Diante da maior crise sanitária mundial, a Ciência de Dados e a tecnologia possibilitaram acesso rápido à informação, ajudando a salvar vidas e servindo como recurso de ensino-aprendizagem
Dentre as muitas consequências para diversos setores da sociedade, a Covid-19 impôs o distanciamento social a mais de 1,6 bilhão de estudantes em 191 países, de acordo com a Unesco. Nesse aspecto, a Ciência de Dados na educação durante a pandemia teve papel primordial e, posteriormente, trouxe insumos para avaliar o retorno às aulas presenciais.
Por exemplo, o uso de dados permitiu o acompanhamento da saúde emocional e física de professores e alunos. Além disso, contribuiu com estratégias para reverter as perdas educacionais, ocasionadas pelo fechamento das escolas.
Nesse sentido, André Filipe Batista, professor e coordenador do Centro de Data Science do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), acredita que a Ciência de Dados na educação teve o papel de coletar e entender a complexidade do que esse fenômeno gerou na vida dos estudantes e educadores.
“Além de entender os severos impactos no processo de aprendizagem e no processo de ensinar. Isso trouxe insumos para pensar nas principais demandas educacionais a serem trabalhadas imediatamente pelas escolas no retorno presencial”, afirma André.
De fato, professores e alunos reduziram as possibilidades de contaminação estando longe dos espaços físicos das escolas. Entretanto, tiveram que se adaptar ao ensino a distância. Ou seja, essa mudança significou um rompimento do processo tradicional de aprendizagem e exigiu novas estratégias para garantir a qualidade do ensino.
Usando os dados para ensinar
De acordo com André Filipe, a Ciência de Dados na educação também pode ser uma forma de engajar os estudantes no processo de ensino-aprendizagem.
Afinal, gráficos e projeções numéricas apresentados pelos noticiários com dados sobre a pandemia passaram a fazer parte do dia a dia das pessoas. De tal forma que esses números podem ser utilizados pelos professores em sala de aula para desenvolver as habilidades matemáticas dos alunos, aproximando os dados da sua realidade.
“Acredito que o professor pode utilizar dados e gráficos para montar uma linha temporal e trabalhar observando a distribuição espacial ao longo dos países. Inclusive, ele pode comparar com os dados do Brasil. Ao final, pode contextualizar as diferentes realidades das regiões brasileiras”, exemplifica.
Nesse sentido, os educadores podem trabalhar a análise e a construção de gráficos tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio. Assim, incentivando nos estudantes o desenvolvimento de habilidades de leitura e interpretação de dados.
“Os alunos podem compreender que os dados passam pelo processo de coleta, organização e interpretação para gerar uma tomada de decisões”, pontua o coordenador do Insper.
Outro exemplo de atividade é convidar os alunos para realizar entrevistas com pessoas da comunidade ou da família. O objetivo será levantar informações sobre quem foi infectado ou não pelo vírus e quem se vacinou. Ao passo que esses dados podem levar o estudante a pensar sobre a doença em seu entorno.
“O professor pode elaborar uma planilha e colocar esses dados, apresentando os resultados para análise junto aos alunos na sala de aula”, destaca André.
Ciência de Dados nas pandemias: passado e presente
No século XIX, a cólera só foi controlada após seis pandemias. Ela durou 60 anos e matou milhões de pessoas. A primeira pandemia de cólera teve origem na Índia (1817-1824). Mas foi somente a partir da segunda, entre 1829 e 1837, que a comunidade científica levantou as primeiras hipóteses sobre a doença, conforme explica o professor André.
“O dr. John Snow fez o rastreamento da identificação de cólera apenas em 1854, descobrindo que a transmissão ocorria pela água. Esse foi um dos primeiros trabalhos de Ciência de Dados, muito antes de termos esse termo. Agora, fazemos isso de forma mais precisa, com uma capacidade de interpretação de informações que vai nos ajudar no futuro”, afirma.
Na pandemia da Covid-19, a Ciência de Dados se fortaleceu e se mostrou como uma ferramenta de apoio à gestão em uma crise sanitária. Foi ela que trouxe o Dashboard mais acessado na história da humanidade. O mapa de monitoramento em tempo real dos casos e mortes pelo coronavírus chegou a receber entre três e cinco bilhões de interações diárias. A plataforma foi criada pela Universidade Johns Hopkins (EUA) e é utilizada por agências governamentais, departamentos de saúde pública e veículos de mídia para reportar informações sobre o andamento da pandemia.
Em outras palavras, as ciências, em todas as suas vertentes, se voltaram para a realização de pesquisas e levantamento números que salvaram vidas e servirão para o caso de novas crises.
“A crise sanitária foi a demonstração de um evento complexo, no qual não tínhamos precedentes para explicar o dinamismo do vírus e seu comportamento. Então, conseguimos fazer modelos que nos dessem com exatidão o número de casos que teríamos. Mas foi por meio de dados de ocorrência da doença que a gente pôde entender a dimensão da pandemia”, finaliza André Filipe Batista.