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O desenvolvimento de competências digitais em estudantes é uma das prioridades da educação

#Educação

As competências digitais são consideradas fundamentais para a aprendizagem e o bem-estar dos cidadãos. Essa observação consta no Learning Compass 2030, a “bússola de aprendizagem” criada em 2015 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Dessa maneira, fomentar a discussão sobre o desenvolvimento de competências digitais e como realizar uma avaliação sobre tal aprendizado em estudantes é atualmente uma das demandas mais importantes da educação.

Aqui no Brasil, por meio do eixo Educação Digital Escolar da Política Nacional de Educação Digital (PNED), está prevista a inserção da educação digital nos ambientes escolares, em todos os níveis e modalidades. A Cultura Digital é uma das dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), propondo que estudantes brasileiros compreendam, utilizem e criem tecnologias digitais de forma crítica, significativa, reflexiva e ética. Além disso, entrará em vigor em 1º de novembro a norma da Computação em complemento à BNCC, que se refere à introdução do ensino da Computação no país.

Apesar dos esforços, no Brasil ainda não é possível conhecer o nível de desenvolvimento dos alunos nesse tema, pois não há um instrumento que realize essa avaliação.

Lucia Dellagnelo, especialista em Educação e Tecnologia e Integrante do time de especialistas internacionais do GEM Report 2023, da Unesco, explica que a criação de um instrumento para essa avaliação é um tema novo. Mas que está em desenvolvimento, inclusive em outros países. Para a especialista, é importante que haja no Brasil maneiras de se avaliar as competências digitais dos estudantes.

“Então, precisamos monitorar se os estudantes estão desenvolvendo essas competências previstas. Para isso, é preciso desenvolver uma ferramenta que nos dê uma linha de base de onde estão os estudantes brasileiros hoje. Mas que também monitore como os estudantes estão avançando em relação ao desenvolvimento dessas competências digitais”, declara.

De acordo com o documento “Inovação em avaliação para medir e dar suporte a competências complexas”, que resume o conteúdo da publicação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e teve apoio do Instituto Unibanco para ambos os documentos, as avaliações sinalizam para vários públicos quais conhecimentos, habilidades e capacidades são importantes e ilustram os tipos de desempenho que queremos que os estudantes sejam capazes de demonstrar. Ainda segundo a OCDE, as competências digitais são consideradas complexas e envolvem múltiplos componentes que estão fortemente interligados à prática.

Ter competência digital implica em saber usar as tecnologias de forma eficaz e responsável e envolve um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que permitem aos indivíduos interagir, comunicar, aprender e gerar novos conhecimentos no ambiente digital.

Fortalecendo o debate sobre a avaliação de competências digitais de estudantes 

Para que instrumentos de avaliação de competências digitais dos estudantes sejam desenvolvidos, é recomendável que haja articulação entre especialistas, governos e organizações da sociedade civil. Afinal, estratégias em coalizão podem trazer avanços mais significativos para a Educação Básica no Brasil. Nesse sentido, a Fundação Telefônica Vivo está contribuindo com o debate, promovendo espaços de discussão entre os atores envolvidos.

No primeiro semestre deste ano foi realizado o workshop sobre Avaliação de Competências Digitais de Estudantes, com a finalidade de conhecer experiências internacionais e discutir parâmetros e procedimentos para o desenvolvimento de um instrumento com essa finalidade no país, com foco na Educação Básica. Participaram desse evento especialistas em avaliação, tecnologia e educação, representantes de governos municipais, estaduais e federal – representado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).

O workshop ocorreu em São Paulo e foi realizado pela Fundação Telefônica Vivo em parceria com o Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) e o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br),  com apoio técnico das especialistas em educação Lucia Dellagnelo e Maria Helena Guimarães.

Referências internacionais sobre as competências digitais de estudantes 

No workshop, Lucia Dellagnelo apresentou algumas experiências internacionais de sucesso que podem inspirar o caminho a ser trilhado na educação brasileira. Mesmo que a avaliação de competências digitais de estudantes ainda seja um tema novo também em outros países.

A especialista apresentou exemplos de ferramentas que vêm sendo utilizadas para avaliar as competências digitais. Entre elas o Pix, uma plataforma on-line aberta lançada por uma organização pública francesa sem fins lucrativos com o objetivo de melhorar a alfabetização digital em todo o mundo.

“Há uma série de ferramentas e cada uma delas tem um aspecto que poderia ser utilizado para o desenvolvimento de um modelo brasileiro. Acredito que o Pix possa ser interessante porque é simples de fazer. E na avaliação feita ele oferece orientações sobre como pode-se desenvolver as competências digitais”, explica.

Lucia Dellagnelo acrescenta que muitos países estão buscando aplicar a avaliação de competências digitais, devido ao fato de o desenvolvimento de competências digitais integrar um dos indicadores da ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) 4 – Educação de Qualidade. “Esse indicador fala sobre o desenvolvimento de competências e habilidades digitais para a população. Então, é preciso monitorar também se o Brasil está avançando para alcançar essas metas”, conclui.

 

Um caminho a ser trilhado: possibilidades e desafios 

Se o país continuar a não contar com uma ferramenta para avaliar as competências digitais dos estudantes, um dos possíveis desafios a serem enfrentados será a falta de avanços nesse tema educacional. É o que acredita João Cossi, especialista em educação do BID. “Assim, é preciso entender o quanto os currículos estão adaptados para isso, o quanto os alunos estão se desenvolvendo, para que possamos ser propositivos”, acrescenta.

Nesse sentido, João Cossi indica uma possibilidade a ser seguida. “Podemos começar com um piloto específico para testar um primeiro instrumento que se adapte às nossas práticas. Depois, adaptar nossas políticas de currículo e formação de professores e monitorar o andamento”, detalha. “É necessário ter clareza de onde estamos e aonde queremos chegar. Foi essa a discussão que iniciamos durante o workshop: para que serve uma avaliação digital, quais são os possíveis tipos de avaliação digital e qual é o caminho para se avaliar as competências digitais dos estudantes. Foi uma primeira conversa para começar a movimentar os atores da sociedade civil”, pontua.

De acordo com Lia Glaz, diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo, é fundamental para o Brasil buscar por modelos de ferramentas de monitoramento e avaliação de competências digitais de estudantes. “Podemos nos inspirar em modelos internacionais e contemplar as diretrizes nacionais, como a BNCC. Precisamos garantir uma base de dados educacionais capaz de nortear ações que preparem nossos estudantes para um futuro cada vez mais tecnológico e digital”, declara.

Daniela Costa, coordenadora da TIC Educação no Cetic.br, afirma que o comprometimento multissetor é importante para envolver toda a sociedade em seu planejamento e implementação.

“O caminho para chegar na implementação de uma política efetiva vai passar por um envolvimento maior da sociedade, do que apenas dos educadores ou das instâncias governamentais. Há a necessidade de assumir no país um compromisso de que o desenvolvimento de habilidades digitais é importante. É uma agenda que tem que ser abraçada pela sociedade em geral. Então, se não tivermos esse envolvimento dos múltiplos setores, teremos ações mais esporádicas que, muitas vezes, não têm conexão entre si e acabam não correspondendo aos objetivos”, opina.

Qual a importância da avaliação das competências digitais dos estudantes?
Qual a importância da avaliação das competências digitais dos estudantes?