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Por Gabriela Rodrigues e Ana Luísa Vieira, do Promenino,
com Cidade Escola Aprendiz
“A Leitura do Mundo precede a leitura da palavra.” Essa é uma das premissas do legado de Paulo Freire (1921-1997). Para o educador pernambucano, patrono da educação brasileira, ler o mundo é uma das formas mais autênticas de se conhecer a realidade, a comunidade e as nossas necessidades dentro da sociedade.
O pensamento freiriano inspira práticas pedagógicas e se reflete nas iniciativas dos atores do Sistema de Garantia dos Direitos da Infância e da Adolescência. É também fonte do Projeto Catavento, do Instituto Aliança, ONG sediada em Salvador (BA).
Após realizar um trabalho de monitoramento de visita focado no trabalho infantil em 18 municípios do Semiárido Nordeste da Bahia, a equipe identificou a necessidade de criar um documento para auxiliar a criação de propostas pedagógicas para integrantes dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) da região. O plano central era o de condensar, em um mesmo material, sugestões e estratégias de atendimento a situações de vulnerabilidade, principalmente no que se refere às piores formas de trabalho ainda exercidas por crianças e adolescentes.
De volta a Salvador, Graça Gadelha, consultora sênior, e Ilma Oliveira, fundadora do Instituto, reuniram-se para colocar a ideia no papel. O resultado, recém-lançado, é uma coleção de três cadernos com o olhar voltado para as etapas do desenvolvimento infantojuvenil, divididos por temáticas: “Proposta Político-Pedagógica”, “Práticas e Vivências” e “Livro de Referências/Subsídios”.
“A organização em cadernos aconteceu para facilitar o manuseio por parte do leitor, para que encontrasse sua área de interesse. A ideia é facilitar o acesso às áreas consolidadas”, explica Ilma de Oliveira.
Em entrevista ao Promenino, Ilma ressalta que, inicialmente, as publicações foram pensadas para o público das redes socioassistenciais, especificamente os educadores do SCFV. Entretanto, por possuírem uma linguagem de fácil entendimento, não ficam restritas a eles: podem ser utilizadas por professores e pessoas ligadas ao desenvolvimento de crianças e adolescentes.
“A sistematização foi feita tanto com base na experiência do Instituto Aliança na área de direitos humanos e, também, com a nossa experiência com as áreas de inserção socioprodutiva de adolescentes e jovens nas áreas de saúde, convivência e cidadania”, destaca Ilma.
Graça Gadelha, que também é socióloga e especialista na área da Infância e da juventude, ressalta que cadernos, com mais de cem páginas cada, são resultado de uma parceria entre o Instituto Aliança com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), no âmbito do Projeto Catavento, “em busca de instrumentalizar profissionais da rede de proteção para uma correta identificação e atendimento dos casos de trabalho infantil, a partir de práticas sustentadas em uma proposta político-pedagógica.”
“Com o decisivo apoio da Fundação Telefônica Vivo em 2014 e 2015, o material foi utilizado em todas as capacitações para o enfrentamento ao trabalho infantil, envolvendo gestores, profissionais, representantes do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente e articuladores locais, em dez estados cujos municípios aderiram ao Selo UNICEF”, comenta. Agora, com a coleção disponível para download, Graça mostra que a estratégia utilizada de formação em serviço “não só valoriza os profissionais que atuam nesta área, como também reconhece a importância de cada município na efetivação políticas públicas voltadas à prevenção e a eliminação do trabalho infantil.”
No caderno “Proposta Político-Pedagógica (PPP)” são apresentados conceitos e sugestões para o entendimento sobre relações e construção do conhecimento e dos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. O material busca explicar quais meios e metodologias são adotadas por instituições de ensino. Além disso, o plano aborda questões sociais ligadas à educação e aprendizado. O caderno aborda, ainda, temas como medidas socioeducativas, educação social e desenvolvimento da escola, família e da comunidade.
“O processo de aprendizado deve ser uma via de mão dupla,
autonomia e liberdade”
O caderno “Práticas e Vivências” traz orientações para equipes de profissionais que trabalham na formação de crianças e adolescentes, atendidos no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV). A publicação destaca a importância da formação para o domínio da proposta pedagógica, entre outros pontos importantes. A relação entre educador e educando também ganha destaque, pois dessa relação se constrói um ambiente de ensino saudável.
Já o caderno “Referências/Subsídios” traz à tona a questão da formação da criança, da passagem de um estágio para outro, o crescimento e o desenvolvimento em meio à sociedade. Desta forma, o texto cita o quão relevante é que o educador tenha consciência e sensibilidade ao trabalhar com a infância e a adolescência. Ao longo da publicação, há capítulos destinados à participação da família na formação e desenvolvimento da criança e do adolescente, visto que grande parte das violações de direitos dos jovens envolvem direta ou indiretamente os familiares e têm ligação com a convivência familiar.