Educação antirracista e uso da tecnologia na educação foram alguns dos temas de destaque do 7° Congresso da Jeduca. A Fundação Telefônica Vivo foi uma das patrocinadoras do evento
A reflexão sobre como o jornalismo pode contribuir para o avanço de uma sociedade mais desenvolvida, democrática, justa e pacífica pautou a programação do 7° Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação). O evento ocorreu nos dias 18 e 19 de setembro, em São Paulo (SP), com a participação de jornalistas, comunicadores, estudantes, pesquisadores e educadores de todo o país.
A fim de dar luz a temas relevantes para a educação brasileira e que estão em evidência nos noticiários, os debates abordaram questões como educação antirracista, violência nas escolas, uso da tecnologia na educação, entre outras.
Uma vez que essas temáticas afetam a vida de milhares de pessoas, a mesa “Educação como transformação da sociedade” discorreu sobre como a educação pode contribuir com uma sociedade mais justa e democrática.
“O Brasil fez uma rápida inclusão de crianças na escola. Em 2.000, os quatro primeiros anos do Ensino Básico estavam universalizados e em 2.010 os nove primeiros anos. Mas quando o acesso parecia ter sido um desafio bem trilhado, o gasto por aluno continuou crescendo. E os resultados em aprendizagem não melhoraram”, relata Daniel Santos, da Universidade de São Paulo (USP). “Então, se uma criança não tem o seu bem-estar garantido na escola e não aprendeu a ler, esse é um problema de todos nós”, afirma.
Para Paulo Fochi, especialista em Educação Infantil (Unisinos), a Educação Infantil tem papel fundamental no desenvolvimento integral da criança. “Nos seis primeiros anos a criança deve ser estimulada a praticar e perguntar. Assim, chegarão ao Ensino Fundamental mais preparadas”, acredita.
Ao falar sobre antirracismo nas escolas, a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ynaê Lopes dos Santos, conta que passou a realizar a formação de professores e produzir materiais didáticos quando conheceu estudantes e docentes de escolas de elite que não conheciam a História Africana. “Isso me fez pensar em sobre como fazer o diálogo entre academia e escola, para apoiar professores que precisam ensinar esse tema. Mas a universidade se tornou um espaço de privilégio e ela precisa ampliar seu diálogo”, declara.
Educação antirracista: a voz preta na história
Tiago Rogero, Renata Cafardo (mediadora) e Nikole Hanna-Jones
Tiago Rogero, autor do podcast Projeto Querino (Rádio Novelo), e Nikole Hanna-Jones, autora de The 1619 Project (The New York Times Magazine), participaram da mesa que debateu sobre como o jornalismo pode contribuir para uma educação antirracista. “É possível fazer coisas simples, como buscar por pessoas negras falando sobre o tema em questão. É um esforço de busca ativa”, afirma Tiago. Para Nikole, o papel do jornalista de educação é reportar a realidade vivida pelas escolas e cobrar as autoridades. “Se alunos nas escolas não estão recebendo o que deveriam, então cobrimos essa pauta porque as instituições devem cumprir o seu papel. E se você não entende a dinâmica racial, a sua cobertura jornalística será superficial”, declara.
O uso da tecnologia nas escolas
Em meio a um mundo altamente tecnológico, mas que por conta das desigualdades sociais ainda não possibilita o acesso à tecnologia para todos, os dilemas sobre o uso da tecnologia na educação foram um tema essencial no 7° Congresso da Jeduca.
“No Brasil as desigualdades são enormes. Então, é difícil saber quantos alunos têm acesso a computadores na escola. E se eles não usam na escola, dificilmente usam em casa”, declara Lucia Dellagnelo, consultora da Unesco. “Mas uma pesquisa inédita que será lançada pela TIC Educação mostra que conseguimos nos últimos anos reduzir essa desigualdade, com mais escolas com computadores disponíveis. O grande desafio que teremos é a questão da competência digital dos professores e estudantes, para saberem usar esses equipamentos em prol da aprendizagem”, acrescenta.
