Ferramentas como o SAEB, o Indeb e o PISA podem ser usadas como medidores de práticas inovadoras nas redes de ensino do país.
Ferramentas como o SAEB, o IDEB e o PISA podem ser usadas como medidores de práticas inovadoras nas redes de ensino do país.
Sobral é uma cidade de pouco mais de 200 mil habitantes, localizada no Ceará, de clima rarefeito como é característico da região. Ainda que seja geograficamente pequena, ela é pedagogicamente gigante: 11 das 51 escolas de sua rede municipal receberam o “Selo Excelência com Equidade” da Fundação Lemann e, em 2013, a cidade conquistou o quinto melhor Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB). É um resultado surpreendente, que coloca Sobral em perspectiva com outras cidades do Nordeste e também com ela própria – há 15 anos, metade de seus alunos 3º ano do fundamental era analfabeta.
As mudanças pedagógicas que permitiram o avanço dos índices em Sobral têm a ver com o investimento na formação do educador e com o fortalecimento de gestão escolar, além do processo de municipalização das escolas. Se hoje é possível determinar o que torna uma cidade pedagogicamente inovadora, e o que outras podem fazer para se tornar, é porque existem instrumentos de avaliação que se debruçam sobre a realidade escolar brasileira. Ferramentas como o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) mensuram como as escolas brasileiras estão formando seus estudantes.
“Quando o SAEB começou, em 1995, começou-se também a pensar em educação de qualidade no Brasil”, explica Ruben Klein, ex-presidente da ABAVE (Associação Brasileira de Avaliação Educacional). “Falar em melhoria de qualidade e não poder medi-la é vazio. Provas como SAEB dão uma amostra representativa de como está a rede, o que os alunos são capazes de fazer, como as escolas se articulam e que em escala de comparação elas estão entre si. Se existe uma intervenção, conseguimos monitorar sua eficácia.”
Entender a importância de medir uma educação de qualidade torna-se mais simples ante a compreensão de que a escola que alcança uma rede grande de alunos é um fenômeno de recentes proporções. “Se você olhar a história da educação brasileira, ela era para poucos. Não havia escolas, o ginasial tinha acesso restrito, e a escola pública também. Faz apenas 45 anos que a pedagogia brasileira começou a se expandir”, detalha Klein. O conceito de que é preciso não somente a educação, mas que ela seja de qualidade, também é recente. Investir na educação era construir prédios escolares e colocar os recursos humanos em segundo plano.
Os resultados obtidos por avaliações da educação brasileira são provas de que voltar o olhar para o educador e o aluno faz toda a diferença na qualidade. Ruben Klein ressalta alguns dos indicativos das avalições: o educador brasileiro sofre com a precarização da sua profissão, tanto no aspecto financeiro quanto na formação; a grande razão da evasão e da má qualidade do aluno no Ensino Médio funda-se justamente na falta de atenção ao Ensino Fundamental; e que práticas desenvolvidas em redes de ensino pequenas podem ensinar muito a políticas públicas voltadas para redes maiores.
Quando se tem estatísticas que mensurem o que há de precário em termos de qualidade, as mesmas também mostram quando práticas inovadoras causam bons resultados. É o caso de Sobral, colocando em perspectiva os índices do IDEB antes da reforma em sua educação e depois, percebem-se quais foram os indicadores responsáveis pela mudança – e isso pode servir de inspiração para outras redes. Esses dados estão disponíveis de maneira amigável não somente no site do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), como também no portal Devolutivas Pedagógicas das Avaliações de Larga Escala.
Para mensurar a qualidade de forma adequada, as ferramentas avaliativas também devem se renovar, procurando saber se o aluno não somente conhece conteúdos programáticos, mas tem as competências do século XXI necessárias para interpretar problemas e se relacionar com os conteúdos de forma analítica e integral. “São métodos adaptativos: as provas têm de se adequar ao aluno, não o contrário”, fala o especialista. Ele cita a própria concepção do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) como um modelo bastante inovador, por testar estudantes em perguntas com múltiplas áreas de compreensão.
Ruben Klein cita, ainda, as mudanças no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudante). A avaliação, em 2018, testará pela primeira vez conhecimentos em língua estrangeira e habilidades com relação à tecnologia, admitindo a importâncias dessas duas competências na formação do educando.