design e
identidade visual próprios, facilitando a reorganização dos espaços. Os alunos,
inclusive, possuem total autonomia para arrumá-los da forma que desejarem.
A aprendizagem acontece nas interações livres e espontâneas entre os estudantes. Por isso,
precisamos levar em consideração que a educação não acontece somente nos limites da
escola, reconhecendo que há muito a aprender fora dela, ultrapassando os seus muros e
paredes.
Ideia! Podemos ser ainda mais ambiciosos e imaginar essa aprendizagem indo
para o outro lado da cidade, naquele museu tão interessante, ou até mesmo
visitando outro país, por meio de trocas pela internet entre estudantes,
professores e especialistas de todo o mundo!
Nós acreditamos que a escola não é parede, então você estuda onde você quiser. Aqui os
estudantes moram muito perto uns dos outros e se encontram direto fora da escola, para tudo.
Ensaiam projetos, se ajudam, estudam... É ótimo trabalhar em escola de bairro e ver isso
acontecendo.
Exemplos de quem já faz
A Green School, na ilha de Bali, na Indonésia, é considerada a escola mais verde do
mundo. Com um modelo de educação progressista, centrado no estudante e na sua
relação com a natureza para criar um mundo ecologicamente e socialmente mais
justo, sua arquitetura é, com certeza, um grande diferencial. Dentre as muitas
peculiaridades, destacamos a estrutura, toda feita com bambus: o prédio central em
espiral e sem paredes, os painéis solares que geram 80% da eletricidade e os banheiros
de compostagem.
As crianças aprendem todo o processo de cultivo e preparação dos alimentos, além de
desenvolver novas habilidades, construindo estruturas com bambus e praticando artes
marciais balinesas antigas. O desenvolvimento das habilidades acadêmicas, como
alfabetização, matemática, artes e tecnologia, ocorre em paralelo ao desenvolvimento
das competências para o século XXI, como empatia, persistência, pensamento criativo
e crítico e colaboração.
Solar-powered Floating Schools, as escolas flutuantes de Bangladesh, na Ásia, são uma
mistura de ônibus escolares e escolas. Barcos, que pegam os estudantes em aldeias
ribeirinhas isoladas ou regiões atingidas por enchentes, atracam em um local e dão
aulas no próprio barco. Depois, levam os alunos de volta para casa e se dirigem para
buscar outro grupo. Com esse ritmo, eles conseguem realizar, pelo menos, três aulas
por dia para alunos da educação básica. Como possuem energia solar, também dão
aulas à noite para aqueles que trabalham durante o dia.
Essas escolas-barco costumam ter um espaço de ensino para 30 alunos com um
notebook conectado à internet e uma biblioteca. Crianças, jovens, adultos e idosos,
principalmente mulheres, aprendem a usar o computador e obter informações sobre
tópicos úteis para suas realidades, como nutrição, saúde, higiene, agricultura
sustentável, sistemas de comercialização de produtos e plantio de arroz e cana, que
resistem a enchentes que acontecem na região.
Para se ter noção da grandeza do projeto, a energia solar que sobra da geração dos
painéis das escolas-barco é distribuída para as famílias da região, em lâmpadas de
querosene transformadas em lâmpadas solares recarregáveis.
Devemos nos abrir para questionar o espaço como um todo, pois, às vezes, só precisamos de
um estalo para entender coisas muito simples, que nos provam que a escola não deve ser
encarada como um prédio separado do seu contexto.
Quando colocamos muros e configuramos a escola como aquela caixa isolada do
conhecimento, não consideramos que muitos momentos de aprendizagem importantes para
os estudantes também acontecem no seu entorno.
O jovem está aprendendo com a aula de piano na igreja, com o vizinho que ensina a construir
uma cadeira, com o grupo do bairro que se reúne para realizar ações ecológicas pela região,
com o blog que o estudante criou para compartilhar suas angústias, os vídeos que faz,
mostrando situações engraçadas, e inúmeras atividades nas quais a aprendizagem está
presente.
