A iniciativa Quero Trampo, idealizada por Flávia Campos Rodrigues, de 21 anos, mapeia as oportunidades de trabalho na comunidade e oferece vagas a moradores que estão desempregados
Uma comunidade com mais de 100 mil habitantes, 21 mil domicílios e mais de oito mil estabelecimentos. É neste cenário, em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, que a estudante de Marketing, e moradora, Flávia Campos Rodrigues, de 21 anos, irá lançar o aplicativo Quero Trampo, que conecta vagas de emprego na região aos moradores que estão em busca de oportunidades de trabalho.
A plataforma, com lançamento previsto para março de 2020, funcionará como uma espécie de “Tinder do emprego”, segundo a própria idealizadora, e surge com a proposta de aumentar a economia interna da comunidade, e ainda melhorar a qualidade de vida da população local.
Flávia conta que o projeto foi criado em conjunto com outros alunos, durante o curso Design em Contextos Sociais, promovido pelo Insper, Instituto de Ensino e Pesquisa. “Recebemos o desafio de solucionar um problema. Então, fomos às ruas de Paraisópolis fazer uma pesquisa com os moradores. Eles falaram muito sobre a questão do lixo, da saúde e da falta de emprego e oportunidade. E foi aí que veio a ideia do Quero Trampo”, relata Flávia.
Paraisópolis em foco
Entre a população de Paraisópolis, 31% são jovens entre 15 a 29 anos, segundo o Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo. E é essa faixa etária que mais sofre com a falta de emprego.
“Sendo moradora de Paraisópolis, vejo que as pessoas precisam cruzar a cidade para buscar emprego e, quando conseguem, encaram distâncias muito grandes. Sem contar as que não conseguem trabalhar por falta de capacitação”, comenta.
De olho no futuro, o objetivo do Quero Trampo também será o de trabalhar a capacitação de pessoas. A iniciativa conta com uma parceria com a agência Emprega Paraisópolis e os idealizadores pensam em promover cursos para preparar as pessoas para o mercado de trabalho, independentemente se a vaga é para a região ou não.
O projeto, segundo Flávia, também deve ajudar a fortalecer o comércio local. “Entendemos que sejam empregos temporários, mas é uma forma de dar um início na carreira, ajudar as pessoas a buscarem outras oportunidades e até mesmo a criarem seus próprios negócios”, espera Flávia.
Atualmente, o a aplicativo está em fase de desenvolvimento e os testes estão sendo feitos por Flávia e o seu parceiro Davi Dom Bosco Silva, e mais cinco estudantes de diferentes universidades do Brasil.
“Eu estou amando empreender. Acredito que dentro de uma comunidade como Paraisópolis isso ganha ainda mais força diante da forma como as pessoas de fora enxergam a comunidade, pensando ser um espaço apenas de violência. Existe muito mais aqui dentro”, afirma Flávia.
Visibilidade internacional
Visto como grande potencial, o Quero Trampo foi reconhecido pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), que convidou Flávia e os outros integrantes do grupo para apresentarem a ideia do projeto durante a próxima edição do Brazil Conference at Harvard & MIT, promovido pelo MIT Brazil, Todos pela Educação e FGV (Fundação Getúlio Vargas), que será realizado em abril deste ano, nos Estados Unidos.
Para viabilizar a viagem de dez dias, o grupo criou um financiamento coletivo, especialmente para ajudar com a alimentação, já que despesas como passagem, vistos e acomodação serão pagos pelo MIT Brazil.
“Estamos nos preparando para a apresentação. Um pouco nervosos e ansiosos para conseguir a verba necessária para a viagem. Para isso, além da vaquinha, estamos vendendo chaveiros de Paraisópolis e temos tido um bom retorno”, orgulha-se a jovem.
Vinda de uma família com 13 irmãos, Flávia teve muitos desafios durante a vida. Atualmente, além de estudar, a jovem é coordenadora do Festival da Juventude, educadora social e organizadora da Mostra Cultural de Paraisópolis. Engajada com as iniciativas de impacto e o trabalho dentro da Associação dos Moradores de Paraisópolis, ela pretende ir além com a temática e conta que o empreendedorismo foi algo que a surpreendeu.
“Eu ainda não sei como direcionar minha carreira. Nunca imaginei em empreender. Tinha outros planos. Mas, eu fui muito surpreendida com o empreendedorismo social. E quero investir mais nisso e atingir outros lugares do Brasil, levando oportunidade para muitas pessoas que não têm o acesso que eu tive”, finaliza a jovem.