Responsáveis por mais de 60% dos empregos no país, as micro e pequenas empresas foram as que mais sofreram economicamente com os impactos da pandemia. Saiba mais e conheça algumas iniciativas que ajudam a mudar esse cenário.
Cerca de 59% dos pequenos negócios brasileiros interromperam suas atividades temporariamente e 3,5% decidiram fechar a empresa de vez. É o que mostra a pesquisa O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios, realizada pelo Sebrae.
Muitas companhias já vinham sofrendo com a lentidão da retomada da economia, mas após a chegada do coronavírus ao Brasil, os resultados negativos se intensificaram. Quase 88% delas viram seu faturamento cair em média 75%. Os pedidos de recuperação judicial triplicaram desde abril, e em junho os pedidos de falência apresentaram maior crescimento em 12 anos. A maioria foi de pequenas empresas.
Mesmo diante dos desafios do cenário atual, conheçam algumas iniciativas que com ajuda de programas de investimentos, presença digital ou capacitações financeiras, lutam para manterem seus negócios.
Sobrevivendo à crise
A carioca Jaciana Melquiades chegou muito perto de fechar o seu negócio. Ela fundou a Era Uma Vez o Mundo, uma empresa de impacto social que produz artesanalmente brinquedos educativos referenciados em crianças negras.
Em 2019, a Era Uma Vez inaugurou a sua loja física no Rio de Janeiro. A primeira loja de bonecas negras do país. No final do ano conseguiram abrir uma segunda loja. “Nós finalizamos o ano com boas perspectivas. O dinheiro que estava entrando nós reinvestíamos. Estava dando bons resultados “, conta Jaciana.
No entanto, com as medidas de isolamento social a loja teve estagnação nas vendas. Diante da crise, a empresária usou as redes sociais para divulgar o problema. “Fui no Twitter desabafar como estava sendo difícil a gente ter recursos escassos e ver o nosso negócio quebrar. Ficamos dois meses faturando zero reais”.
Uma postagem levou a outra até que a jornalista e influenciadora Tia Má, com mais de 750 mil seguidores, repostou a sua história. “As pessoas se engajaram na causa de não deixar a loja de bonecas fechar”, explica Jaciana. O efeito no aumento das vendas foi quase imediato. Em dois dias chegaram a vender 200 bonecas.
Negócios paralisados
Ingrid Ribeiro, responsável pelo negócio social Tipiti
O negócio social Tipiti – Típico do Pará busca criar uma ponte entre os pequenos produtores paraenses, e os consumidores brasileiros. Vendem produtos alimentícios (geleia, farinhas, cafés de açaís) e artesanatos (palha de buriti, tintas naturais). Este ano, a Tipiti teve que interromper temporariamente as suas atividades, já que os deslocamentos até as famílias produtoras foram suspensos.
“Tivemos dificuldades em realizar reuniões, inviáveis de serem online, devido à falta de internet e conhecimento tecnológico da maioria dentro dessas comunidades. Isto afetou a produção de novos alimentos, afetando também o fluxo caixa. Foi bem frustrante para nós, pois tivemos que nos distanciar das famílias produtoras e abrir mão de trabalhar em tempo integral na Tipiti”, relata Ingrid Ribeiro, gestora da empresa.
Mesmo com as atividades paralisadas, a equipe da Tipiti está buscando aprimorar os conhecimentos, estudando sobre a Amazônia, fazendo pesquisas e realizando vendas locais. A empresa também se inscreveu no edital do Mahfunding Enfrente e está na expectativa de ser selecionada.
Importância do microempreendedor
Amanda Dias, jornalista econômica e idealizadora do Grana Preta
As micro e pequenas empresas desempenham um papel fundamental para o crescimento econômico do país. Representam cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) e são responsáveis por mais de 60% dos empregos no país.
Desde o começo da pandemia, Amanda Dias, jornalista econômica e idealizadora do Grana Preta, passou a oferecer consultorias gratuitas – ao lado do estúdio de design Mascavo Criativo – para micro e pequenos empreendedores.
“Eu tenho lidado com microempreendedor que está com medo de arriscar e medo de investir no negócio. Mas também estou lidando com pessoas que estão procurando migrar para as plataformas digitais, ou que começaram a criar outros produtos, como costureiras que estão vendendo máscaras”, diz Amanda.
Tamila dos Santos, idealizadora e CEO da Afroimpacto, uma escola online de afroempreendedorismo, ressalta que é muito importante que os microempreendedores tenham acesso a fundos de investimentos, mas também a capacitações sobre como usar esse dinheiro.
“Quando você empreende por necessidade, como é a maioria dos casos dos empreendedores negros, isso afeta a forma como você gerencia o seu negócio e até a sua autoestima como empreendedor. As startups conseguem prototipar, errar rápido, e modificar. É uma mentalidade completamente diferente de quem começa a empreender por necessidade e não faz a mínima ideia, em termos teóricos, do que está fazendo. Para poder se adaptar a um contexto que exige transformação digital e a automatização do seu negócio, é necessário ter uma formação”, explica Tamila.
Confira algumas iniciativas que contribuem para o empreendedorismo em tempos de crise
Projeto aproveita conteúdos virais do Twitter para divulgar o trabalho de pequenos comerciantes durante a pandemia. Os profissionais que desejam divulgar o seu negócio precisam fazer uma publicação usando a hashtag #HitouAjudou, e o serviço será divulgado espontaneamente no perfil oficial do projeto.
Plataforma online que reúne influenciadores das favelas, automatiza, segmenta e distribui campanhas nas Redes Sociais como Instagram e Youtube.
Fundo criado para fomentar o microcrédito produtivo nas regiões mais afastadas dos grandes centros. Créditos de até R$3.000, com 120 dias para começar a pagar, parcelamento em até 20x e política de juros zero.
Fundo emergencial para negócios de mulheres negras e periféricas.
Edital selecionará projetos escaláveis e de longa duração das periferias urbanas brasileiras, que sejam capazes de solucionar problemas que, a partir da pandemia, surgiram ou se aprofundaram nas periferias. Os projetos selecionados terão suas arrecadações triplicadas pelo Fundo Enfrente.
Um laboratório de tecnologias sociais aplicadas à geração de renda, comunicação e educação, que durante a pandemia está apoiando diversos projetos de investimentos aos pequenos empreendedores. Já lançou, em parceria com a SumUp, o programa Desenrola que potencializa microempreendedores individuais pretos que são formalizados ou não.