Como ser ativista em um mundo cada vez mais conectado? Essa foi a pergunta respondida no primeiro painel transmitido via streaming no R.I.A. 2016.
Como ser ativista em um mundo cada vez mais conectado? Essa foi a pergunta respondida no primeiro painel transmitido via streaming no R.I.A. 2016.
O bate-papo Quem tem conexão…. muda o mundo no R.I.A. 2016 sobre ativismo em meio à tanta tecnologia foi comandado por Caio Ishida, homem trans e militante do movimento Juntos! e Ariel Kogan, engenheiro coordenador do projeto #EuVoto, consultor do @AppCivico, e também conselheiro na OpenKnowledge International.
A conversa, transmitida via streaming, foi mediada pela antropóloga Rita Alves, especialista em comportamento jovem na era digital e consultora da pesquisa Juventude Conectada da Fundação Telefônica Vivo.
O debate abriu com uma pergunta: como uma pessoa se descobre ativista? Se com Caio Ishida a descoberta foi quando conheceu o movimento Juntos em 2013, em um debate sobre sexualidade, com Ariel foi andando de bicicleta na Argentina e enfrentando a violência no trânsito.
Para ambos, no entanto, a descoberta final foi a mesma: viram que não estavam sozinhos na luta por seus objetivos. Descobriram que no coletivo seriam muito mais fortes e que na internet a comunidade tem um papel fundamental e transformador.
Coletivo na rede
Segundo Ariel, o conceito de software livre ajuda a explicar esses novos ativismos. ‘’ Uma das bases do conceito de software livre é que tudo o que for alterado continue livre, ou seja, o jovem vai atrás da questão que está envolvido como um hacker, mas faz isso de forma livre, experimental e construtiva. Assim conseguimos conectar o mundo online e off-line’’, diz.
Ele cita o caso do projeto Plataforma Legal, um software livre que disponibiliza um espaço de doação para candidatos políticos, desde que eles liberem todos seus dados e gastos. ‘’É uma plataforma de transparência entre candidato e eleitor, o que pode gerar um engajamento muito maior’’, explica.
O poder das redes sociais também pode ser observado no exemplo de Caio. Após uma participação no programa Altas Horas (TV Globo), em 2015, a repercussão em seu perfil no Facebook foi uma surpresa. ‘’Notei o quanto a relação dos trans com suas famílias é complicada, mas tive consciência que não consigo ajudar essas pessoas individualmente. O mais valioso é que isso que me motiva coletivamente, pois sei que só assim vamos garantir os direitos individuais de cada um’’, conta.
Com participação do público online, alguns pontos sobre a temática foram lançados pela mediadora Rita Alves, como a ideia de rede x individualismo. ‘’Eu acredito que o ativismo não é um conjunto de ações individuais, ele tem que estar inserido em um contexto coletivo, e o potencial que esse processo, que chamamos de rede, tem’’ diz Ariel.
Já Caio acredita também que se transformando individualmente é possível transformar o mundo, mas que essa mudança pessoal se dá numa construção coletiva. ‘’Afinal, vivemos num contexto coletivo’’, explica.
Conhecimento compartilhado
Ariel também faz parte do coletivo do OpenKnowledge , cujo foco é a expansão do conhecimento nos mais diversos campos, principalmente na política.
Segundo ele, um ponto da pesquisa Juventude Conectada é que, segundo os jovens entrevistados, eles não se interessam por política. ‘’Eu acredito que o que mudou é a forma como esse jovem se envolve com a política. Precisamos cada vez mais abrir esse conhecimento sobre os processos, como são tomadas as decisões, para que ele se interesse cada vez mais e rompa barreiras’’, diz.
No Juntos também há um trabalho de compartilhamento de conhecimento. ‘’O movimento nasceu em 2011, inspirado nos diversos movimentos ao redor do mundo, como a primavera árabe. Ele surgiu como um jornal que divulgava esses acontecimentos. E sabíamos que quando essa onda chegasse ao Brasil, a juventude estaria à frente, como foi em 2013’’. A partir dai, segundo Caio, a união entre as redes online e off-line se tornou irreversível.
Todas essas mudanças conceituais fazem parte de uma transformação cultural, voltada para a experimentação, e também de ruptura. Como finaliza, Ariel, ‘’a ocupação do ativismo no espaço virtual é tão importante quanto o física, e a fronteira entre esses espaços é cada vez mais difícil de enxergar’’.