Escuta ativa, investimento nas juventudes e atuação em rede são algumas das possibilidades discutidas por pensadores, ativistas e educadores na 3ª edição do Seminário de Inovação Educativa, em São Paulo
A Fundação Telefônica Vivo promoveu na última semana, em parceria com o jornal Folha de S.Paulo, a 3ª edição do Seminário de Inovação Educativa, em São Paulo. Durante duas manhãs, especialistas, educadores, ativistas e secretários municipais se reuniram para discutir possíveis caminhos para uma educação disruptiva. O evento partiu de três eixos principais: juventude, futuro do trabalho e atuação em rede.
“Mais do que levar tablet para as salas de aula, inovação educativa engloba práticas que consideram a educação para a vida, são modelos que permitem maior empoderamento do aluno e do professor, flexibilidade dos espaços e currículos e gestão engajada”, definiu Americo Mattar, diretor presidente da Fundação, que apresentou à plateia os resultados da recém-lançada pesquisa Juventude Conectada, edição especial de empreendedorismo.
Olha a onda!
Durante o 3º Seminário de Inovação Educativa ocorreu o lançamento oficial do Movimento de Inovação na Educação (MIE), uma iniciativa integradora de redes, escolas, profissionais, ativistas e iniciativas sociais pela transformação da educação.
“Tenho certeza do sucesso desse movimento. Esse é mais um passo que a gente precisava dar rumo à educação de qualidade”, completou Mila Gonçalves, gerente de Programas Sociais da Fundação.
“É um espaço com informações de qualidade, iniciativas inspiradoras e bons contatos, afinal a transformação da educação é obra coletiva”, explicou Natacha Costa, diretora-geral da Associação Cidade Escola Aprendiz, que é responsável pelo MIE junto com a Fundação Telefônica Vivo e com a Ashoka.
Confira abaixo 7 caminhos que emergiram das discussões e que apresentam algumas alternativas para o futuro da educação:
1) Igualdade de oportunidades deve nortear a inovação
“Quantos Mozarts nós estamos matando no Brasil?”, questionou Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, filósofo e professor da Universidade de São Paulo, ressaltando que somente 1/3 da população brasileira tem oportunidades educacionais.
Segundo o filósofo, a aprendizagem mais efetiva é a que prepara para a vida. “Toda matéria ensinada no Ensino Médio que o aluno esquece depois de formado foi um conteúdo inútil. Temos de pensar em outras formas de ensino”, decreta. Isso passa pela necessidade de desenvolver competências emocionais e comportamentais.
A ideia é reforçada pela pesquisa Juventude Conectada, edição especial Empreendedorismo, apresentada na mesa O jovem no centro da cena, por Americo Mattar. “Um dos pontos que chamou a atenção na pesquisa é que a escola não está ensinando aos jovens as competências para a vida. 80% dos entrevistados disseram que aprendem sozinhos sobre empreendedorismo, que é um conteúdo fundamental para o mundo de hoje”, anunciou o diretor presidente da Fundação Telefônica Vivo.
2) É fundamental criar espaços de escuta
Para André Lázaro, secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, a ocupação das escolas pelos estudantes em 2016 foi a maior inovação recente da educação. “Esse movimento sinalizou uma coisa: os jovens talvez não saibam a educação que querem, mas sabem a escola que querem e é uma em que possam ser ouvidos”, disse durante sua apresentação.
Ivana Maia Santos, de 17 anos, ressaltou a alegria de participar do Pense Grande – que difunde a cultura empreendedora voltada para impacto social – justamente pelo espaço de escuta. “É o momento que o jovem tem para falar o que quer, para refletir sobre seus sonhos e objetivos”, afirmou a jovem que está desenvolvendo com seus colegas da escola Norma Ribeiro (CENOR), atendida pelos programas da Fundação Telefônica Vivo Inova Escola e Pense Grande, um projeto para erradicar a pobreza.
3) Criar espaços para estimular a potência das juventudes
“Entendemos a adolescência como uma grande oportunidade de aprendizagem, já que é uma etapa de construção de identidade, conquista de autonomia, ampliação de referências intelectuais, afetivas e sociais”, explicou Gabriela Mora, representante da Unicef no Brasil.
