Elas lutam por respeito, preservação e valorização da cultura de seus povos; conheça lideranças indígenas femininas
“A gente demorou muito tempo para descobrir nossos direitos de mulheres indígenas. As pessoas têm que ter respeito pela gente e a gente tem que garantir um futuro melhor para nossas crianças. As principais reivindicações que temos é na demarcação de terra, mas entra também saúde, educação, saneamento básico, uma vida melhor”.
As palavras acima são de Maria dos Santos, que pertence ao grupo Guarani Kaiowá de São Paulo. É um dos vários depoimentos do documentário da ONU Brasil sobre o projeto Voz das Mulheres Indígenas, que incentiva o empoderamento das mulheres de mais de cem povos diferentes, bem como sua participação política em todas as esferas de decisão.
Embora seja um movimento recente, cada vez mais lideranças indígenas femininas tomam a frente na mobilização pelos direitos dos povos originários. E quem melhor do que elas mesmas para informar sobre o que está rolando por aí?
Separamos cinco perfis de mulheres indígenas para você conhecer e acompanhar. Confira a seguir:
Sônia Guajajara
Defesa de demarcação de terras, promoção de ações contra mudanças climáticas e imagens de encontros com lideranças indígenas fazem parte do dia a dia de Sônia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Integrante do povo Guajajara, no Maranhão, Sônia é uma das lideranças indígenas mais conhecidas no Brasil, inclusive por ecoar a voz e a luta dos povos originários em veículos e diversos eventos internacionais, como a Conferência do Clima em Paris e o Conselho dos Direitos Humanos da ONU.
Cristine Takuá
Educadora, filósofa e artesã indígena, Cristine integra a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), organização indígena que congrega coletivos do povo guarani das regiões sul esudeste do Brasil engajados na luta pelo território.
É também fundadora do Fórum de Articulação dos Professores Indígenas de São Paulo (Fapisp) e representante do Núcleo de Educação Indígena da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
Além de lecionar em escolas indígenas, ela roda o Brasil para difundir as maneiras de pensar de seu povo sobre comunicação, ciência, espiritualidade, artes e respeito pela terra.
Renata Machado Tupinambá
Integrante do povo Tupinambá, na Bahia, Renata é jornalista, poeta, roteirista e produtora. Atua com etno jornalismo e ciberativismo indígena e foi uma das fundadoras da Rádio Yandê, a primeira rádio online indígena do Brasil, criada em 2013. Ajudou também a criar o Projeto Índio Educa, voltado a alunos e professores do Ensino Médio e do Fundamental.
“Se a gente trabalha a comunicação copiando o formato jornalístico ou um formato padrão, a gente rompe um pouco com a nossa identidade na hora de comunicar. E é ela que traz força à nossa comunicação”, declarou em entrevista ao site Povos Indígenas do Brasil.
Daiara Tukano
“Índio não existe. A ideia de índio como uma coisa só não corresponde à realidade. Somos mais de 325 povos, falamos mais de 180 línguas. Somos civilizações à parte, com identidade, histórias e culturas únicas. Toda essa diversidade não cabe na palavra índio”, declarou Daiara em entrevista ao jornal O Globo.
Integrante do povo Tukano, que vive entre o Amazonas, Colômbia e Venezuela, ela é professora, artista plástica e mestre em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília (UNB). Foi uma das organizações do movimento feminista internacional Marcha Mundial das Mulheres, colocando a pauta indígena em discussão.
Além de expor e vender as artes que produz, Daiara desenvolve atividades de valorização da cultura indígena para grupos em escolas, universidades ou organizações sociais.
Célia Xakriabá
“A melhor ferramenta que tive para a aprendizagem não foi o giz, mas a luta”, afirmou ao site Azmina, Célia, integrante dos Xakriabá, do norte de Minas Gerais. Professora e ativista, é a primeira indígena a representar os povos tradicionais na secretaria de educação desse Estado. Foi também responsável pela implantação a disciplina Cultura Xabriabá para a preservação da memória e identidade desse povo.
Além da reestruturação do sistema educacional de modo a abarcar a diversidade de origens e etnias no Brasil, suas lutas também são direcionadas à demarcação de terra e ao apoio às mulheres e juventudes indígenas.