Conheça mais sobre o Art of Hosting, prática que propõe soluções coletivas a partir do diálogo, e saiba como aplicá-lo na educação
“A arte de anfitriar”, como se traduz para o português, é o estudo sobre os processos por trás de uma característica essencialmente humana: a comunicação. Trata-se de buscar um equilíbrio entre os modelos organizacionais já existentes e a inovação. Em outras palavras, o intuito é encontrar soluções coletivas para problemas complexos.
Word Café, Open Space, Investigação Apreciativa são algumas das metodologias utilizadas para gerar integração entre grupos e comunidades. Tudo começa com um convite a participação. Movidas por objetivos em comum, pessoas diferentes se reúnem com a intenção de resolver problemas e tomar decisões.
Geralmente posicionadas em círculos, revezam-se no papel de liderança, convidando umas às outras a expressarem suas vozes e ideias a partir de perguntas-chave bem definidas. O fio condutor? O diálogo. É assim que a prática do Art of Hosting (AoH) investiga as possibilidades de colher, a partir de conversas relevantes, resultados colaborativos nos mais diversos setores da sociedade.
“Todos os seres humanos conversam o tempo todo. A diferença do que propomos é pensar, com intencionalidade, na criação de um espaço de diálogo que faça perguntas relevantes e colha resultados a partir da integração. O Art of Hosting é onde todas essas tecnologias sociais se encontram, costuradas por princípios”, define Tamara Azevedo, uma das representantes da rede no Brasil e co-fundadora da CoCriar, iniciativa que promove espaços de colaboração coletiva nas organizações.
Para além de um conjunto de metodologias conversacionais, o Art of Hosting é uma comunidade livre e aberta para qualquer pessoa interessada em aprimorar habilidades e competências dialógicas. Desde educadores até lideranças de grandes empresas e organizações, basta procurar por um encontro local e colocar em prática as técnicas ensinadas pelos anfitriões.
Onde nasceu o AoH?
Segundo Kathy Jourdain, uma das representantes da rede no Canadá, as primeiras reuniões da comunidade Art of Hosting aconteceram na Europa do século XX, onde grupos de profissionais se uniram para investigar e trocar experiências sobre como criar condições ideais para aproveitar o potencial organizacional humano. Juntos, identificaram a liderança compartilhada, a participação voluntária e a inteligência coletiva como princípios norteadores de uma prática que utiliza as habilidades socioemocionais a favor dos resultados desejados pela comunidade.
A partir desses encontros, os times de anfitriões passaram a multiplicar essas tecnologias sociais para outros grupos, que por sua vez, contribuíram com novas ideias. Dessa forma, a rede cresceu até ganhar representantes em todos os continentes do globo. Sem hierarquias ou lideranças definidas, não existe uma estrutura reguladora da metodologia. Os encontros são gratuitos e organizados regionalmente.
Os estudos, treinamentos e agenda de eventos podem ser encontrados no site oficial ou no grupo da comunidade no Facebook.
Art of Hosting na educação
A educação pós-pandemia terá de lidar com problemas complexos. Muito se tem falado sobre a retomada das aulas presenciais e a importância de conduzir processos para garantir equidade, cuidar da saúde mental, inserir novas metodologias de aprendizagem e construir vínculos entre a comunidade escolar. Em meio a tantas recomendações, como o Art of Hosting pode potencializar essas práticas?
“O professor hoje está pressionado entre um currículo que precisa ser cumprido e uma humanização urgente neste momento. Pensando dentro dessas estruturas, sobretudo quando se fala em protagonismo do estudante e Ensino Híbrido, o diálogo abre uma janela enorme de possibilidades para o aprendizado”, responde Tamara Azevedo.
Confira algumas sugestões de como os educadores podem utilizar as metodologias do Art of Hosting na educação:
Um instrumento a favor da visão coletiva
Em tempos de alta complexidade, como no contexto atual de pandemia, a colaboração é essencial para garantir diversidade nas soluções encontradas para os mais variados setores da sociedade. Mas Tamara Azevedo alerta para a dificuldade de exercitar a co-criação na prática.
“Colaborar é muito importante em situações nas quais as relações de causa e consequência não são lineares. Mas, quando falamos em colaboração, estamos propondo juntar pessoas que pensam diferente e isso não é tarefa simples, podendo gerar polarização. A conversa estratégica entra nessa equação como um instrumento para ampliar a visão coletiva”, acrescenta a consultora.
Para ela, o primeiro passo é trazer para o debate pessoas que tenham influência no sistema em discussão, seja ele relacionado à educação, saúde, empreendedorismo, etc. Ao contrário do que se espera na maior parte das vezes, a decisão final não será baseada em consenso, mas sim na aproximação entre as perspectivas de mundo dos participantes.
“Ao transformar diálogos, impactamos também as possibilidades de inovação. Diante das diferenças, o importante é criar um espaço horizontal para convergir ideias em prol de um objetivo. A pergunta central é: Como gerar resultados e garantir a humanização dos processos ao mesmo tempo?”, resume Tamara.
Os 4 princípios do Art of Hosting
- Estar presente: Criar condições para que as pessoas sintam-se conectadas ao momento presente, deixando os estímulos e problemas externos em segundo plano.
- Praticar o diálogo: Não seria honesto pedir para que pessoas façam algo que você nunca fez. Para anfitriar, é preciso primeiro praticar com as ferramentas que pretende aplicar e observar os resultados em você mesmo.
- Anfitriar diálogos: Ao colher essas observações, é importante compartilhar com o grupo. Dessa forma, você também pratica habilidades de liderança e passa a ser anfitrião de um diálogo.
- Co-criar: Ter em mente que o objetivo é fazer com que todo o grupo esteja presente, pensando e expondo soluções e sugestões de como conduzir determinada atividade.