Media literacy, ou educação midiática, é uma das maneiras de formar cidadãos com senso crítico que poderão verificar quais notícias são falsas ou não
Uma notícia falsa tem 70% mais chances de viralizar do que uma notícia verdadeira, de acordo com um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), e isso não é fake news: a mesma pesquisa aponta que informações falsas circulam com mais velocidade, de forma mais profunda e com alcance maior do que fatos reais – quando o tema é política, a fake news se espalha três vezes mais rápido. Esse quadro pode ser combatido por meio da media literacy, ou educação midiática, em adaptação ao português.
“O assunto é novo no Brasil, mas significa dar ferramentas para que crianças e adolescentes saibam discernir o que são textos de opinião, reportagens, conteúdos patrocinados, sátiras etc. E, com essa melhor compreensão das informações, não acreditem facilmente nem passem para frente notícias falsas”, afirma Renata Cafardo, fundadora da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), ao Estadão.
Toda comunicação carrega uma visão que pode ser influenciada por diversos fatores como o autor, os interesses da mensagem ou o contexto no qual um conteúdo foi produzido, segundo Nina Weingrill, co-fundadora da Escola de Jornalismo da Énois líder de projetos de educação midiática da agência de jornalismo. Identificar esses pontos é o começo para que a população possa pensar de forma autônoma, especialmente os jovens.
“Se a pessoa não consegue identificar isso quando recebe um conteúdo — ou desinformação, como imagem adulterada ou sátira —, se não entende como aquele conteúdo foi feito e o que falta nele, não terá condições de questioná-lo. Isso permite que a propagação das fake news aconteça sem nenhum tipo de filtro”, completa a especialista.
Nenhuma informação é isenta
“O conceito de media literacy, ou educação midiática, busca mostrar que nenhuma informação é isenta. Por meio de ferramentas de comunicação, a ideia é que o jovem analise um conteúdo que recebe da mídia, das redes sociais ou mesmo dos livros didáticos”, afirma Weingrill.
Entretanto, a especialista reforça que essa reflexão não é o mesmo que dizer “é tudo mentira”, mas sim que é fundamental questionar e observar outras narrativas. “Quando falamos de ‘descobrimento do Brasil’ e olhamos conteúdos dos últimos 10 anos, percebemos como esse tema já foi abordado por diferentes versões”, exemplifica.
Um ambiente com alta taxa de analfabetismo como o Brasil (11,5 milhões de pessoas não sabiam ler ou escrever em 2017, segundo o IBGE) faz com que as pessoas estejam suscetíveis a receber uma informação, não compreendê-la corretamente e repassar esse dado (que pode ser falso) apenas por não saber interpretar um texto.
“As pessoas simplesmente acreditam naquilo que recebem porque confiam em quem mandou a mensagem, como um amigo ou parente. Se não damos ferramentas para que elas possam questionar, de forma autônoma, o conteúdo que recebem, estamos colaborando com esse ambiente de propagação de notícias falsas”, finaliza Nina Weingrill.
Para ajudar a melhorar esse quadro, a educação midiática foi incluída na Base Nacional Comum Curricular em 2018.
Ferramentas para não cair em fake News
As escolas podem ajudar a combater a repercussão de fake news, como explicou o professor de ciências Estêvão Zillioli, que criou um laboratório para checar notícias com os estudantes. “Os alunos vinham com questionamentos absurdos por serem consumidores passivos de conteúdo da internet. Mesmo quando resolviam checar as notícias que recebiam, usavam critérios pouco recomendáveis”, disse.
Avaliar conteúdos de forma crítica também é um dos objetivos do material preparado pela UNESCO sobre alfabetização midiática e informacional. A instituição reconhece o papel da informação e da mídia na sociedade e, por isso, acredita ser importante empoderar cidadãos a “compreender as funções da mídia e outros provedores de informação, a avaliar criticamente seus conteúdos e, como usuários e produtores de informação, tomar decisões com base nos dados disponíveis”.
Já o Guia de Letramento Midiático, feito pelo Instituto Palavra Aberta em parceria com a Nova Escola, mostra como identificar e combater a desinformação com um material para educadores trabalharem em sala de aula.
A BBC News Brasil também se debruçou sobre o universo das fake news e produziu materiais para educadores abordarem o tema. Ideias como leitura crítica, reflexão sobre fontes de conteúdo e os riscos e armadilhas das notícias falsas são apenas alguns dos tópicos abordados pela Oficina de leitura crítica de notícias do veículo.
Outra iniciativa que ajuda a diminuir o alcance dos conteúdos falsos são as agências de checagem, que se dedicam a conferir boatos e publicações que pretendem se passar como verdadeiras. A Escola de Jornalismo da Énois , além do trabalho de checagem, sistematizou metodologias de comunicação que mostram aos professores boas práticas relacionadas ao consumo de informação, como as ações citadas no vídeo abaixo: