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Reprodução do livro Contos da natureza, ilustrado por Anne Wilson
Por Carolina Pezzoni, do Promenino, com Cidade Escola Aprendiz

A religião é sempre parte de uma cultura. A partir desta afirmação, Denise Guilherme Viotto, curadora na área da literatura infantil e mestre em educação, sustenta o importante papel da literatura e da arte ao promover o respeito às diferenças e uma cultura de paz desde a infância. “O mais interessante é trabalhar com as crianças a ideia de que o mundo tem diferentes representações. Para tudo existe mais de uma possibilidade”, afirma a educadora, ao refletir sobre a proposta do Promenino, de elaborar uma seleção de livros infantis para o Dia do Combate à Intolerância Religiosa (21).

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“É muito mais difícil discutir dogma, crença ou fé, que não têm base racional, do que observar a religião como uma das manifestações da cultura. E dentro da cultura deveria ser possível aceitar a diversidade”, argumenta. Para Denise, que vê na arte muitas formas de nos perguntarmos sobre o mundo, a literatura pode ser um contraponto à dualidade acentuada quando se trata de abordar as questões religiosas, com crianças ou adultos. Mas lembra de excluir deste universo os livros que dão respostas fáceis a problemas difíceis.

“Na cultura pedagógico-didática, quando você quer ensinar determinada coisa é preciso chegar a um ponto final, a uma conclusão. Um livro escrito da mesma forma, com uma finalidade, ainda que seja ajudar as crianças a aceitar as diferenças, pode ser um grande problema, porque as perguntas que realmente importam não vêm com respostas”, alerta a educadora, que fundou A Taba, uma empresa especializada em curadoria de livros infantis e livraria virtual.

Na opinião de Denise, recorrer às mitologias, lendas e contos de tradição oral de diferentes culturas é uma forma de mostrar às crianças que existem diferentes explicações sobre os mistérios da vida e que todos devem ser livres para escolher aquelas com as quais mais se identificam. “Se eu acho que o mundo surgiu da perna de um Deus ou da criação de outro, isso não significa que uma visão esteja certa e outra errada, mas que existem diferentes representações para explicar o que ainda pouco pode ser explicado pelo homem.”

Confira a seguir a nossa lista de 10 livros que, sem a pretensão de apontar respostas únicas, apresentam diferentes olhares e explicações para os fenômenos do mundo e da vida:

Nasrudin
Regina Machado e Angela-Lago (Companhia das Letrinhas)
“Naquela cidade todo mundo conhecia histórias de Nasrudin, um personagem lá do Oriente que tinha um burrico e usava um turbante na cabeça. As crianças gostavam de suas histórias engraçadas, que sempre falavam das coisas de um jeito que ninguém tinha pensado”, escreve a autora, que por sua vez reúne causos dessa figura popular na Turquia, ora sábia, ora tola, ora fazendo os outros de bobo. As histórias são narradas por crianças de apelidos engraçados: Tonho Primeiro-de-Abril, Daniel Fechadura, João Arroz-com-Pão, Tião Aspirador, Tininha Questionário… E ilustradas pelos vivos desenhos de Ângela Lago.
 

O primeiro homem e outros mitos dos índios brasileiros
Betty Mindlin (Cosac Naify)
Antropóloga e estudiosa das tradições e cultura indígenas, a autora reuniu neste livro, parte da coleção Mitos do Mundo, nove histórias contadas por seis povos diferentes, que falam línguas diferentes e têm diferentes explicações para temas como a criação do mundo e a relação do homem com a natureza.

Com referências de desenhos em cerâmica e pinturas corporais feitos pelos índios, as ilustrações ajudam a compor as narrativas, que apresentam de forma lírica e espirituosa aspectos fascinantes da tradição indígena: “Tem mulher que vira bruxa. Deixa a cabeça num canto, lá onde vai virar bicho. A cabeça fica parada, deitadinha, sai só o corpo pelo mundo, soltinho. Vai pelo mundo, sem cabeça”.

O círculo do destino
Raja Mohanty e Sirish Rao (WMF Martins Fontes)
As ilustrações feitas para este livro – no estilo Patachitra (pintura em tela), arte originária de Orissa, no leste da Índia – criam um cenário de extrema beleza para uma história que, ao apresentar a vida que acontece entre deuses, ensina sobre a natureza humana e a agir de acordo com o coração. A cultura indiana está presente em cada traço pintado pelo jovem Radhashyam Raut e assim como nas palavras escolhida pelos autores Raja Mohanty e Sirish Rao.

