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Encontro da série Conversas que Aproximam falou sobre a importância de cuidar da saúde mental e de estratégias para focar em autoconhecimento e manter os estudantes próximos
#MêsdosProfessores

#Educação#Educadores

a imagem mostra uma mulher grisalha, de óculos de grau, sorrindo. Ela está sentada em um sofá com as pernas dobradas, os cotovelos apoiados sobre os joelhos e as mãos unidas em pose de meditação.

Em um ano de transformações profundas na educação por conta de uma pandemia mundial que suspendeu aulas presenciais, passou a ser ainda mais importante cuidar da mente e do corpo. E foi sobre isso o quarto encontro da série Conversas que Aproximam, organizada pela Fundação Telefônica Vivo, o qual trouxe como tema A importância do autocuidado no dia a dia do educador e que tratou, entre outros pontos, de escuta e vulnerabilidade.

A roda virtual reuniu a mediadora Inês Medeiros, psicóloga, consultora de desenvolvimento humano e coach executiva com atuação no Brasil e em Portugal, e os convidados Eduardo Calbucci, mestre e doutor em Semiótica e Linguística Geral, e Joana London, psicóloga, especialista em Psiquiatria e Psicanálise com criança e adolescente. E contou também com a participação especial de José Gilson Franco, professor da rede municipal de Fortaleza (CE), poeta e cordelista, que recitou um cordel sobre o tema que ele fez durante o período de isolamento.

“Já dão o melhor que podem, não se cobrem em demasia. Preservem a boa saúde, a paz e a harmonia. Se liguem ao que faz bem, dividam com os que não têm sua gentil alegria. Que tal pedir uma pizza? Para a mãe telefonar. Jogar bola com o filho,  com a família almoçar?”, diz o trecho do cordel escrito pelo artista, e que serve como um conselho importante aos educadores.

Cuidar de si mesmo é a tradução literal de autocuidado, mas é um conjunto de ações que dá um caminho mais preciso sobre como colocá-lo em prática. No caso de educadores, ter os momentos de pausas e respiros é só o início do processo que também inclui entender o limite entre lazer e trabalho, contar com o apoio de gestores e alunos no dia a dia, se cobrar menos em meio a mudanças intensas, compartilhar experiências para poder entender os próprios sentimentos e buscar caminhos para superar possíveis crises. Na conversa, os convidados indicaram referências e dicas, que estão reunidas a seguir. Confira!

Abrindo caminhos pela escuta e pela vulnerabilidade

A mediadora Inês Medeiros lembrou dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que antes mesmo da pandemia já colocava o Brasil no topo de países com maiores índices de depressão e ansiedade em um alerta sobre saúde mental.

“O quanto estar cada um no seu espaço impacta na nossa capacidade de conexão e de como cuidamos de nós mesmos? É importante olhar internamente e se cuidar. Para ensinar o outro precisamos primeiro cuidar de nós”, defendeu Inês na abertura do encontro virtual.

Joana London afirmou que o olhar para si e para o outro tem dois lados. Um vertical, no sentido dos gestores se sensibilizarem usando de sua maturidade e experiência. E horizontal, no sentido de olhar para os pares e para si mesmo para criar limites e espaços de acolhimento.

Nesse sentido, tecer uma rede de pessoas para se inspirar e promover reflexões ajuda a nomear o que sentimos. “A ansiedade é uma doença do século, mas muitas vezes é a forma de nomear o que a gente não sabe nomear. Acaba virando um resumo de tudo, porque estamos com muita dificuldade de falar e escutar. O caminho do autocuidado passa pela fala e também pela escuta”, opinou Joana.

“Reconhecer que precisamos de ajuda é o primeiro passo para conseguir essa ajuda. Somos seres sociais e o que a pandemia nos coloca é algo desesperado, porque não sabemos como vai ser o dia de amanhã”, apontou Eduardo Calbucci, destacando que a vulnerabilidade não é algo ruim.  E se existe insegurança ou medo causados por não sabermos se as aulas presenciais serão realmente normalizadas ou se a vacina vai funcionar no próximo ano, é preciso focar em aspectos de gentileza e generosidade trazidos por toda esta situação.