“É muito importante investir nessa fase para consolidar conquistas. E uma das maneiras de fazer isso é fomentar a participação dos jovens na escola, na família, na vida, na sociedade”, disse Gabriela. Isso pode ser feito não só incentivando os grêmios, mas também por meio de coletivos jovens e apoio a políticas públicas que promovam o desenvolvimento de qualidade.
4) Diversidade, respeito e inclusão como pré-requisitos
Stephanie Ribeiro, arquiteta e ativista do movimento feminista negro, relatou à plateia os desafios de cursar uma faculdade particular. “Sou uma mulher negra saída da periferia de uma cidade onde as meninas são mães jovens e têm poucas oportunidades. Ter entrado na universidade foi revolucionário na minha narrativa e na da minha família”, disse.
A jovem de 25 anos apelou às redes sociais para lidar com o choque de ter se visto sozinha enfrentando atitudes racistas, machistas e de preconceito contra cotistas. “Defendo muito a inclusão da diversidade nos espaços reservados para poucos e que, muitas vezes, são hostis. Aí fica a reflexão: não adianta ter a oportunidade de estar nesses espaços se não consigo permanecer financeira e psicologicamente. Temos de promover mais diversidade”, defendeu a ativista, que foi aplaudida de pé.
5) É preciso lidar com o futuro
Na mesa O futuro do trabalho: o que vem por aí, Lucas Robertto Batista, do Digital Labs da Vivo, pôs em pauta que o caótico é o novo normal. “Vivemos num mundo volátil, incerto e ambíguo, de modo que temos de aprender a conviver, a trabalhar, a viver sem nenhum tipo de certeza. Como preparar as pessoas para isso?”, questionou levantando o dado de que 30% das profissões essenciais no futuro ainda não existem.
A futurista Rosa Alegria, diretora da The Millennium Project, maior rede de pesquisadores sobre o futuro, questionou o que estamos fazendo para que nossas crianças vivam felizes nos próximos anos: “nós ainda estamos ensinando nossos jovens a olhar para o retrovisor, quando, na verdade, a educação precisa dar ferramentas para que eles lidem com esse futuro incerto”.
6) Inovação em rede é mais potente
Janaína Barros, professora e formadora do Instituto Chapada, na Bahia, destacou que a atuação em vários grupos a ajuda a se transformar. “Uma das vantagens de estar em rede é aprender a furar a bolha, além de me colocar em contato com novos conhecimentos e perspectivas, facilitar o meu trabalho e aumentar a visibilidade dos meus projetos”, definiu a professora.
Já Marcela Oliveira, diretora da escola André Urani / GENTE, do Rio de Janeiro e que também integra o programa Inova Escola, relatou como as redes sociais foram importantes para manter o interesse dos alunos pela escola no período sem aulas devido à intervenção miliar na Rocinha, onde está localizada.
“O Facebook passou a ser nossa principal forma de comunicação com os alunos e com os pais e depositório de atividades. Em pouco tempo, tivemos um boom de acessos. A facilidade de acesso à escola fez com que os pais começassem a participar mais ativamente e os adolescentes passassem a nos valorizar ainda mais. Tanto que tenho orgulho de dizer que terminamos 2017 sem evasão escolar”, relatou.
7) Inspiração em quem está se reinventando
O secretário municipal de Segurança Urbana de Recife (PE), Murilo Cavalcanti, apresentou as mudanças promovidas por Medellín, na Colômbia, que passou de cidade mais violenta do mundo à mais inovadora, graças a investimentos em educação.
Inspirado neste modelo, Recife criou, em 2016, o Centro Comunitário da Paz – Compaz, com o objetivo de garantir inclusão social e fortalecimento comunitário. Além do governo do estado, há atuação de dez secretarias para que o aparato funcione, oferecendo cultura, esporte, curso de línguas, atendimento de saúde e educação, especialmente para a primeira infância. “Toda nova política tem que começar com a pergunta: em qual cidade nós queremos que as nossas crianças vivam? É assim que começamos a transformar as coisas”, defendeu o secretário.