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Entenda como a música favorece a formação integral do indivíduo e pode ser um ótimo recurso pedagógico

O professor de violino Ezequiel Sieba está em sala de aula com os alunos tocando violino

Ainda na barriga, entre o 3º e o 5º mês de gestação, o bebê completa a formação de seu primeiro sentido: a audição. Assim, ele já começa a identificar sons, com destaque especial para a voz e as batidas do coração da mãe. Quando nasce, as cantigas de ninar e de acalento vão embalar muitos de seus sonos, curar alguns choros, provocar risos, estreitar conexões e introduzi-lo no universo da linguagem e dos símbolos. Por que demorar a introduzir na vida da pessoa a educação musical?

“A audição é o sentido mais aguçado da criança. O autor colombiano Evélio Cabrejo-Parra, especialista em leitura na primeira infância, costuma dizer que o bebê é um músico por excelência”, conta Diogo Borges, professor de oficina criativa na Escola de Música e Cidadania e que há dez anos trabalha com música, leitura e contação de histórias para a primeira infância.

Com seus alunos, o professor trabalha a música como um meio de se conectar com o próprio corpo. “Ela nos coloca em contato com o ritmo do nosso corpo, dá o tom da respiração. Com o passar do tempo, vamos perdendo essa conexão, a escuta fica desatenta e preguiçosa, por isso a musicalização é tão importante”, explica Diogo.  Como recurso pedagógico, a musicalização – processo de construção do conhecimento musical – é uma forma potente de promover a formação integral do ser.

Na imagem, o professor Diogo está em uma sala de aula com os alunos de mãos dadas formando uma grande roda
O professor Diogo Borges com seus alunos

A Escola Municipal de Educação Básica Professor Otílio, em São Bernardo do Campo, descobriu isso na prática quando, em 2011, resolveu promover o ensino de violino para alunos de 1º ao 5º ano.

Com o aprendizado do instrumento, as crianças ganham foco, apuram o ouvido, aprendem a lidar com as emoções e ficam mais participativas. A experiência é relatada em um dos episódios da série Janelas de Inovação, fruto da parceria entre a Fundação Telefônica Vivo e o Canal Futura.

Mais do que ensinar um instrumento, a musicalização para crianças cumpre outras funções, como explica o professor de violino Ezequiel Sieba: “A gente desenvolve uma habilidade que é tocar o instrumento violino, mas antes disso a gente tem todo um trabalho de fazer criança entender o que é música, vivenciar música com o corpo e que essa música faça sentido na vida dela”.

A música é uma das formas mais completas e acessíveis de arte. Ela não precisa ter função útil para enriquecer quem a escuta. No entanto, aprender o dó-ré-mi pode ser um ótimo recurso pedagógico, já que traz alguns benefícios comprovados pela ciência e por especialistas. Confira cinco deles a seguir:

Mais autonomia e criatividade

Dê um objeto sonoro na mão de uma criança e você vai ver como logo ela se engaja na exploração de ritmos. Entendendo a importância da descoberta dos sons cotidianos e da invenção de instrumentos como expressão e exercício da imaginação, a Prefeitura de São Paulo promoveu, entre 2013 e 2016, a implementação dos chamados Parques Sonoros em 130 Escolas de Educação Infantil da cidade.

Eles nada mais são do que um espaço físico (ou vários) onde panelas, canos, gravetos, garrafas pet e outros objetos do cotidiano são combinados pelas crianças de forma lúdica. Durante as brincadeiras, elas assumem o protagonismo e se engajam em experiências sensoriais de exploração livre de som, ritmo e melodia. A Secretaria Municipal da Educação relatou os resultados do projeto em um documento disponível para download.

Cérebro turbinado

Um estudo publicado recentemente feito pela Universidade de Amsterdã, na Holanda, apontou que crianças que iniciam o processo de musicalização na infância apresentam melhora substancial em habilidades cognitivas, como raciocínio linguístico, memória de longo prazo, concentração, capacidade de organização e planejamento. Todas características que, lá na frente, favorecem o desempenho acadêmico.

Os pesquisadores conduziram o estudo com 147 crianças de diferentes escolas de educação infantil, que receberam um conteúdo musical teórico e prático desenvolvimento pelo Ministério de Pesquisa e Educação da Holanda, em parceria com um centro especializado em educação artística. Após dois anos e meio, a performance acadêmica e as habilidades cognitivas de quem participou das aulas extras foram superiores às de crianças que, durante o mesmo período, não tiveram contato com o material.

Aumento da percepção corporal e rítmica

Independentemente do instrumento, a musicalização envolve o trabalho com ritmo, compasso e tempo. O exercício dessas habilidades está ligado à inteligência espacial e temporal, explica a psicopedagoga Quézia Bombonatto, da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). Com o ritmo, as crianças movimentam o corpo, desenvolvem a percepção espacial, a coordenação motora e a psicomotricidade.

“A compreensão teórica da música, com a distinção entre os diferentes sons de instrumentos e notas, pode ajudar as crianças a visualizarem vários elementos que devem estar juntos, como elas fariam quando resolvem um problema de matemática, por exemplo,” diz Quézia. E os benefícios acontecem até mesmo se o único instrumento trabalhado for a voz. “Para cantar, é preciso memorizar uma sequência de letras e ritmos, o que enriquece o vocabulário e exercita a memória”, ressalta a especialista.

Sociabilização

As aulas de música em grupo fazem com que as crianças busquem a harmonização sonora. Assim, abusam da escuta e aprendem a entender e respeitar o tempo e o espaço do outro. “Além de ser uma atividade que promove conexão, ela ajuda a criança a ter maior noção de grupo e do meio em que está inserida. Para os mais novinhos, pode ser uma primeira forma de se perceber como parte de uma sociedade”, analisa Quézia.

Na escola, o professor pode se valer disso para ressaltar a importância do trabalho em grupo para um bom resultado final, que geralmente vem em forma de apresentações musicais para os pais. Durante os ensaios, o convívio e o respeito ao outro emergem facilmente, assim como a autoestima de se sentir capaz e pertencente a um grupo.

Ampliação do repertório de mundo

É através da linguagem que o ser humano adentra o universo simbólico e cultural. A música é uma forma de linguagem poderosa e serve como uma espécie de mediadora entre os seres humanos e as coisas concretas do mundo.

“Quando mais cedo a música tiver envolvida nessa trama de significados que a criança adquire, mais possibilidades de sentidos, de criação e inovação essa criança vai ter. Assim, ela desenvolve novas e mais complexas formas de olhar para o mundo e para a sociedade, explica Jorge Schroeder, músico e pesquisador de música e educação no Instituto de Artes da Unicamp.

Cinco benefícios da educação musical para crianças
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