“As primeiras aulas que eu gravei, queria que estivessem perfeitas até eu perceber que também errava no ao vivo. Tudo isso diminui nossa exigência e vamos tentar fazer o melhor possível dentro do que nós temos. É gastar energia com o que está no nosso controle. Se eu me concentrar no que está no meu controle, pode parecer pouco, mas já é um ganho para quem está em volta”, afirmou.

Menos cobranças e mais momentos de respiro

O autocuidado é um termo em alta e é preciso tomar cuidado para que não vire mais uma cobrança, mais uma tarefa a ser feita. O primeiro passo é o autoconhecimento, a gente se reconhecer e saber o que é bom pra gente e aí encontrar brechas com muito diálogo”, sugeriu Joana London. Para a especialista uma das partes mais delicadas é entender que nem todos têm o privilégio de ter tempo livre, mas que é fundamental encontrar respiros.

“Poesia funciona pra mim, é a minha terapia, minha hora sagrada da semana”, exemplificou. E, citou o educador popular Tião Rocha: “É cada um encontrar o seu caminho, que são múltiplos e começam pelo autoconhecimento”.

Por fim, a especialista em Psiquiatria e Psicanálise com criança e adolescente recomendou ficar de olho no tempo em que o educador fica conectado. Se a internet permite manter o contato com o mundo, intensifica ainda mais o desafio de separar o trabalho da vida pessoal. “Tem que ter uma hora de desligar o computador e está tudo bem não responder. Se o seu WhatsApp pessoal é o mesmo do trabalho, você não precisa responder à noite”.

Eduardo concordou que os professores não devem se cobrar tanto e podem se dar o direito de ver uma série apenas para passar o tempo. “Assisti um documentário sobre a vida do Gabriel García Marques, porque sou um fã, tem um significado muito pessoal. Mas ontem, antes de dormir, por exemplo, assisti uma série engraçadinha. Todo mundo tem direito de descansar a mente!”, relatou.

O mestre e doutor em Semiótica e Linguística Geral recomendou que é importante ficar atento a sinais de alerta, como mudança de comportamento, abuso de álcool e irritabilidade e ainda deu algumas dicas: encontrar com os amigos usando programas como Zoom e Skype. Estabelecer horários em que todos da família se desconectem e desfrutem de uma refeição juntos, compartilhando o que viveram no dia, criar uma rotina dentro de casa. Tudo isso são atitudes simples, mas que impactam diretamente a saúde emocional.

“Tem gente que se encontra na meditação, com ioga, numa prática religiosa. Para mim, a atividade física é importante. Eu marco na agenda, deixo reservado o horário e vou fazer na sala de casa mesmo. Em um momento de pandemia, essas atividades podem até não nos deixar completamente felizes, mas ajudam a nos fazer passar pelos desafios de um jeito mais sereno”, complementou.

Fortalecendo a conexão com os estudantes

Eduardo Calbucci lembrou também da importância em desenvolver as competências socioemocionais neste momento e que os educadores podem usar de experiências pessoais para continuar tendo uma forte ligação com seus alunos mesmo que virtualmente.

“Quando a gente narra um episódio de raiva pelo qual passamos, por exemplo, o aluno vê que todo mundo é igual e isso cria empatia e confiança. Quando o professor conta um episódio pelo qual passou, aquilo tem uma função pedagógica. E a relação tem que ser horizontal”, recomendou.

Joana London compartilhou dessa visão e apontou que a escuta ativa tem tudo a ver com um lugar de humanização e de colocar o estudante também como alguém capaz de ensinar. “Um possível aprendizado para levar para o retorno às aulas é que o processo educacional seja mais horizontal ao valorizar os saberes dos nossos alunos, que sejam reconhecidos como parte do processo. Que a gente dê mais espaço para isso e que possamos aprender juntos”.

“Professor é responsável por dar direção e sentido ao projeto pedagógico. Nenhum aluno ouve e respeita alguém que se coloca distante. Na volta às aulas, a troca de experiências pode ser muito importante para construir uma relação diferente e potencialmente melhor”, reforçou Eduardo.

Referências para os educadores

A roda A importância do autocuidado no dia a dia do educador rendeu referências importantes para educadores. Confira na matéria Educadores precisam falar sobre autocuidado mais dicas e conteúdos sobre o assunto!

Autocuidado: o que a escuta e a vulnerabilidade podem ensinar a educadores
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