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Relatório mostra experiências internacionais, fala dos desafios e faz considerações e recomendações que podem contribuir na formulação de uma política de aprendizagem híbrida no Brasil, que garanta equidade, oportunidade para todos os estudantes, proteção de dados e uma abordagem mão na massa.

#TecnologiaDigital#tecnologiaeducacional

Imagem mostra evento de lançamento do relatório Aprendizagem Híbrida? Orientações para regulamentação e adoção com qualidade, equidade e inclusão

Toda política pública de educação deve priorizar a equidade no desenvolvimento e na aprendizagem dos estudantes. Para isso, precisa partir do princípio de que é necessário minimizar as desigualdades de acesso e de oportunidades e prover escolas, docentes, estudantes e secretarias das estruturas mínimas para sua execução. Caso haja uma escolha pela implementação de aprendizagem híbrida, ela deve cumprir esse papel. Bem como, precisa ser guiada por evidências sólidas de resultados e por uma discussão ampla, aberta e democrática.

A execução desta implementação deve ser acompanhada de recursos tecnológicos habilitadores: computadores e conexão plena à internet são ferramentas básicas para ações educacionais não presenciais. Além disso, atividades mão na massa (robótica, construção digital) são parte essencial do que hoje se chama de “ensino híbrido”.

Essas são algumas das conclusões do Relatório de Política Educacional Aprendizagem Híbrida? Orientações para regulamentação e adoção com qualidade, equidade e inclusão. O estudo, lançado no dia 13 de junho, é o resultado da colaboração entre o D³e (Dados para um Debate Democrático), o TLTL (Transformative Learning Technologies Lab) da Universidade de Columbia (Estados Unidos), a Fundação Telefônica e o Lemann Center for Entrepreneurship and Educational Innovation in Brazil, da Universidade de Stanford (Estados Unidos). A autoria é dos pesquisadores e pesquisadoras do TLTL: Paulo Blikstein (que também é diretor do laboratório), Lívia Macedo, Mariana Lederman Edelstein, Fábio Campos, Rodrigo Barbosa e Silva e Renato Russo.

 

Encontro de especialistas, professores e gestores da educação 

O evento de lançamento aconteceu no auditório ECO Berrini, em São Paulo. Além da apresentação do relatório, o encontro reuniu especialistas de educação e representantes de conselhos e redes de ensino, com o objetivo de debater as informações do estudo. Também discutiu-se experiências nacionais de aprendizagem híbrida e subsídios para uma possível regulamentação do tema. Para tanto, o evento foi organizado em três mesas de debate.

Na primeira, os autores e as autoras do relatório apresentaram e comentaram os pontos mais importantes do estudo. O segundo momento foi dedicado a apresentações de experiências nacionais, que buscaram soluções nesta modalidade durante o período emergencial da pandemia de covid-19. Participaram desta mesa, a assessora especial da Secretaria de Educação do Ceará (Seduc-CE), Maria Elizabete de Araújo; o diretor da Secretaria da Educação e do Esporte do Paraná (Seed-PR), Roni Miranda; e o secretário de Educação do Recife (PE), Fred Amancio. Chamada de “Experiências nacionais: reflexão sobre as práticas”, teve a moderação de Americo Mattar, diretor-presidente da Fundação Telefônica Vivo.

Por fim, aconteceu um debate entre Leuzinete Pereira, Secretaria de Estado da Educação do Maranhão e integrante do CONSED (Conselho Nacional de Secretários de Estado da Educação), Suely Menezes do CNE (Conselho Nacional de Educação), Felipe Felisbino do CEE/SC (Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina) e Lucia Dellgnelo, Diretora-Presidente do CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira).

Estudo pode auxiliar na formulação de políticas públicas sobre aprendizagem híbrida

Durante o período em que as escolas ficaram fechadas por conta da pandemia de Covid-19, gestores de educação do mundo inteiro tiveram que buscar soluções digitais para garantir a continuidade da aprendizagem. Essas soluções, no entanto, aconteceram num processo de tentativa e erro e, muitas vezes, com pouco planejamento.

Paulo Blikstein explica que naquele momento se experimentou de tudo: plataformas comerciais de webconferência e mídias sociais, envio de mensagens por aplicativos e até o compartilhamento de materiais impressos. Todos esses recursos foram utilizados pelas redes como alternativas para oferecer espaços de aprendizagem não presenciais para seus estudantes.

O estudo, segundo Blikstein, reconheceu e valorizou o esforço das redes e dos professores, mas aponta a necessidade de mapear o que ainda precisa ser aprimorado ou desenvolvido, e pensar quais são os melhores caminhos para seguir a partir de agora.

Visando auxiliar na construção desses percursos, o relatório tem como objetivo contribuir para uma melhor compreensão da aprendizagem híbrida. Para ajudar na formulação de políticas públicas sobre o tema, o estudo discute questões fundamentais como: o que é aprendizagem híbrida? Como regulamentá-la e sob quais condições? Quais variáveis devem ser levadas em consideração pelas redes ao promoverem atividades de ensino e aprendizagem híbridas? Como coletar e interpretar evidências sobre a sua efetividade? Como garantir privacidade, auditoria e ética na coleta de dados de estudantes e docentes?