Sobre o uso de materiais didáticos impressos ou digitais em sala de aula, Juliane Cintra, líder do projeto TECLA – Tecnologia em Ação, afirma que é necessária a reflexão sobre a relação dos materiais com os territórios. “É menos sobre a plataforma a ser usada e mais sobre as necessidades reais dos territórios e dos sujeitos”. Lucia Dellagnelo defende que “não se discute as vantagens e desvantagens de cada tipo de material. O tipo de aprendizagem é diferente.”
E como fica o uso do Chat GPT na educação?
Após a reprodução de áudios de estudantes relatando como usam no dia a dia escolar o Chat GPT, Claudio Miceli de Farias, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comenta que é preciso atenção aos conteúdos gerados por meio dessa ferramenta. “É mais uma ferramenta no processo de construção de conhecimento, que precisa ser usada pelos alunos com consciência. Ou seja, é uma nova tecnologia que, sem o docente como um curador de informação, ela não existe em sala de aula”. Por outro lado, Lucia Dellagnelo defende o uso da ferramenta em dinâmicas de avaliação. “Que venha para acabar com a cultura de avaliação em que o aluno repete o que o professor disse. Não é só repetir conhecimento, mas sim mobilizar o aluno para a solução de problemas reais. Assim, o Chat GPT será bom a depender da intencionalidade com que será usado”, conclui.
A educação e a violência nas escolas na pauta do dia
Jornalistas de economia e de política participaram do 7° Congresso da Jeduca para falar sobre como é possível inserir a educação nas reportagens dessas editorias. “Fazemos uma cobertura transversal sobre políticas públicas em outras matérias. Mas também temos de educar as pessoas sobre determinados assuntos”, explica Fernando Torres, do Valor Econômico. O debate do painel “A educação na pauta do dia” contou com a participação de Basília Rodrigues, da CNN Brasil, Thais Bilenky, da revista Piauí, e Adriana Fernandes, repórter do Estadão.
“De fato, a pandemia mudou o olhar dos repórteres de economia para a pauta social. Mas quando a educação entra na pauta econômica é sempre sobre cortes, sem o lado mais humano”, afirma Adriana.
Já o painel “Para além dos ataques: como professores lidam com tensões frequentes e violência na escola” abordou o tema que ganhou os noticiários e se tornou uma das grandes preocupações da educação brasileira.
Uma das participantes foi Cinthia Barbosa, professora que conteve o autor do ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, em março. De acordo com ela, o professor deve dar suporte para que o aluno viva em sociedade. “Eu uso o esporte como ferramenta para combater o bullying. Mas não são todas as crianças e adolescentes que se identificam com o esporte. Por isso, a família e a escola precisam estar presentes e juntas para melhorar esse cenário”, diz.
O professor Erison Lima, de Manaus (AM), contou que com o projeto Clube do Silêncio, aplicado na escola onde atua, passou a ouvir os alunos. “Uma vez que o professor se interessa pelas experiências do aluno, ele vai tentar montar estratégias para abordar as suas questões”, declara.
“Sem dúvida, é preciso mudar a realidade da escola a partir da escuta e do apoio aos estudantes. Porque uma escola rica em projetos, que incentiva o talento de cada estudante será vista com carinho”, aponta a professora Celiana Moroso, do Distrito Federal.
Adriana Fernandes, Thais Bilenky, José Brito (mediador), Basília Rodrigues e Fernando Torres
Celiana Moroso, Cinthia Barbosa, Erison Lima e a mediadora Tatiana Klix
Ministro da Educação fala sobre mudanças no Novo Ensino Médio
Em entrevista coletiva durante o 7° Congresso da Jeduca, o Ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou que será encaminhado para a Câmara dos Deputados o projeto de lei sobre uma bolsa-auxílio para estudantes do Ensino Médio. “A fim de não perdemos nenhum aluno ao longo da Educação Básica”, declara. O Ministro disse que as mudanças e melhorias para o Novo Ensino Médio, levantadas após consulta pública realizada este ano, não serão aplicadas em 2024. “isto é, haverá um período de transição. Mas a consulta pública foi além da questão curricular e identificou que 80% dos jovens dizem querer o Ensino Profissionalizante Técnico (EPT). Nesse sentido, vamos estimular o EPT integral”, afirma. Além disso, as mudanças previstas para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também não irão ocorrer no próximo ano, segundo o Ministro.