Destruir os muros físicos foi só uma das práticas do educador que sempre lutou contra os invisíveis: entre escola e bairro, aluno e professor, educação e cidadania.
Cabe um bairro dentro de uma escola? Pode ela ser o coração de uma comunidade e pulsar cidadania? Para Braz Nogueira, educador e diretor da Regional de Educação do Ipiranga, esses ideais são os preceitos que guiam o bairro de Heliópolis e da Escola Campus Salles, longe de serem utópicos. Se um bairro cabe dentro da escola, essa escola é a alma e corre pelas veias de quem ama lecionar.
Quando questionado sobre o porquê do magistério, Braz diz rindo que quase todos têm respostas bonitas para esse tipo de pergunta e que ele não: “Me tornar professor foi um tiro no escuro, foi por acaso”. Depois de uma frustrante experiência lecionando ensino religioso em uma escola particular, se descobriu encantado na rede pública, pois entrou em contato com os verdadeiros protagonistas dela: os alunos.
“Aprendi por lá que a criança é um ser competente e integral, capaz de tomar as decisões acertadas. Nasceu entre mim e eles uma relação de confiança”, explica. Trabalhando com os estudantes em atividades que ultrapassavam os espaços regulares da sala de aula, e também com os pais e professores, ele se deu conta de que tudo passa pela educação – ela é base de convívio, da formação de laços, do prazer de aprender. E que a instituição de ensino deve ser um centro de liderança da comunidade onde está inserida.
Quando passou em um concurso de diretor e escolheu dirigir a escola Campos Salles, ele sentia-se afetivamente relacionado com a origem simples e batalhadora da comunidade de Heliópolis. Viu-se frente a um grande desafio, do qual não poderia voltar atrás. “Pessoas disputavam o poder dentro do colégio, coisa que não entendo até hoje. Parecia que o local era dos professores e dos funcionários. O aluno, os pais e a comunidade eram detalhes”.
Então Braz mapeou as lideranças tanto do bairro quanto da escola e, com elas, costurou redes de cidadania e atuação. O lugar tornou-se conhecido e os primeiros muros, quebrados. Muros esses muito difíceis de serem marretados, por serem invisíveis. E ainda que tenha virado referência em termos de integração, o diretor entedia que o espaço que ele queria só aconteceria se os mecanismos tradicionais dentro dela mudassem.
“Era como mexer numa caixa de marimbondo”, falou sobre alterar as relações hierarquizadas dentro dos espaços pedagógicos. E ainda que existissem ações concretas, como atividades que aconteciam geridas por alunos, ele percebeu que era necessária uma mudança física e impactante: “Éramos ingênuos ao pensar que o professor ia mudar sua prática se o espaço se mantivesse da mesma forma. Não, teríamos que tirar as paredes, senão nossa luta seria em vão”.
Juntando-se a um grupo compromissado de educadores, Braz transformou 12 salas de aula em salões, implantando um sistema que funciona dependendo da colaboração de professores na elaboração dos projetos multidisciplinares que façam sentido para o aluno. É necessário lembrar que a escola é um espaço de integração e de luta contra o preconceito. Os estudantes também são responsáveis pelos seus semelhantes.
“Citando Helena Singer: uma escola para ser democrática precisa de duas coisas: a criança tem que participar do processo de tomada de decisões e tem que ir pra escola porque quer, porque deseja. Olha o desafio que a escola tem!”, finalizou. Mas quando nos deparamos com trajetórias como a dele, sentimos que é um desafio possível. O jovem gosta de ir para a escola a partir do momento em que se faz necessário para ela. E a escola que funciona com sua comunidade é sempre necessária.
Educadores como Braz são inspiradores e fazem repensar o papel do professor dentro da sala de aula. É na inovação dos sistemas tradicionais de ensino, na integração entre instituições de ensino, aluno e educador, que reside um futuro para a educação, que é também o futuro do país. Parabéns a todos os professores e professoras, e que o dia de vocês seja o ano inteiro!