 

Aprendizagem híbrida: um conceito em construção 

O estudo ressalta que o conceito de aprendizagem híbrida ainda está em construção ao redor do mundo, enquanto se discutem estratégias de curto, médio e longo prazo. Segundo o relatório, há várias definições no Brasil e no mundo para aprendizagem híbrida, e muitas aplicações, abordagens e teorias se contradizem.

Os autores e as autoras defendem que resolver essa questão é o primeiro grande desafio para compreender essa abordagem. Em um trecho, o documento afirma que “é importante que a comunidade educacional e os órgãos de regulamentação adotem uma nomenclatura e um conceito de forma precisa, a fim de evitar que, de tão vaga ou genérica, a expressão acabe perdendo significado.”

Outro grande desafio diz respeito às evidências. O estudo conclui que “a aprendizagem híbrida ainda carece de evidências robustas que permitam comparar sua eficácia com a oferta presencial.”

O terceiro grande desafio é a inclusão escolar. O relatório afirma que durante a pandemia houve uma dificuldade ainda maior no planejamento conjunto entre o professor regular e o professor do AEE (Atendimento Educacional Especializado).

O relatório afirma que durante a pandemia houve uma dificuldade ainda maior no planejamento conjunto entre o professor regular e o professor do AEE. Além da preocupação do fator remoto trazer uma nova barreira para esses alunos.

Recomendações para a formulação de políticas de aprendizagem híbrida 

Atento a esses desafios, e tendo como referência experiências internacionais de aprendizagem híbridas iniciadas antes mesmo da pandemia (portanto, com melhor planejamento), o documento aponta seis recomendações que precisam ser observadas em caso de regulação ou implementação de projetos de aprendizagem híbrida no Brasil:

1 – Contextos diferentes demandam abordagens distintas para a aprendizagem híbrida. O relatório trata de três contextos distintos: emergencial (momentos em que o isolamento social é necessário); recomposição da aprendizagem e; períodos regulares (contexto em que o foco deve ser a ampliação da oferta de opções para estudantes em formatos híbridos e de inovação pedagógica).

2 – Infraestrutura e recursos: garantir que escolas, estudantes e docentes tenham acesso à conectividade, dispositivos  (computadores), e outros recursos e habilidades digitais. Bem como garantir a qualidade desta conectividade e destes dispositivos.

3 – Regulação e fiscalização da proteção de dados de estudantes e docentes.

4 – Formação docente para a aprendizagem híbrida.

5 – Produção de estudos e monitoramento das experiências de aprendizagem híbrida.

6 – Integração com políticas nacionais existentes. Ou seja, estes projetos de implementação precisam dialogar com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), o Marco Civil da Internet, e ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), entre outros. Além de iniciativas, como o Programa de Inovação Educação Conectada (PIEC) do MEC e o Wi-Fi Brasil (Telebras, Ministério das Comunicações).

 

Experiência em quatro dimensões: espacial, temporal, metodológica e de mediação 

Outro ponto importante apresentado pelo relatório refere-se ao desenho de experiências educacionais híbridas. Segundo o estudo, este desenho deve sempre levar em consideração quatro dimensões: espacial, temporal, metodológica e de mediação. Em um trecho muito didático, o documento explica:

“A dimensão espacial se limita ao espaço físico onde a educação acontece, seja em casa, seja na escola. A temporal se refere à sincronicidade das atividades: estudantes aprendem em seu próprio tempo ou a turma toda avança ‘ao vivo’, de forma síncrona, junto ao professor? Por sua vez, a dimensão metodológica designa o conjunto de práticas pedagógicas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem, incluindo o uso de tecnologias digitais. Finalmente, a mediação diz respeito ao tipo de arranjo de trabalho: a aprendizagem é dirigida por um professor, autodirigida, colaborativa ou individual?”.

 

Aprendizagem híbrida com qualidade, equidade e inclusão

O relatório ressalta que “a adoção da aprendizagem híbrida deve ser pautada pela promoção da equidade e pela inovação educacional real, que vá além do reempacotamento de velhas fórmulas com novos termos”. Para tanto, ela precisa:

– Incentivar o trabalho “mão na massa” e permitir que estudantes participem de experimentos e projetos em contextos físicos diversos, com autonomia de tempo e espaço para as atividades;

– Considerar a importância fundamental do professor e de sua formação para atuar nessa nova modalidade de ensino e aprendizagem;

– Respeitar fatores externos, mas fundamentais para a aprendizagem, como espaço de estudo, acesso igualitário a equipamentos e conexão, contexto familiar e saúde mental do estudante e educador; e

– Combinar momentos de aprendizagem presenciais (na escola) e ambientes de aprendizagem remotos (em casa ou em outros espaços da vida do estudante).

Aprendizagem híbrida: relatório apresenta considerações para o uso
Aprendizagem híbrida: relatório apresenta considerações para o uso