As redes sociais que estão mobilizando o interesse dos jovens ao redor do mundo, também podem ser apropriadas pelos educadores como ferramentas de desenvolvimento, engajamento e criação de vínculos. Descubra como!
Engajar os jovens do século XXI é um dos maiores desafios para os educadores e uma grande aposta das redes sociais. Ainda que você não tenha entre 15 e 29 anos, é muito provável que já tenha ouvido falar sobre o TikTok, o aplicativo que vem mobilizando a criatividade e a atenção dos estudantes – e não à toa, podemos pensar em utilizá-lo na educação.
A rede social chinesa tem uma proposta muito simples: compartilhar vídeos de curta duração — que podem ter entre 15 e 60 segundos — com os mais variados efeitos visuais e sonoros para acrescentar na narrativa.
Mesmo sendo novato no mercado, o TikTok alcançou, de 2019 para cá, cerca de 1,5 bilhão de usuários e ocupou o status de quarta maior rede social do mundo. Além disso, a ferramenta se popularizou durante a pandemia, por conectar iniciativas e pessoas através dos famosos challenges (desafios).
O fenômeno apressou outras empresas de tecnologia a criarem funcionalidades semelhantes. É o caso do Instagram Reels, lançado em junho de 2020 no Brasil. A ideia é oferecer as mesmas dinâmicas de audiovisual e integrá-las à plataforma já consagrada.
Concorrentes ou não, as duas ferramentas têm algo em comum, o interesse dos jovens estudantes. Por conta dessa característica, ambas se revelaram também uma possibilidade para a educação. Já há exemplos de como usar o TikTok e o Reels para trazê-los para o centro da aprendizagem e desenvolver habilidades relevantes.
“Estamos falando em produção de vídeos. Ainda que sejam curtos e muito específicos, trabalham habilidades relacionadas à construção de roteiro, adaptação de cenário, iluminação, linguagem adequada. Isso sem contar a reflexão sobre a participação e identidade nas redes sociais, trabalhando a cidadania digital”, diz Helena Mendonça, coordenadora da área de Tecnologias Educacionais da Escola da Vila.
Entenda o que são os challenges e como usá-los
Os challenges — desafios, em português — nada mais são do que convites de interação lançados por meio de hashtags para conectar os usuários. Há uma infinidade de possibilidades que vão desde mobilizações em prol de causas sociais até brincadeiras e passos de dança.
O próprio aplicativo reconheceu o potencial dessa conexão para propósitos maiores, quando lançou a #LearnOnTikTok, que quer dizer “aprenda no TikTok”. Sobretudo durante a pandemia de coronavírus, a plataforma foi apropriada por educadores e estudantes para compartilhar conteúdos de uma forma divertida e acessível.
Os educadores podem “lançar um desafio” pedindo para que seus estudantes gravem vídeos interpretando textos, fazendo experimentos químicos, simplificando macetes matemáticos em 15 segundos, usando fotos históricas como plano de fundo entre outras opções que vão trabalhar a capacidade de memorização, criatividade e protagonismo.
Engajamento e criação de vínculos
Ao escolher a música, as falas, o figurino os estudantes passam por um processo de seleção e coordenação de seus próprios movimentos. É rápido e divertido, mas existe um trabalho complexo de narrativa e autonomia nesta produção. Foi o que pensou a educadora Carla Silveira, ao trazer a ferramenta como alternativa de engajamento das turmas para as quais leciona na cidade de Canindé (SE).
A professora de Educação Física e Projeto de Vida da rede estadual de Sergipe, conta que teve de se reinventar durante a pandemia e encontrar um ponto de conexão com os estudantes.
“Percebi que os alunos não se interessavam pelas aulas no Google Classroom e muitos estavam até desistindo de estudar. Então lembrei do TikTok, ferramenta apresentada nos encontros da Rede Pense Grande, e decidi baixá-lo para testar. Ser educador exige uma busca constante de novos caminhos e dinâmicas de aprendizagem”, compartilha.
Superado o desafio inicial, que foi criar uma conta e fazer um vídeo convidando a turma para participar da atividade, Carla preparou uma aula para explicar sobre as danças urbanas, introduzindo elementos como o grafite e o hip-hop. A partir de então, os estudantes tiveram de escolher uma música e um tipo de dança com o qual tinham se identificado mais.
