De maneira lúdica, quadrinhos podem ser usados em sala de aula para aproximar estudantes dos mais diversos contextos sociais
As passagens históricas e a forma como interagimos em sociedade podem ser trabalhadas de diversas formas com estudantes. Para além do conteúdo das disciplinas, as histórias em quadrinho (HQs) ilustram fatos históricos e transformam a realidade em uma narrativa lúdica. Mesmo partindo da ficção, podem explicar o que acontece no mundo.
Além da linguagem acessível e imagens que facilitam a interpretação do contexto, este tipo de linguagem apresenta uma variedade temática que permite utilizá-los como complemento no processo de ensino-aprendizagem.
Pensando nessa aproximação entre os estudantes e o debate social, reunimos 8 HQs para debater sobre sociedade em sala de aula:
Judeus são representados como ratos, nazistas como gatos. Com essa alegoria, o cartunista Art Spiegelman faz retratos a partir de relatos reais de seu pai, um judeu polonês que sobreviveu ao Holocausto. Em suas páginas, Maus traz as nuances da guerra e as marcas que atravessam gerações. Lançada em 1980, a graphic novel é um marco por ter sido a única história em quadrinhos a receber um prêmio Pulitzer, e permanece atual na linguagem e nas ilustrações, ensinando sobre uma passagem intensa da História.
As Aventuras de Tintim é uma das HQs que mais ganha adaptações, sobretudo no cinema. Escrita em 1929 pelo autor belga Hergé, a narrativa acompanha o jornalista Tintim e seu fiel companheiro, o cão Milu, em viagens pelo mundo. Ao narrar e solucionar casos misteriosos, os personagens passam por diversas situações políticas e culturais, proporcionando um debate crítico sobre a sociedade.
Em 1979, a jovem Marjane Satrapi vivenciou fatos históricos que transformaram o Irã em uma república islâmica teocrática. Tal mudança gerou profundos questionamentos na garota, que mais tarde registraria na graphic novel Persépolis sua trajetória e complexa relação com seu país natal.
Embora o pano de fundo seja a chamada Revolução Iraniana, a narrativa de Marjane usa todos os elementos dos quadrinhos e um texto divertido, extremamente didático, abordando também temas como adolescência, relacionamentos e ideologias.
Mafalda, personagem icônica que nasceu na década de 1960, se popularizou pelas tirinhas sarcásticas e críticas da sociedade. O cartunista argentino Quino foi o responsável por dar voz à garota de seis anos, que apesar de ter hábitos típicos de uma criança, já desenvolveu empatia suficiente pelo mundo e busca interpretá-lo para os seus amigos e familiares.
O livro Toda Mafalda, lançado em 2010, reúne as tirinhas mais famosas já publicadas. Ágil e divertida, Mafalda provoca risadas ao mesmo tempo em que reflete sobre a humanidade.
Um governo totalitário que adota medidas de controle da população domina o futuro narrado em V de Vingança. Depois de uma guerra nuclear, o regime passa a restringir a mídia e cria campos de concentração para minorias raciais e sexuais. É neste contexto que “V”, o personagem principal, encoraja um golpe.
O quadrinho desenhado por David Lloyd e escrito por Alan Moore lançou ao mundo a famosa máscara com a feição de Guy Fawkes e foi inspirado especialmente no contexto vivido na Inglaterra em 1982. Sob a liderança de Margaret Thatcher, o país assistia o regime socialista da URSS entrar em decadência.
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O Essencial de Calvin e Haroldo
Ainda no universo das tirinhas, mais uma criança de seis anos figura como crítico do comportamento humano, em companhia de seu melhor amigo, o tigre imaginário Haroldo. Ilustrado e escrito por Bill Watterson, a partir de 1985, conta as aventuras e pinta cenários divertidos imaginados pelos dois para fugir da monotonia.
A coletânea O Essencial de Calvin e Haroldo, publicada pela Conrad, reúne passagens icônicas da série, apresentando a relação de Calvin com seus pais e dá espaço a uma visão sobre a sociedade e as atitudes dos personagens pelo caminho.
Você já deve ter ouvido falar de Jean Grey, Wolverine, Tempestade e outros heróis que fazem parte da escola especial do Professor Xavier. A série de histórias em quadrinho dos X-Men é aclamada pela cultura pop.
No volume Deus Ama, o Homem Mata, os mutantes representam parcela da sociedade que sofre preconceito por ter poderes. A situação se agrava com William Stryker, um reverendo que se autodescreve como “um homem de Deus” e anuncia uma caçada aos mutantes. Escrito por Chris Claremont e desenhado por Brent Anderson, o quadrinho retrata disputas políticas, regimes segregacionistas e traça paralelo com temas como racismo, diversidade e homofobia.
Lançada em 2014 pelo brasileiro Marcelo D’Salete, Cumbe remonta o período colonial no Brasil e ilustra a trajetória de luta dos negros escravizados com o objetivo de repensar a configuração atual da nossa sociedade. O quadrinho foi inspirado em pesquisas do autor, que buscou mostrar as tensões de uma sociedade pautada na violência, e foi premiado com o Eisner Awards em 2018.