Esse tipo de avaliação precisa do comprometimento de todos os envolvidos no negócio e o uso de ferramentas como Teoria de Mudança e Modelo C podem ser um ponto de partida.
Mensurar o impacto social de um negócio não é uma tarefa fácil e,além do próprio empreendedor, precisa envolver todos os stakeholders que fazem parte do projeto: fornecedores, colaboradores, acionistas, investidores, etc. Além disso, é preciso levar em conta outros fatores como o tempo e o investimento disponíveis para a avaliação.
Segundo Daniel Brandão, sócio-fundador da Move, que apoia organizações públicas e privadas na ampliação e qualificação dos impactos social e socioambiental de suas ações, “ter a expectativa de que o empreendedor é capaz de resolver tudo sozinho, é uma coisa um pouco perigosa. A responsabilidade é do conjunto de stakeholders ou parceiros que estão envolvidos no negócio, porque mensurar o impacto demanda bastante energia, seja intelectual, seja financeira”, afirma.
O especialista também explica que nem todo empreendedor está pronto para mediro impacto do seu negócio social. “Dependendo da fase do seu negócio, talvez possa avaliar outras coisas: processo, teste de percepção, aderência do seu produto, pesquisa de mercado, entre outras questões”, exemplifica.
A própria definição do que é impacto social não tem um único entendimento e pode variar de acordo com o tipo de iniciativa e objetivo. No episódio Os Caminhos para o Impacto Social, da segunda temporada do Pense Grande Podcast, Debora Luz, co-fundadora do Clube da Preta -primeiro clube de assinaturas de moda e acessórios afro do Brasil -mede o impacto de seu negócio para além dos resultados numéricos, baseando-se no crescimento de fornecedores.
“Cada empreendedor que entra na marca nos ensina. Eles estão empreendendo porque é a forma que arranjaram de ter renda. Ver o trajeto de transformação que eles têm até a criação da marca, é incrível. Estamos indo para o segundo ano de negócio e geramos R$ 100 mil de renda para os empreendedores dentro da nossa base e mais de 10 mil produtos de afroempreendedores distribuídos para todo o país”, conta no podcast.
Já o guia prático Avaliação para Negócios de Impacto Social, feito em parceria entre Artemisia, Move e Agenda Brasil do Futuro, define impacto social como “o conjunto de consequências, positivas e negativas, intencionais e não intencionais, que uma intervenção produz em uma dada realidade. Impacto, portanto, tem a ver com relações de causa e efeito, com desdobramentos, consequências e influências”.
Daniel Brandão explica que não existe uma única forma de avaliação ou uma ferramenta abrangente que meça impacto e resolva todas as situações e abordagens. Isso vai depender de três fatores: escala do que será avaliado, da capacidade de investimento e do tempo disponível para a avaliação.
“Esse triângulo vai definir qual a melhor abordagem e a técnica para ser utilizada. Aí você pode fazer algo simples, que dê uma leitura mais geral, mas não menos importante, ou pode fazer uma leitura mais profunda, que traga dados mais detalhados”, afirma.
Ainda que seja uma tarefa com muitas variáveis, medir o impacto social de um negócio pode começar com o apoio de ferramentas, como a Teoria de Mudança e o Modelo C.
Teoria de Mudança como ferramenta
A Teoria de Mudança é uma ferramenta com uso amplo, que pode ser aplicada em vários momentos do negócio e não apenas para apoiar o processo de medir impacto social.Seja na hora de testar um produto básico, em um projeto na fase inicial, ou mesmo quando se tem apenas uma ideia e poucos recursos disponíveis.
Reunindo elementos de forma lógica e relacionando ações, produtos, resultados e impacto, a Teoria de Mudança procura traduzir, de maneira simples e criativa, os maiores compromissos de uma iniciativa.
Fonte: Guia Prático – Avaliação para Negócios de Impacto Social
Daniel resume: “é uma ferramenta para construir uma clara narrativa da cadeia de valores ou de resultados para a produção de impacto. Deixa claro qual é o impacto e de qual resultado ele depende. A partir disso, o empreendedor pode tomar decisões gerenciais que orientam que tipo de avaliação vai fazer, quando e quais indicadores”.
Modelo C
Outra ferramenta estratégica é o Modelo C, que também pode ser usada de forma contínua para promover melhorias internas em negócio de impacto. Seja para formatar uma ideia em estágio inicial, revisitar o modelo de negócio inicialmente proposto ou até avaliar a robustez de um negócio de impacto de um ponto de vista externo.
De modo geral, o Modelo C expande o Business ModelCanvas e avalia elementos como beneficiários, valor social e canais de relacionamento, incorporando novas dimensões da Teoria de Mudança: Oportunidade de Mercado, Equipe e Resultado Financeiro.
“O Modelo C promove uma discussão em outro nível da Teoria de Mudança, que é como ela se liga ao plano de negócio, o que para o empreendedor é muito importante”, afirma Daniel Brandão. Este guia sobre o Modelo C, feito pela Move em parceria com ICE (Inovação em Cidadania Empresarial), Fundação Grupo Boticário e SenseLab, traz mais detalhes sobre a aplicação prática da ferramenta.
A metodologia Pense Grande aborda em detalhes outras ferramentas e caminhos para empreender. Além disso, é possível expandir a discussão ouvindo os episódios da segunda temporada do Pense Grande Podcast, em que empreendedores dão dicas sobre temas que vão de autocuidado e gestão de recursos até cultura maker e produção de conteúdo. Confira!