 

 

 

 

As 14 Pérolas da Sabedoria Sufi
Ilan Brenman e Ionit Zilberman (Escarlate | Brinque-Book)
Neste livro, o autor reúne histórias tradicionais do sufismo, uma espécie de visão filosófica sobre as questões humanas, que chegou ao auge nos séculos 15, 16 e 17, em países como Irã, Iraque, Egito, Afeganistão, Tunísia, Turquia, Líbia e Marrocos. São narrativas que, como descreve Brenman, tocam não apenas pela razão, mas pela emoção, e às vezes podem levar meses ou anos até serem plenamente compreendidas. “Esses contos não se encerram em si mesmos. Não existe uma interpretação única a respeito deles; cada um pode se agarrar – ou desgarrar – na parte que mais lhe interessar de cada historia lida ou ouvida”, sugere.

Além deste título, foram publicados também As 14 Pérolas da Sabedoria Judaica, As 14 Pérolas Budistas e As 14 Pérolas da Índia, uma coleção que partilha a proposta de reunir contos das diversas fontes e culturas que formam as pessoas do mundo todo.

Contos de animais do mundo todo
Naomi Adler (WMF Martins Fontes)
Contadora de histórias para crianças, Naomi Adler compartilha neste livro a seleção de contos de tradição oral que vem colecionando em suas andanças pelo mundo. Como o coelho chegou a morar na lua ou como o dragão tornou-se a criatura mais reverenciada da China, um sapo que viu o mundo se transformar de terra morta em Era dos Sonhos e a esperteza dos músicos de Bremen, que conseguiram escapar da morte, estão entre as narrativas por ela recontadas e ilustradas com esmero por Amanda Hall.

 

 

 

 

 

Desenhando na cidade
Tejubehan (Martins Fontes)
A artista popular indiana Teju Behan, por meio de seus detalhados desenhos em preto e branco, e de um texto poético, recria imagens de sua existência desde a infância e imagina aspectos de uma outra vida, que gostaria de conhecer. Em meio às descobertas do modo de existir na cidade que a deixa à margem, o desenho aparece não apenas como recurso de troca para sobreviver, mas também como algo que torna seu coração alegre por lhe dar a liberdade de imaginar.

 

 

 

 

 

Onde está você, Iemanjá?
Lenny Werneck (Galerinha Record)
Na véspera do Ano-Novo, data em que muitos brasileiros celebram Iemanjá, a deusa do mar, a menina Camila – protagonista desta história – leva o leitor a um passeio pelos preparativos da festa que se dará em sua comunidade, apresentando com sensível naturalidade uma tradição cujas raízes estão no candomblé. Na leitura do aclamado escritor Jorge Amado, encontramos, no olhar da menina, a magia do Brasil. “Oferece às crianças a medida do mundo e a visão da beleza”, ele escreve sobre o livro.

 

 

A Criação
Bart Moeyaert e Wolf Erlbruch (Cosac Naify)
“No início era o nada. Não é nada fácil de imaginar. Você tem de esquecer tudo o que existe hoje. Apague a luz, vá-se embora e esqueça a escuridão, porque no começo não havia nada – nem a escuridão. Para ver o início das coisas, você tem de deixar muita coisa de lado. Inclusive a sua mãe”. Antes da existência do universo – é quando começa o livro do autor belga, Bart Moeyaert, que narra os sete dias da criação de todas as coisas, a partir de um diálogo original entre Deus e o homem. Inspirado pelo oratório do austríaco Franz Joseph Haydn, A Criação (1798), ele recria um Deus bonachão e de sorriso largo, representado pelos traços bem-humorados do ilustrador alemão Wolf Erlbruch.
 

A jornada de Tarô
Dosho Saikawa (Companhia das Letrinhas)
A jornada de Tarô, um peixe-escorpião, em busca das “águas mágicas” nos mares do Japão, revela de forma simples e metafórica os princípios do budismo, religião que surgiu no Nepal há 2500 anos. O texto bilíngue, em português e japonês, criado por Doho Saikawa, vem acompanhado por uma apresentação de Heloísa Prieto e a história do Buda, uma pessoa iluminada, que conhece os segredos da existência, dotada de poder para salvar a humanidade.
 

 

Contos da natureza
Dawn Casey (WMF Martins Fontes)
A escritora e professora primária Dawn Casey dá voz às suas duas vocações ao recontar neste livro sete histórias tradicionais de diferentes partes do mundo, como Austrália, Nigéria, Bali, Cazaquistão, País de Gales. O tema comum é relação dos seres com a natureza – e sobre como esta precisa ser respeitada em seu ritmo para que todos tenham o que precisam.

As narrativas são introduzidas pela história de cada cultura e seguidas pela proposição de uma atividade típica daquele contexto – por exemplo, fazer uma pintura inspirada nos aborígenes australianos ou uma boneca de palha de milho como a dos indígenas dos Estados Unidos.

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