A jovem que sonhava em ser astronauta, e foi reconhecida pela NASA depois de identificar os asteroides, firma um compromisso com as futuras gerações de meninas e mulheres na ciência espacial

A distância entre a Terra e o espaço parece ser cada vez menor. Para Geovana Ramos, 21, contribuir para as microrrevoluções na ciência espacial é um sonho que se tornou realidade. A jovem manauara firmou um compromisso com as futuras gerações de meninas e mulheres na Ciência desde que detectou 46 asteroides e foi reconhecida pela NASA.
“Elon Musk, CEO da Space X, fez um foguete dar ré. Isso significa que é possível fazê-lo dar piruetas se formos comprometidos. Trabalharei para alcançar nada menos que isso”, afirma a jovem, que estuda Física no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
A relação da estudante com a astronomia começou na infância. “Eu costumava observar o céu e escrever cartas para Deus pedindo respostas sobre o Universo”, relembra. A necessidade de estabilidade financeira na vida adulta fez com que ela se afastasse do sonho de ser astronauta. Por isso, ingressou em uma faculdade de Contabilidade e conquistou um estágio em uma empresa multinacional.
Entretanto, Geovana surpreendeu os familiares e amigos em 2020 ao resgatar o sonho de estudar o espaço. Ela se preparou para o Enem e conquistou uma vaga no curso de Física por meio do SISU (Sistema Unificado de Seleção), que conecta instituições de Ensino Superior a estudantes de escolas públicas.
Mudou-se de Manaus (AM) para o Ceará, deixando para trás o curso de Contabilidade e o estágio. Geovana sente que está caminhando em direção ao seu projeto de vida, ainda que a transição de carreira tenha sido desafiadora.
“A existência humana na Terra corresponde a apenas um segundo. Sendo assim, em comparação ao Universo, somos insignificantes. Ao pensar nisso, decidi dedicar o pouco tempo que tenho aqui para contribuir com algo em que acredito”, reflete.
Caçadora de asteroides
A jovem conseguiu uma bolsa de estudos para começar sua iniciação científica logo nos dois primeiros meses da graduação em Física. Ela conheceu o programa Caça Asteroides, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a partir do contato com o grupo de pesquisadores da faculdade.
O projeto convida cidadãos cientistas em escolas e universidades brasileiras para trabalhar no mapeamento de objetos próximos à Terra (NEOs). Divididos em equipes de cinco pessoas, os participantes utilizam o software da NASA para identificar e enviar relatórios sobre os asteroides.
Geovana fez a inscrição para participar, entendendo a iniciativa como uma oportunidade de alavancar sua carreira.
“Nessa época, eu dormia de duas a quatro horas por noite. Frequentava as aulas, mas contei com o suporte dos professores e colegas para que pudesse acompanhar as caçadas ao longo do dia”, conta.
O esforço valeu a pena e a primeira detecção não demorou a chegar. Uma vez encontrado o objeto, a estudante pediu material extra para analisar. O próximo passo foi liderar a equipe para mais uma análise minuciosa, que resultou em outros 45 asteroides detectados.
Curiosidade
Para detectar asteroides, as equipes de pesquisa do Caça Asteroides transformam em GIFs, e colocam em sequência, as imagens que recebem da NASA. A agência espacial é responsável pela curadoria de imagens captadas pelo telescópio da Universidade do Hawaii, que acompanha todas as movimentações no espaço.
Dessa forma, é possível calcular o percurso dos objetos próximos à Terra. Assim que um asteroide é encontrado e o relatório é enviado à NASA, pode levar de seis a oito anos para que sejam confirmados. O papel da agência é avaliar os riscos e intervenções necessárias para evitar a colisão com o planeta.
Revolução pela Ciência
Além de ter recebido um certificado oficial da NASA por ter detectado os asteroides, Geovana Ramos saiu da experiência com o título de astrônoma amadora. Na prática, isso corresponde a cientistas que não têm formação em Astronomia, mas contribuem para as descobertas na área.
Desde então, a jovem divide o seu tempo entre os estudos, as palestras que realiza, o trabalho voluntário como professora e a produção de conteúdo para o seu canal no YouTube. Ela pretende utilizá-lo como uma forma de aproximar a ciência espacial da sociedade.
“O reconhecimento é importante, mas meu objetivo é continuar abrindo espaços para que outras meninas e mulheres possam ajudar a desenvolver a Ciência. Essa é a verdadeira revolução”, acrescenta a astrônoma, que tem planos ambiciosos para o cenário nacional.
Rumo a Marte
Após ter se destacado pela atuação no programa Caça Asteroides, Geovana foi convidada para fazer parte da equipe de divulgadores científicos do Observatório do Valongo, o centro espacial mais antigo do Brasil.
A estudante também está em contato com a Agência Espacial Brasileira, em que pretende apresentar um projeto educacional para incentivar crianças e jovens a aprenderem sobre astronomia.
A jovem sabe que o futuro da sua carreira está voltado para o espaço, apesar de não sonhar mais em ser astronauta. “Estudar o universo é saber quem somos, quem fomos e quem seremos”, complementa.
Quando perguntada sobre os planos para o futuro, sugere: “Quem sabe ganhar um Nobel e ser convidada para uma viagem a Marte?”.
Astros no cinema
Quer entender um pouco mais sobre o impacto da ciência espacial na sociedade? Geovana Ramos recomenda o filme Não Olhe para Cima, que acaba de ser lançado na Netflix. A trama conta a história de dois astrônomos que recebem a missão de alertar a população sobre um meteorito que destruirá o planeta Terra.
Apesar de se tratar de uma ficção, a jovem astrônoma garante que a temática é abordada de forma bem realista. Além disso, o longa conta com renomados astros de Hollywood no elenco. Entre eles, Leonardo di Caprio, Jennifer Lawrence, Cate Blanchett e Meryl Streep. A classificação indicativa é de 16 anos.