“Quando propomos a participação e o uso da criatividade pelos alunos estamos buscando conhecê-los e também associar o conteúdo à realidade deles. A maior parte da turma ficou muito entusiasmada, outros ficaram tímidos e não quiseram gravar, mas todos se divertiram e aprenderam quando viram os vídeos dos colegas”, relata Carla.
Para a educadora, a participação e o interesse do educador nesse processo é fundamental para motivá-los, principalmente porque nem todos os jovens estão familiarizados com a ferramenta. Carla resgata um ensinamento de Paulo Freire quando afirma que ensinar é muito mais do que transferir conhecimento, mas sim criar vínculos e fortalecer laços.
Tecnologia como ferramenta de preservação cultural
Além de trabalharem o engajamento e o desenvolvimento dos estudantes, o TikTok e o Reels também podem ser utilizados como ferramenta de preservação e disseminação da cultura brasileira. É o que conta a educadora Lívia Oliveira, que leciona há 20 anos na Comunidade Remanescente de Quilombo em São Braz, na Bahia.
Mulher preta, quilombola e poetisa, Lívia também é gestora do Centro Educacional Municipal Professora Ana Judite de Araújo Melo há dois anos. Lá, atende estudantes do Ensino Fundamental II que são filhos de pescadores e marisqueiras, as duas atividades econômicas centrais da comunidade.
A proposta de usar o TikTok como forma de chamar os jovens para o entendimento da própria cultura, veio a partir de um grupo com outras escolas que foram premiadas por uma iniciativa da Nestlé.
Antes da pandemia, a ideia era incentivar os jovens a moverem seus corpos a partir da cultura local, envolvendo-se em oficinas laborais e danças como samba-chula, capoeira, bumba-meu-boi. Na impossibilidade de levar a prática adiante presencialmente, a alternativa foi encontrar uma forma de conectar essas vivências a distância.
“Não tem um dia que eu não veja um vídeo do TikTok no meu celular. Temos que acompanhar a evolução tecnológica ou ficaremos para trás. Pensamos que por meio dessa atividade, os estudantes poderiam desenvolver habilidades motoras, cognitivas e, ao mesmo tempo, valorizar a nossa cultura”, afirma a educadora.
Cada turma tem um grupo de WhatsApp para organizar o roteiro das atividades, com as datas e horas da postagem dos vídeos. Há também uma turma responsável por criar e gerenciar as redes sociais da escola, para divulgar os trabalhos e as ações.
CURIOSIDADES
Exemplos que ‘viralizaram’ o aprendizado nas redes
Professora Carolina Mendonça – A educadora carioca, Carol Mendonça, é também dona do canal Português para Desesperados, voltado para o ensino da língua para concursos públicos e para o Enem. Além do YouTube, Carol aposta no Instagram e no TikTok como forma de trazer os conteúdos de maneira divertida e relacionada ao contexto atual.
Andrew Kozlowksy – O professor de história norte-americano, dá aulas para o ensino médio na cidade de Gaithersburg. Ele propôs para suas turmas o uso do TikTok para aprender sobre a Guerra Civil Americana
Alexis Loveraz → O estudante norte-americano de 16 anos passou a dar aulas de ciências e matemática através de vídeos curtos gravados no aplicativo. A ideia veio para ajudar os colegas a manterem os estudos durante o período de ensino remoto.
Fiquem atentos, educadores!
A coordenadora de tecnologias, Helena Mendonça relembra aos educadores que a idade mínima para uso do TikTok é de 13 anos, bem como a do Instagram. Portanto, o ideal é que atividades usando redes sociais sejam desenvolvidas com as turmas a partir do Ensino Fundamental II.“A escola precisa discutir com os estudantes temas como políticas de uso de dados, para que eles também entendam seus direitos e como as redes utilizam essas informações pessoais deles”, alerta a educadora.Mesmo assim, há a possibilidade de abordar temas como uso consciente das redes e outras competências digitais relacionadas à produção de vídeos com as crianças mais novas, a partir de análises dos tipos de canais do YouTube e discussões sobre o uso das tecnologias.