Nos dias 1 e 2 de março o projeto Aula Digital em Viamão (RS) realizou a primeira formação de 2021. O tema foi ensino híbrido e como ele pode ser inserido enquanto prática pedagógica de inovação educativa.
“Fazer o que a gente sempre fez é o caminho mais fácil, inovar é o caminho mais difícil. Acreditar que a educação precisa ser mais adequada para o século que a gente vive, que os estudantes merecem uma educação que faça mais sentido para os tempos atuais é desafiador, mas traz mais resultado”.
Foi com esta afirmação que Renata Altman, gerente de projetos sociais da Fundação Telefônica Vivo, ao lado da assistente pedagógica, Cintia Bauer, e do formador do Aula Digital, Ricardo Gausman, iniciou a primeira formação da 4ª Edição da Jornada Pedagógica no município de Viamão (RS).
O evento foi promovido pela Secretaria Municipal de Educação de Viamão e contou ainda com a participação da secretária de Educação, Marcia Culau; da diretora Pedagógica, Katilene Medeiros; e do prefeito Valdir Bonatto.
“Precisamos nos desfazer das âncoras que não nos deixam pensar diferente e ir por um novo caminho. Essa é a hora da ruptura, de um novo ciclo, de um novo fazer pedagógico”, afirmou o prefeito durante a abertura.
O projeto Aula Digital faz parte do ProFuturo, o principal programa de educação global da Fundação Telefônica criado junto com a Fundação “la Caixa”, com a missão de reduzir a desigualdade educacional no mundo por meio de um ensino digital e de qualidade. Em Viamão (RS), o projeto é executado pelo parceiro HardFun.
A Jornada Pedagógica integrou uma série de palestras entre os dias 1 e 3 de março. O projeto Aula Digital elaborou duas formações para a Jornada que ocorreram em dois encontros e contou com uma participação média de 3 mil professores. O primeiro com tema Ensino Híbrido: perspectivas à mediação pedagógica, e o segundo (Res)significando a aprendizagem com as metodologias ativas. Eles tinham por objetivo propor uma reflexão sobre a inovação educativa, trazendo a importância da abordagem híbrida para a potencialização da aprendizagem.
Desde julho de 2018, a Fundação Telefônica Vivo atua em parceria com Viamão, através da HardFun, parceiro executor do Aula Digital no município, com o intuito de impactar 100% da rede municipal de Ensino Fundamental na região.
“Desde o início nós sentimos que seria uma parceria muito fértil porque Viamão tem o desejo de inovação e melhoria muito grande”, pontuou Renata Altman.
Juliano Bittencourt, diretor executivo da Hardfun, acredita que a maior contribuição do projeto é preparar a educação para o momento de incerteza que o mundo vive. “Os equipamentos podem até ficar defasados, mas a cultura de lidar com o novo é o que a gente espera que fique, porque isso é permanente”.
Veja abaixo os assuntos trazidos durante os dois dias de encontro, mediados pelos pedagogos Cintia Bauer e Ricardo Gausman.
As diferenças entre modalidades de ensino
Em um primeiro momento, os mediadores trouxeram os conceitos de Ensino a Distância (EaD), Ensino Remoto e Ensino Híbrido e suas principais diferenças:
- EaD
Na modalidade EaD as aulas são gravadas e há um tutor, um monitor e um suporte o tempo inteiro para ajudar o aluno. Este estudante consegue ter aulas sem o contato físico com o professor. O material didático é liberado com antecedência. Os conteúdos, o cronograma, e as avaliações são padronizadas.
- Remoto
Na modalidade de ensino remoto as aulas podem ser ao vivo, simulando um encontro presencial. O conteúdo e o material didático são mais personalizados e ajustados pelo professor segundo a necessidade da turma. O cronograma é flexível. “É um modelo centrado no professor”, lembra Ricardo.
- Híbrido
No modelo de ensino híbrido há a união da aprendizagem presencial e remota. O estudante assume uma postura mais ativa e participativa, pois, neste modelo, procura-se desenvolver a autonomia dele em relação à aprendizagem. Diferentemente do ensino remoto, o professor sai do foco central e torna-se o mediador ou facilitador do processo de aprendizagem do estudante.
A aprendizagem do modelo híbrido se dá pelo desenvolvimento de competências. “Não se ensina competências, elas se desenvolvem”, afirma Gausman. A sala de aula também tem a sua importância. Para o estudante, ela passa a ser um local de cooperação e colaboração das atividades pedagógicas entre o professor e os colegas.
A personalização tem forte evidência no ensino híbrido. “Ele não se reduz àquilo o que foi planejado”, explica Ricardo. “O híbrido tem um projeto, mas abre espaços para a espontaneidade. Dentro de um contexto de incerteza, o ensino híbrido acaba se aproveitando dessas dinâmicas e incertezas que vão aparecendo. Para o ensino formal e formatado, muitas vezes as incertezas podem romper com um fluxo construído e prejudicar a dinâmica do professor e do aluno, já que eles não estão acostumados”, complementa.
