A escola pode representar um papel central para incentivar as mentes criativas por trás das soluções transformadoras da sociedade. Entenda!
Um levantamento feito pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) analisou a porcentagem de artigos assinados por mulheres no período entre 2014 e 2017 e apontou que 72% das publicações científicas foram escritas por mulheres. No entanto, elas representam apenas 14% do total de pesquisadores da Academia Brasileira de Ciências.
Uma das estratégias para reverter esse cenário é desmistificar o estigma construído historicamente de que meninas são melhores desempenhando papéis nas áreas relacionadas ao cuidado ou às humanidades.
“Quando foram confinadas a um serviço doméstico não remunerado, as mulheres também passaram a ser menos valorizadas e remuneradas no mercado de trabalho. Isso reforça uma sociedade que dita os padrões da nossa capacidade”, afirma Anna Canavarro Benite, Doutora e Mestre em Ciências e professora da Universidade Federal de Goiás (GO).
Para relembrar a sociedade do papel fundamental ocupado pelas mulheres, as mentes por trás das descobertas científicas transformadoras, a UNESCO e a ONU Mulheres estabeleceram, desde 2015, o dia 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.
Mulheres na Ciência
Marie Curie foi a primeira pessoa no mundo a ganhar dois prêmios Nobel nas categorias Química e Física. Ada Lovelace foi a primeira a programar, Alice Ball estudou o tratamento para a lepra, e Rosalind Franklin descobriu a estrutura de dupla-hélice do DNA. Essa história continua a ser escrita por muitos nomes, embora nem sempre o papel das mulheres na Ciência seja destacado nos livros didáticos.
Em um contexto de pandemia global, o mundo voltou os olhos para a Ciência e enxergou mulheres na linha de frente do combate à COVID-19. Jaqueline Goes, junto com os colegas no Laboratório de Medicina da USP, sequenciou em dois dias o genoma do coronavírus após os primeiros casos na América Latina. A técnica usada para decifrar a sequência do RNA do vírus foi trazida ao Brasil pela professora e pesquisadora Ester Sabino.
Foi também no ano passado que o Prêmio Nobel de Ciência contemplou, pela primeira vez em 11 anos, três mulheres cientistas nas categorias Física e Química. A astrônoma norte-americana Andrea Ghez, a microbiologista francesa Emmanuelle Charpentier e a bioquímica norte-americana Jennifer Doudna foram as homenageadas da edição. Em 120 anos de premiação, apenas 3,68% dos vencedores foram mulheres.
Desconstrução de papéis a partir do currículo escolar
Na opinião da doutora, essa mudança de paradigma começa na escola. É no ambiente escolar que os sujeitos se reúnem com crenças, valores e culturas diferentes da apresentada no núcleo familiar. Mas quando o currículo é formulado a partir de um sujeito único e para um determinado grupo, essas diversidades não são contempladas e acabam por homogeneizar o aprendizado.
Coordenadora do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão e do CIATA- Grupo de Estudos sobre a Descolonização do Currículo de Ciências, Anna desafia os padrões ditados. Mulher negra e cientista, ela projeta o ensino de Química voltado para as matrizes afro-brasileiras e da diáspora. Em 2016, surgiu a ideia de levar esse conhecimento para além da Universidade.
O movimento social Dandaras do Cerrado, a Universidade Federal de Goiás e a Escola Estadual Sólon do Amaral formaram uma gestão colaborativa para incentivar meninas na escolha de carreiras nas áreas de Ciência e Tecnologia. Localizada na periferia da cidade, a escola atende 1.500 estudantes e uma comunidade escolar que alcança 50 mil pessoas.
“O Investiga Menina foca em um recorte de gênero e raça, embora os meninos também participem. Nós vamos às salas de aulas uma vez por semana e trabalhamos componentes do currículo regular usando como base as descobertas de cientistas mulheres, negras, brasileiras e contemporâneas. A ideia é poder proporcionar um encontro presencial entre as cientistas e as estudantes”, explica a educadora.
Anna relembra o dia em que Sônia Guimarães, física e pesquisadora do ITA, foi à escola para discutir o conceito por trás dos átomos e explicou o processo usando celulares e controles remotos como exemplo, para se conectar à realidade delas.
“Assim a gente dá significado a essa Ciência e desperta a vontade de seguir carreiras científicas, pois estabelecemos uma relação de proximidade, visibilidade e representatividade”, conclui.
Confira alguns recursos disponíveis na plataforma Escola Digital para abordar a temática com os alunos.
Roteiro de estudos “Mulheres na Ciência” – Os professores do Simplifica Educação, projeto da Universidade de Brasília, disponibilizaram um roteiro de estudos gratuito, voltado para os 8º anos do Ensino Fundamental. O objetivo é apresentar trajetórias de mulheres cientistas e refletir sobre o fato de essa perspectiva não estar contemplada pelo currículo regular.
Plano de Aula de Inglês “Mulheres na Ciência” – Provando que as perspectivas podem ser ressignificadas em qualquer disciplina, a Nova Escola também disponibilizou um plano de aula de inglês gratuito para refletir sobre o papel das mulheres na ciência. Voltado para o 9º ano do Fundamental, o roteiro trabalha ao mesmo tempo a reflexão e a capacidade de argumentação em outro idioma.
Vídeo “A dominação masculina e o papel da mulher na ciência” – Esse Objeto Digital de Aprendizagem (ODA) em formato de vídeo é o tema da palestra da professora Márcia Barbosa durante o Ciclo de Conferências ILEA. Na primeira parte do programa, ela fala sobre as dificuldades, os mitos e a inclusão das mulheres na ciência.