Por meio de sua contribuição como filósofa e literata, bell hooks deixou uma contribuição para o feminismo negro e para a cultura da paz. Conheça a trajetória da ativista!

“O amor é o fundamento de toda mudança social significativa”. Era nisso que acreditava bell hooks (1952-2021), a intelectual que transformou a educação antirracista por meio de seu trabalho como filósofa e literata. Assim, ao defender o fim de sistemas de opressão, a ativista deixou um legado para a cultura da paz.
Desde que saiu da cidade de Hopkinsville, nos Estados Unidos, levou consigo a experiência de ter crescido como mulher negra em uma comunidade segregada. Aos 19 anos, escreveu a primeira tese relacionando gênero, raça e classe. Na época, era estudante da Universidade de Stanford.
Contudo, dez anos depois, o livro “E eu não sou uma mulher?- Mulheres Negras e Feminismo” entrou para a história do feminismo negro como um marco para os debates sobre equidade da década de 1980. Nesse meio tempo, a autora já trabalhava como professora universitária em renomadas instituições de ensino do país.
bell hooks: da pedagogia à literatura
De fato, na literatura ela se destacou pela capacidade de romper com os moldes tradicionais envolvidos na produção de saberes acadêmicos.
“De acordo com bell hooks, a academia pode excluir o processo de entendimento sobre questões importantes. Por isso, ela escolheu se mostrar como ser humano e utilizar suas vivências pessoais como exemplos para nós”, comenta Camilla Dias, assistente social pós-graduada em Literatura e Humanidades.
O próprio pseudônimo “bell hooks” — assim mesmo, em letras minúsculas — foi adotado pela autora em uma tentativa de afastar o reconhecimento de seu nome e direcioná-lo para suas ideias. Além disso, a escolha foi uma homenagem à sua bisavó materna Bell Blair Hooks.
Como resultado de quarenta anos de ativismo pelos direitos das mulheres negras, bell hooks deixou mais de 30 livros e artigos publicados. Sem dúvida, relacionou entre eles temas que contribuíram para a pedagogia, legislação, mídia e indústria cultural.
Conheça mais sobre a trajetória de bell hooks







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Interseccionalidade e pensamento crítico
Uma das principais contribuições de bell hooks para a pedagogia tem a ver com dois conceitos fundamentais para o século XXI: pensamento crítico e interseccionalidade. Decerto, ambos são complementares e permeiam todas as obras da autora.
”Ela consegue abranger todas as áreas da nossa vida de maneira muito didática, utilizando a intersecção entre gênero, raça e classe como mediadora das relações sociais”, comenta Camilla Dias, que também é mediadora de leitura no projeto Leituras Decoloniais
Mas além de pensar de maneira crítica, ela defendia a horizontalidade e o diálogo como ferramentas centrais para o processo de ensino-aprendizagem. “Não à toa, uma das maiores inspirações de bell hooks foi o educador brasileiro Paulo Freire”, acrescenta a assistente social.
Educação libertadora e o poder do amor
Para bell hooks, a educação deve formar indivíduos preocupados com uma convivência social igualitária e respeitosa.
Sob o mesmo ponto de vista, a intelectual considera os vínculos entre estudantes e educadores como o primeiro passo para uma educação antirracista e libertadora. Dessa forma, o engajamento dos estudantes se dá a partir de uma troca que vai além do compartilhamento de informações.
“A ideia é que os profissionais da educação estejam envolvidos e atentos ao tempo-espaço. E façam conexões com o contexto atual e a realidade de cada aluno para a aprendizagem deixar de ser mecânica e tornar-se significativa”, explica Camilla Dias.
De acordo com bell hooks, todo este processo deve estar baseado no amor. Que seria uma combinação de cuidado, compromisso, conhecimento, responsabilidade, respeito e confiança.
Além disso, para a ativista, romper com as desigualdades é considerar a diversidade digna de amor em todos os espaços.
“Três palavras definem a contribuição de bell hooks para a sociedade: transformação, respeito e amor”, finaliza Camila.
Estudando pedagogia com bell hooks
Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade
No livro publicado em 1994, a autora defende a educação como a chave para combater desigualdades de gênero, raça e classe. Para ela, é preciso estabelecer uma relação horizontal e colaborativa entre estudantes e educadores. Dessa forma, o aprendizado torna-se significativo e livre de estereótipos que limitam o potencial da inovação na educação.
Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática
Lançada em 2009, a obra traz um resumo dos aprendizados de bell hooks como professora. A autora também relembra o período como estudante durante o regime de segregação racial. O objetivo é ressaltar o papel do diálogo e do pensamento crítico para a construção de uma educação libertadora dentro e fora da sala de aula.
Ensinando comunidade: pedagogia da esperança
O livro, que completa a Tríade do Ensino de bell hooks, tem como foco o desenvolvimento integral de crianças e jovens. A ideia é trazer o conceito de comunidade como potencializador da educação. Segundo a autora, para uma educação significativa e antirracista, é necessário ir além dos muros da escola.