Crédito: Carolina Pezzoni
Por Carolina Pezzoni, do Promenino, com Cidade Escola Aprendiz
Quando a criança está no centro das experiências para a erradicação do trabalho infantil ou das políticas educacionais suas chances de sucesso são maiores. A premissa permeia todo o argumento do indiano vencedor do Nobel da Paz em 2014, Kailash Satyarthi, que, em sua primeira passagem pelo Brasil após receber o prêmio, falou a estudantes sobre o direito à educação como um direito fundamental às crianças e adolescentes e o único capaz de abrir as portas para todos os outros.
Durante o evento que aconteceu no Senac Lapa Scipião, promovido pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, em resposta ao Promenino sobre os recursos que poderiam tornar possíveis o Brasil erradicar suas piores formas de trabalho infantil até 2025, como foi acordado com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), Satyarthi ressaltou que somos um país líder em experimentar maneiras inovadoras de combater o trabalho infantil.
“Estive no Brasil quando foi lançado o Bolsa Escola. Depois, o presidente Lula expandiu o programa como Bolsa Família. E muitos países aprenderam com isso”, afirmou o ganhador do Nobel. Para ele, a diferença é que as crianças estavam no centro desses experimentos, por isso foram capazes de reduzir o trabalho infantil e ampliar a frequência e a retenção escolar. “Uma abordagem política integrada é um dos fundamentos por trás disso”, pontuou. No entanto, a seu ver, é um equívoco imaginar que, porque estão indo à escola, não existe mais um problema.
“Temos de pensar na qualidade. A privatização da educação é algo que está acontecendo no mundo todo. E o setor privado pode ser um parceiro do governo, mas vende um direito fundamental como commodity. Precisamos trazer de volta, para a linha de frente, a pauta de que ainda existem trabalho infantil e escravidão, usando a mídia, as mídias sociais”, acredita Kailash Satyarthi.
Em meio a esses esforços, está a reinauguração da campanha internacional: 100 milhões por 100 milhões. Ainda em fase de planejamento, a iniciativa permitirá que as pessoas criem petições e acessem com isso a comunidade internacional. O trabalho infantil, a violência contra a criança, o casamento precoce ou forçado, o uso do trabalho infantil na cadeia de produção (incorporando a responsabilidade corporativa), um maior investimento para a educação, o respeito às promessas de investimento na educação das crianças – estas são algumas das demandas pertinentes à plataforma, como relacionou Kailash. “Já falamos com vários líderes de mídias sociais, lideranças jovens, organizações de professores, e temos muito apoio para a ideia”, disse o líder indiano. A campanha será online e off-line (por meio de ocupações e marchas) e será lançada ainda em 2016.
No encontro, que contou com a presença e a participação de estudantes secundaristas da Escola Estadual Fernão Dias, ativistas da luta contra a reorganização escolar do governo de São Paulo, o vencedor do Nobel da Paz pediu para juntar-se ao movimento e disse que “tirava o chapéu” para eles. Revelou que ele próprio foi preso pela polícia aos 14 anos por ser contrário à imposição do inglês no currículo escolar e apanhou como eles.
“Vocês são tão maravilhosos, tão maravilhosos! O mundo todo precisa de jovens como vocês. Não só o Brasil, não só a América Latina. Vocês são um retrato dos nossos tempos. São heróis e têm toda a capacidade de lutar e ganhar. Já provaram isso da sua própria maneira. Vi bons amigos em vocês, então, se não se incomodarem, gostaria de me juntar ao movimento. Seria uma honra para mim”, concluiu o líder.