Partícula subatômica, contagem de neurônios no cérebro humano, cultivo revolucionário de soja são algumas descobertas de importantes cientistas brasileiros.
Ciência e tecnologia estão entre os assuntos que mais interessam aos jovens do Brasil. Apesar disso, 93% não sabem citar o nome de cientistas brasileiros, e 87% não conseguiram citar uma única instituição nacional de pesquisa, incluindo as universidades do país.
Esses foram os achados de uma recente pesquisa do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), realizada com 2.206 jovens, entre 15 e 24 anos, em todo o Brasil.
Para mudar esse quadro o gosto pela ciência deve ser estimulado desde cedo nas escolas. Além disso, a ciência deve refletir a diversidade, com maior representatividade de gênero e raça na profissão, como apontou Anna Benite, integrante da Associação Brasileira de Pesquisa e Ensino de Ciências e da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).
“É assim que se muda esse quadro de interesse da juventude, por meio do ensino de uma ciência que seja plural e que dialogue com os problemas de uma sociedade real, que seja dinâmica e cative os alunos justamente por ser viva e empolgar”, disse em entrevista à Fundação Telefônica Vivo.
Com a ajuda das iniciativas Nunca Vi 1 Cientista, Via Saber e da Academia Brasileira de Ciências, separamos oito perfis de cientistas brasileiros com reconhecimento internacional. Confira:
Vital Brazil (1865-1950)
Nascido em Minas Gerais, Vital Brazil formou-se em medicina no Rio de Janeiro, em 1891. É um dos mais importantes cientistas brasileiros. O médico liderou o combate a diversas doenças, como febre amarela, cólera, varíola e peste bubônica. Além disso, foi pioneiro nas pesquisas científicas e na produção de soros específicos contra veneno de animais peçonhentos. Seu método de neutralização do veneno é até hoje o mais eficaz e usado em todo o mundo. Em 1901, fundou o Instituto Butantan, em São Paulo, e em 1919, o Instituto de Pesquisas que leva seu nome, no Rio de Janeiro.
Juliano Moreira (1872 – 1933)
Considerado o fundador da psiquiatria no Brasil, o baiano Juliano Moreira, de família pobre, lutou contra o racismo científico da época. Ajudou a fundar a Sociedade de Medicina e Cirurgia e a Sociedade de Medicina Legal da Bahia. Durante sua atuação, lutou pela proteção dos direitos das pessoas com transtornos mentais e contra o tratamento usual de doenças mentais no início do século XX, que incluía amarrar e isolar os pacientes. Como diretor do Hospital dos Alienados, o cientista brasileiro instituiu também a assistência aos familiares e reativou as oficinas de trabalho, iniciativas essenciais para a reintegração dos pacientes à sociedade.
Graziela Maciel Barroso (1912 – 2003)
Conhecida como “a primeira dama da botânica brasileira”, foi mentora de quase todo botânico brasileiro que se formou no país nos últimos 50 anos. Seu livro Sistemas de Angiospermas do Brasil é referência internacional na área e bibliografia básica de todas as universidades do país. Em sua homenagem, mais de 25 espécies vegetais identificadas nos últimos anos foram batizadas com seu nome. Foi eleita para a Academia Brasileira de Ciências em 2003, mas faleceu antes de tomar posse.
César Lattes (1924 – 2005)
Nascido em Curitiba (PR), o físico César Lattes é coautor de uma das maiores descobertas da física moderna: o méson pi, partícula subatômica com massa cerca de 300 vezes superior à do elétron. Descrita pelo físico em 1947, a descoberta foi decisiva para os rumos da física de alta energia, que culminou com a construção do maior acelerador de partículas do mundo.
Grande entusiasta da pesquisa científica, Lattes participou da criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro, e teve forte atuação dentro do grupo responsável pela criação do CNPq, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada. Em sua homenagem, o CNPq batizou o sistema utilizado para cadastrar estudantes, pesquisadores e cientistas brasileiros de Plataforma Lattes.
Johanna Dobereiner (1924-2000)
A agrônoma tcheca naturalizada brasileira desenvolveu um trabalho revolucionário na Embrapa. Enquanto o mundo apostava no uso de adubos químicos para o plantio de soja, Johanna descobriu que bactérias potencializavam o cultivo da leguminosa dispensando o uso de fertilizantes. A descoberta gera uma economia de 7 bilhões de dólares no plantio de soja todos os anos.
Segundo o Via Saber, foi graças ao trabalho de Johanna que o Brasil se consagrou como maior produtor de soja do mundo. A agrônoma foi indicada ao Prêmio Nobel de Química em 1997 e entrou para a Academia de Ciências do Vaticano. Foi também uma das responsáveis pelo Proálcool, iniciativa do governo brasileiro que estimulou a produção de etanol como alternativa à gasolina.
Mayana Zatz
Quando se fala em pesquisas com células-tronco, Mayana Zatz é referência. Nascida em Israel, ela veio para o Brasil ainda criança. Graduada em ciências biológicas na década de 60, especializou-se em estudos genéticos e moleculares das distrofias musculares, doenças genéticas que levam à destruição dos músculos no corpo.
A cientista brasileira participou ativamente da aprovação das pesquisas com células-tronco em 2005. Ganhou vários prêmios internacionais e nacionais. Atualmente é professora titular de genética do Instituto de Biociências da USP, coordenadora do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-Tronco do Instituto Nacional de Células-Tronco, além de fundadora da Associação Brasileira de Distrofia Muscular.
Miguel Nicolelis (1961)
Nascido em São Paulo, o neurocientista brasileiro é professor e pesquisador da Duke University, nos Estados Unidos, e um dos maiores nomes da área. Sua pesquisa está voltada para a integração de mente e corpo e seus projetos têm o objetivo de recuperar o movimento de pessoas com alguma restrição. Ganhou a atenção dos brasileiros com a criação do exoesqueleto utilizado pelo paraplégico Juliano Pinto para dar o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014.
Em 2011, o cientista brasileiro foi nomeado pelo Papa Bento XVI como Membro Ordinário da Pontifícia Academia das Ciências. Fundada em 1603, em Roma, é considerada a primeira academia científica do mundo, tendo membros históricos como Galileu Galilei.
Suzana Herculano-Houzel (1972)
O que faz o cérebro humano ser tão especial? Foi atrás dessa pergunta que carioca Suzana Herculano revolucionou a área de neurociências. Dedicada ao estudo da anatomia comparada do cérebro de diferentes animais para entender a evolução dos seres humanos, ela inventou um novo e mais preciso método para contar as células do cérebro, reconhecido no mundo todo. Em sua palestra TED Talk ela explica mais sobre como chegou ao número de 86 bilhões de neurônios e discorre sobre o desenvolvimento do cérebro humano.