Anote aí! As principais características do ensino híbrido:
- Aluno protagonista
- Professor mediador
- Desenvolvimento de competências
- Sala de aula como espaço de cooperação e colaboração
- Tecnologias analógicas e digitais
- Atividades personalizadas
Leia mais: Ensino personalizado poderá ajudar na retomada das aulas
Mediação pedagógica
Cíntia comenta que é sabido que as posturas pedagógicas dos professores são múltiplas. “Tem o professor tradicional, que transmite conteúdos, o professor tutor, professor monitor, disciplinador, o educador social, o comunicador. São muitos papéis”.
Ela então questiona como repensar o papel do professor frente aos novos contextos, e aponta a mediação pedagógica como um elemento essencial frente aos desafios da aprendizagem.
Usando o conceito do psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky, os formadores do Aula Digital explicam que a mediação se reporta a distância entre aquilo o que a criança é capaz de fazer sozinha e aquilo o que ela faz com a ajuda de alguém e que em breve será capaz de realizar de forma autônoma. “É o intervalo do que ela faz sozinha e aquilo o que ela ainda não faz, mas está a um pulo de aprender”, resume Ricardo “.
Cintia complementa que, na mediação, é preciso trocar experiências com os alunos para partir daquilo que eles trazem como bagagem. “Apresente perguntas orientadoras. Eu não posso chegar com tudo pronto, eu tenho que instigar o meu aluno, preciso propor desafios no meio da mediação”. É necessário ainda criar intercâmbio entre a aprendizagem e a sociedade ou com situações vividas pelas crianças.
Neste processo as tecnologias são recursos que facilitam a mediação. “O professor é sujeito da ação pedagógica, facilitador do processo de aprendizagem. De forma alguma a tecnologia irá substituí-lo”, diz Ricardo.
Metodologias ativas
Trazendo definições do pesquisador José Moran, Cintia Bauer comenta que as metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida. “Muda o espaço, muda a tecnologia, mas a participação do estudante tem que ser ativa e autônoma”.
A capacidade de alternar e realizar diferentes tarefas e operações mentais com distintos formatos, espaços e objetivos, acaba fazendo com que os estudantes flexibilizem mais a capacidade de entendimento. “Saindo de modelos mentais mais rígidos e automatizados, as metodologias ativas aumentam a nossa flexibilidade cognitiva”, conta Gausman.
Metodologias ativas
- Aprendizagem baseada em projetos: os alunos se envolvem com tarefas e desafios para resolver um problema ou desenvolver um projeto que tenha ligação com a sua vida, muitas vezes fora da sala de aula.
- Aprendizagem baseada em problemas: uma metodologia voltada para a aquisição do conhecimento por meio da resolução de situações. Trabalham-se temas que nem sempre estão ligados ao mundo do aluno.
- Aprendizagem entre pares: o conhecimento é construído em conjunto.
- Gamificação: uso de mecânicas e dinâmicas de jogos para engajar os estudantes a resolver problemas e melhorar o aprendizado.
- Ensino Híbrido: metodologia que combina a aprendizagem presencial e remota. O aluno pode estudar sozinho em ambiente virtual ou em sala de aula interagindo com os colegas e com o professor.
- Storytelling: contar histórias utilizando uma narrativa envolvente
- Design Thinking: busca a aproximação com as pessoas para que juntas elas pensem nos desafios cotidianos e formas conjuntas de superá-los.
Quando se fala em metodologias ativas trabalha-se com recursos digitais assim como analógicos. “Às vezes pode rolar uma confusão que dentro das metodologias ativas ou híbridas os recursos analógicos como o caderno, o livro, a biblioteca ou a sala de aula podem ganhar uma importância menor. Estes recursos são tão importantes quanto os recursos digitais”, alerta Ricardo.
Modelos de ensino híbrido
É possível utilizar o Ensino Híbrido em diversas realidades e escolas brasileiras, já que existem diferentes modelos a serem aplicados. Na última parte da formação do Aula Digital, Ricardo e Cíntia apresentaram cada um destes modelos. “Eles não são estáticos”, afirma o pedagogo, chamando atenção para o fato destes poderem ser revisitados, trocados e personalizados.
- Modelo flex: A ideia é a flexibilização. O aluno tem alguns roteiros personalizados que são entregues via plataforma digital, no qual realiza as atividades propostas em parte do tempo, com o professor por perto, como um tutor, e em outros momentos pode trabalhar em projetos com outros alunos.
- Modelo à la carte: O estudante é responsável pela organização do seu estudo a partir de objetivos gerais de aprendizagem a atingir. As disciplinas podem ser eletivas e combinar com os itinerários formativos escolhidos pelos estudantes.
- Modelo virtual enriquecido: O aluno tem todas as disciplinas ofertadas online e vai para a escola uma ou duas vezes por semana para realizar projetos, debates e discutir o que foi estudado online.
- Modelo por rotação: Ele prevê o revezamento de funções entre os estudantes durante as atividades, com o suporte de tecnologias digitais em diferentes momentos. Este modelo é dividido em quatro subdinâmicas: rotação por estações, laboratório rotacional, sala de aula invertida e rotação individual.