Especialista aponta alguns caminhos para gestores e educadores levarem a BNCC para a sala de aula
Em 2020, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) deverá chegar às escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Mais do que entender os caminhos para os quais a BNCC aponta na educação brasileira, chegou a hora de professores e gestores levarem para a sala de aula, colocarem em prática, o conjunto de competências, habilidades e novas abordagens descritas pelo documento.
A criação de uma Base, com o estabelecimento de um conjunto de ensinamentos essenciais, já era prevista para o Ensino Fundamental desde a Constituição Federal de 1988. Contudo, a homologação da versão final pelo Ministério da Educação (MEC), já com a ampliação para toda a Educação Básica, veio apenas em 2017.
As discussões sobre o documento envolveram 12 milhões de pessoas de todo o Brasil por meio de seminários e audiências públicas, além de debates com mais de 9 mil professores e especialistas em educação.
Tornar a educação menos desigual é uma das intenções da BNCC, que não resolve tudo, mas é “essencial para que a mudança tenha início porque, além dos currículos, influenciará a formação inicial e continuada dos educadores, a produção de materiais didáticos, as matrizes de avaliação e os exames nacionais”, como destaca o trecho da versão final do documento.
Para Felipe Nóbrega, diretor da Escola Municipal Walmir de Freitas Monteiro, localizada em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, a grande questão para o professor está em como trabalhar todas as competências gerais que norteiam a BNCC no dia a dia da escola, ou seja, na prática.
“A Base contempla o aluno no seu desenvolvimento integral. Precisamos formatar esse cidadão do século XXI e a BNCC vem pra trazer essa visão de que a gente precisa repensar a escola e quem é o cidadão que estamos colocando no mundo. Quais as habilidades que ele deve ter ao longo da jornada escolar e como elas vão se entrelaçando com as competências que norteiam todo o documento. É um desafio bem grande”, resume.
Barreiras a serem superadas
Felipe Nóbrega, que também integra o time que estrutura materiais gratuitos da Nova Escola sobre a Base Nacional Comum Curricular para a formação de professores, acredita que o primeiro desafio está no apoio aos educadores.
“Precisamos refletir sobre o que acontece hoje no chão de escola e ouvir os educadores. A gente está falando de algo muito mais simbólico, que é o papel do professor em uma sociedade e qual a relação que existe dos governos com a formação deles”, defende Felipe.
O documento exige mudanças na forma de ensinar e a adoção de metodologias, como o STEAM, que incentiva e conecta áreas como ciência e tecnologia. E, com as mudanças, é importante oferecer tempo para que o professor possa se preparar adequadamente.
“O Brasil ainda se pauta pelo uso da teoria, onde o professor está dissociado da realidade. Mas não adianta só fazer uma formação relacionada com a realidade, é preciso tempo para o professor poder planejar, tempo para estudar e uma formação de qualidade”, elenca Nóbrega.
A Lei 11.738, que institui o piso nacional do magistério, garante um terço da jornada para estudo e planejamento dos professores, mas nem todos os Estados colocam isso em prática. Ainda assim, a gestão escolar pode apoiar os educadores nesse processo, criando grupos de estudo e momentos de trocas entre todos na escola.
Leia mais: BNCC: você sabe a diferença entre competências e habilidades?
A seguir, o especialista indica alguns caminhos para educadores colocarem a BNCC em prática.
Conhecer profundamente o texto sobre a Base Nacional Comum Curricular
A primeira dica é ler e conhecer a fundo a BNCC. Dessa forma, o professor consegue compreender que os conteúdos não mudaram, mas sim a abordagem. E aí, ele começa a ter um ponto de partida.
Estudar materiais externos
Vários sites podem ajudar a pensar novas aulas e metodologias. Existem os Objetos Digitais (ODAS), da Escola Digital, plataforma da Fundação Telefônica Vivo e do Instituto Natura, que abriga um acervo de recursos digitais gratuitos selecionados por especialistas em ensino-aprendizagem. E ainda, os planos de aula da Nova Escola, produzidos por professores, trazendo ferramentas que podem auxiliar na construção dessas novas aulas.
Aproximar-se da gestão escolar
A gestão da escola precisa estar junto com o professor para tirar dúvidas e ajudar no planejamento. Por exemplo, o professor vai pedir acesso à internet para que os alunos acessem algum jornal eletrônico, podcast e outros conteúdos online. O gestor, por sua vez, vai até a Secretaria de Educação cobrar por essas demandas. E, assim, a roda destrava e começa a andar.
Trocar experiências com outros pares
É preciso sair da caixinha e pedir ajuda, porque muitas vezes o colega já está fazendo algo em sala de aula que pode ser adaptado ou servir de inspiração. É preciso ter clareza dos desafios e daquilo que já sabem, para auxiliar a coordenação pedagógica e a gestão escolar, sem sofrer sozinho.
Manter o foco nos alunos
Colocar em prática a troca com alunos é muito importante neste momento da BNCC, porque traz a adequação à realidade. Muitos conteúdos descritos ali trazem abertura para discussões totalmente contemporâneas, então é preciso ouvir os alunos. Mais vale a simplicidade a buscar mil novidades. Muitas vezes o professor está elaborando a aula e em um bate-papo com a turma consegue tirar do papel a teoria.
Engajar a comunidade escolar
Os pais precisam saber que o currículo é novo, que a gente precisa de novas competências e entender quem é esse novo aluno que a escola brasileira quer formar. A participação da comunidade neste momento pode florescer algo muito bacana. Ano passado, indagamos aos pais da EM Walmir de Freitas Monteiro sobre como conseguir um laboratório de ciências. E fizemos isso com a participação deles.