A escola precisa ser encarada como uma parte vital do ecossistema de uma determinada
região, o coração pulsante de toda a comunidade. A interação entre todos os atores daquele
entorno é fundamental para que o aluno compreenda sua importância para a sociedade.
Ideia! Não é fácil sair derrubando muros e paredes de uma escola, então, comece
derrubando suas paredes internas. Repense a configuração da sua sala de aula e
agrupe seus estudantes com as carteiras não mais voltadas para o quadro, mas para
eles mesmos. Teste várias configurações, até encontrar aquela que propicie a melhor
interação entre todos.
Quando 20 computadores foram roubados da EMEF Campos Salles, o então diretor,
Braz Nogueira, envolveu a comunidade no problema, de tal forma que todos os
aparelhos foram devolvidos. Após esse episódio, ele resolveu derrubar os muros que
separavam a escola da comunidade, por ter entendido que ambas deviam ser
compreendidas como uma coisa só. Segundo Braz, são "os muros que nos deixam
fragilizados". Depois do muro da frente derrubado, o próximo passo foi acabar com a
"pedagogia da maçaneta": os professores se trancavam na sala de aula, sentindo-se
proprietários daquelas classes. Inspirado pela Escola da Ponte, ele mandou derrubar as
paredes das salas de aula, criando os salões.
A escola Into the Woods, do Reino Unido, traz uma proposta diferente das creches
sem paredes. Não utiliza salas de aula e tem aulas ao ar livre, apostando em três
grandes benefícios para a aprendizagem, estabelecidos no trabalho da autora Helen
Bilton (“Playing Outside”): estar do lado de fora é um ambiente natural para as
crianças; o ambiente em que trabalhamos e brincamos afeta nossas emoções; e o ar
livre é o lugar perfeito para aprender por meio do movimento, que é um dos quatro
veículos pelo quais as crianças aprendem. A aprendizagem está em tudo e envolve
também o cuidado com o espaço, ou seja, um cuidado com o meio ambiente.
Um exemplo ainda mais próximo é a Escola de Educação Infantil Cisne Branco, que fica
em Viamão, no Rio Grande do Sul, onde a direção faz um excelente trabalho
envolvendo a comunidade, que tem ajudado a remodelar os espaços externos da
escola, valorizando a questão ambiental. A unidade, que atende crianças de 3 a 5 anos,
tem aulas de horticultura e jardinagem, incentivando desde muito cedo a importância
da reciclagem.
Outro exemplo incrível é o método de Sugata Mitra, na Índia, onde um grupo de
tutores fica disponível no Skype para esclarecer dúvidas, propor debates e dar apoio
aos alunos. Com essa forma de estudos, eles exercitam a imaginação e a criatividade,
fazendo grandes perguntas e se conectando pela internet com uma equipe global de
mediadores voluntários, conhecidos como grannies (vovós). O aprendizado acontece acontece de forma espontânea nesses ambientes, propositadamente caóticos.
The Solar Bus, na Grécia, uma experiência educacional diferenciada, mostra ser
possível aprender por meio de viagens, como um processo vivencial e experimental. Os
principais objetivos pedagógicos dessa iniciativa são desenvolver nos estudantes
proatividade, senso de sustentabilidade, cidadania e valorização da identidade cultural
para além do seu país e dos possíveis locais onde se hospedem.
O método que eles implementam incentiva o trabalho individual e em grupo,
familiarizando os alunos com diferentes formas de pesquisa, análise, classificação e
processamento de dados, além de visitas a campo para observação crítica e criativa,
fotografia e criação de pinturas com performances visuais e artísticas dos monumentos
de importância histórica e cultural. Ao final de cada visita, os dados são tratados e os
alunos preparam apresentações. Existem questionários para avaliar o progresso e
redefinir metas. Todas as atividades são publicadas no site da iniciativa, onde os
estudantes costumam escrever contos com elementos teatrais e diálogos.
Passo a passo
Para enfrentar eventuais resistências e conseguir um alinhamento básico, promova uma
conversa com toda a equipe escolar. A ideia é colocar em debate algumas questões:
- Como eram as carteiras de antigamente? E as de hoje? Por que carteiras para a pré- escola são diferentes das do ensino fundamental e do ensino universitário?
- Por que trocamos a lousa de pedra pelos quadros negros? Por que estamos trocando os quadros negros por quadros de pincel a tinta? Por que estamos trocando os quadros de pincel a tinta pelas lousas digitais?
- Entendemos que espaço escolar é uma coisa e espaço educativo é outra?
- Acreditamos que educação pode acontecer independentemente dos limites físicos do prédio da escola? Ou seja, que o espaço educativo ultrapassa o limite físico das salas e alcança áreas abertas e o entorno da escola?
- Por que queremos transformar nosso ambiente escolar? Que benefícios isso vai nos trazer?
- O uso adequado dos mais variados espaços da escola facilita o sucesso pedagógico?
- Temos autonomia para fazer transformações no espaço da escola?
- Vamos fazer mudanças mais radicais ou menos radicais?
- Pesquisar na internet sobre o que é, quem já faz etc.
- Envolver o maior número possível de pessoas no processo
- Não se preocupe em criar um espaço perfeitinho, o que mais importa aqui é o processo e não o produto
- Buscar os equipamentos: pode ser por doação de dispositivos novos ou reciclados (impressoras, PCs, Lego, sensores, motores, luzes, módulos eletrônicos para os alunos montarem circuitos etc.). Faça uma campanha!
- Transformar o ensino: o espaço novo propicia novas formas de ensinar. Ouse!
Saiba mais sobre espaço maker, acessando estes links:
http://fundacaotelefonica.org.br/noticias/o-movimento-maker-e-a-educacao-como-fab-labs-e-makerspaces-podem-contribuir-com-o-aprender/
http://porvir.org/como-construir-um-espaco-maker-inclusivo/
http://www.minhabiblioteca.com.br/4-dicas-para-transformar-uma-biblioteca-em-um-espaco-maker/
O uso inusitado de alguns espaços acaba revelando suas potencialidades e evidenciando
possibilidades de realização de outras atividades.
Aqui estão algumas delas:
http://porvir.org/como-construir-um-espaco-maker-inclusivo/
http://www.minhabiblioteca.com.br/4-dicas-para-transformar-uma-biblioteca-em-um-espaco-maker/
- Na entrada da escola, quase sempre tem um saguão, muitas vezes amplo. Nele pode funcionar uma oficina de arte e espaço para exposições
- O refeitório, fora do horário das refeições, ficará melhor utilizado se, por exemplo, servir a reuniões de alunos, assembleias, oficinas etc.
- Corredores ganharão nova “vida” se transformados em espaços lúdicos ou de convivência, usando soluções bem simples, como:
-
- Colocar mesas, cadeiras ou bancos
- Instalar pequenas prateleiras ou caixotes para que materiais fiquem à disposição dos alunos
- Na escola tem árvores e sombra na parte externa? Então, coloque mesas (ou improvise com cavaletes e tábuas de madeira) para que os alunos ganhem um ótimo lugar de convivência e interação
Ideia! Vale lembrar que todo espaço é espaço! Até aquele corredor que não serve para
nada vira um lugar de aprendizagem. Dá para usar a parede como “Mural
Colaborativo”, como na Escola da Ponte, onde os estudantes escrevem se precisam de
ajuda, se podem colaborar uns com os outros, colocam dicas e compartilham
interesses. Mais legal ainda para o processo de aprendizagem é deixar os alunos como
responsáveis pelos lugares, tanto na manutenção quanto na supervisão do que for ali
utilizado (a atualização do mural, por exemplo).
Os espaços diferenciados, como chamamos aqui, devem servir ao processo de aprendizagem,
porque esse é o seu grande objetivo. Quebre seus muros internos e olhe para o espaço como
uma extensão das práticas de aprendizagem que pretende implementar.