A partir da minha experiência como educador, entendo que o processo de alfabetização de crianças em ambiente escolar ainda é marcado por aulas com caráter simultâneo, onde o educando fica sentado escutando o que o educador fala. Apesar dos grandes avanços, tais como aumento do acesso de crianças à escola e inserção de políticas que visam a avaliação da qualidade do ensino, ainda se fazem necessárias mudanças e melhoria de resultados no Processo de Ensino Aprendizagem.
É importante ressaltar que a Lei de Diretrizes Básicas (LDB) garante o acesso de crianças, cada vez mais cedo, no ambiente escolar formal, representando um avanço na garantia de direitos. No entanto, é preciso que se reveja as práticas educativas, que na maioria das vezes, limita a criatividade, autoestima, autonomia e participação infantil, fundamentais para o desenvolvimento da criança.
Entendo que o processo de alfabetização de crianças deva ser realizado com prazer e construção e que a estratégia lúdica vem se configurando como uma importante ferramenta para o desenvolvimento infantil e aquisições formais.
Por meio de uma aula lúdica, o aluno é estimulado a desenvolver sua criatividade e não a produtividade, sendo sujeito do processo pedagógico. Por meio da brincadeira o aluno desperta o desejo do saber, a vontade de participar e a alegria da conquista. Quando a criança percebe que existe uma sistematização na proposta de uma atividade dinâmica e lúdica, a brincadeira passa a ser interessante e a concentração do aluno fica maior, assimilando os conteúdos com mais facilidades e naturalidade. (KISHIMOTO, 1994).
Para Piaget, os jogos são atividades que facilitam a trajetória interna da construção da inteligência e dos afetos, no instante em que se detiverem a seguinte indagação: “como o conhecimento é obtido, ou seja, como é construída a habilidade do conhecer?”. O mesmo ainda salienta que a atividade lúdica só poderá trazer a sensação de experiência plena para o todo do aluno quando da participação do mesmo, e como mais um recurso para a busca de um desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo.
A ludicidade pode ser utilizada como forma de sondar, introduzir ou reforçar os conteúdos, fundamentados nos interesses que podem levar o aluno a sentir satisfação em descobrir um caminho interessante no aprendizado. Assim, o lúdico é uma ponte para auxiliar na melhoria dos resultados que os professores querem alcançar. (BRASIL, 2007)
O educador deve ser mediador e considerar as necessidades de seus alunos, a bagagem de conhecimento, as vivências que cada um traz para o ambiente escolar, utilizando o lúdico como uma atividade complementar à “atividade pedagógica”, e não apenas como um momento de entretenimento, de distração para as crianças no recreio e, portanto, de “descanso” para os docentes.
Se obtivermos como base pedagógica a compreensão dos jogos, podemos entender a sua acepção para a vida das crianças, na perspectiva de subsidiar o desenvolvimento integral.
Acredito que quando acrescentamos criatividade, espontaneidade, alegria, música, contos, fantasias e muita imaginação na nossa prática pedagógica, proporcionamos às nossas crianças o desenvolvimento de habilidade para buscar e realizar novas descobertas, tornando o processo de alfabetização, além do aprender a ler e escrever, mais como uma etapa fundamental e prazerosa para no universo do ensino-aprendizagem.
Certa vez, alguém me disse que se eu pretendesse trabalhar com crianças, eu precisaria “ser tão colorido quanto os desenhos animados”. Desde então, busco na minha prática inserir cotidianamente o “colorido” da ludicidade e posso afirmar que tenho alcançado grandes resultados pessoais e profissionais.
Eduardo Freitas da Silva, coordenador de campo do Projeto Compromisso Vivo do Instituto da Infância (Ifan).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Anne. Ludicidade como instrumento pedagógico. Disponível em: http://www.cdof.com.br/recrea22.htm. Acesso no dia 22 de Abril de 2012
BROUGERE, Guilhermo. Jogo e educação. Porto Alegre: Artmed, 2004.
BRASIL, Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília, DF: MEC, 2007.
FRIEDMANN, Adriana. Brincar: crescer e aprender – O regate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1994.
PIAGET, Jean. Psicologia e pedagogia. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976.
PINTO, Gerusa Rodrigues; LIMA, Regina Célia Villaça. O desenvolvimento da criança. 6. ed. Belo Horizonte: FAPI, 2003.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.