Conheça o movimento Data for Good, que convoca fundações e organizações sociais a utilizarem análise de dados em prol do bem
Inspirar soluções para melhorar a qualidade de vida das pessoas, aumentar a inclusão financeira, tornar as ruas mais seguras, reduzir os impactos ambientais, criar rede de combate à corrupção. São muitos os benefícios gerados a partir de coleta, processamento e análise de dados de usuários na rede. Pensando nisso, o Social Good Brasil e a Fundação Telefônica Vivo uniram esforços para lançar o movimento Data for Good Brasil.
O movimento é uma convocação para que empresas privadas, terceiro setor e governos possam se apropriar de dados disponíveis e usá-los, de forma ética e responsável, para causar impacto social. “Nós estamos falando de melhorar a qualidade de vida das pessoas, a educação, a saúde. É ter um olhar mais social para inovação e tecnologia”, explica Carolina de Andrade, diretora-executiva do Social Good Brasil, organização global criada para potencializar competências humanas e tecnologias de impacto para inspirar pessoas e organizações na resolução de problemas sociais.
“Os dados podem trazer respostas que nos tiram da obviedade. Em vez de tomarmos a decisão para projetos de acordo com aquilo que a gente acha que vai causar impacto, os dados apontam a melhor solução com maior precisão”, acredita Americo Mattar, diretor-presidente da Fundação Telefônica Vivo.
Exemplos que inspiram
A Social Good Brasil iniciou suas atividades em 2012 e já está presente em 89% dos estados brasileiros, seguindo um extenso calendário de eventos, seminários e festivais, além de prestar consultoria para empreendedores sociais. Com a Fundação Telefônica Vivo, lançou, em 2018, o Data for Good para conectar interesses, causas comuns e criar novas oportunidades de colaboração e parcerias.
Em evento realizado na última segunda-feira, 11, no laboratório de inovação Vivo Digital Labs, os idealizadores apresentaram o movimento a mais de trinta representantes de fundações e organizações sociais. Além de ficarem por dentro do manifesto, os participantes conheceram dois exemplos que reuniram dados para causar um grande impacto social.
Claudio Alberto Ikeda, diretor de BI e Big Data da Vivo, apresentou um projeto da empresa que usa dados mobile de deslocamento dos usuários para monitorar a poluição que sai do escapamento dos carros. “A partir das zonas de deslocamento, a gente consegue mapear os níveis de poluição com precisão em qualquer ponto da cidade de São Paulo a qualquer hora. Com dados como este na mão do poder público, é possível criar controles de tráfego na cidade para minimizar os níveis de poluição”, explicou.
Além do mapeamento, o projeto foi propositivo. Levantou mais de três mil funcionários da Vivo que teriam a possibilidade de trabalhar pedalando e, em breve, pretende instalar pontos de bicicletas elétricas que incentivem o deslocamento sem poluentes. “A ideia não é apenas monitorar, mas usar os dados para uma ação concreta que cause efeito positivo na emissão de poluentes”, anuncia Ikeda.
Outro caso foi apresentado por Leandro Devegilli, co-fundador da empresa Data Science Brigade, responsável pela iniciativa Serenata de Amor, um projeto aberto que usa ciência de dados para fiscalizar gastos públicos e compartilhar informações de forma acessível a qualquer pessoa.
A iniciativa de 2017, realizada por meio de financiamento coletivo, é movida pela Rosie, uma inteligência artificial capaz de analisar os gastos reembolsados pela Cota para Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP), de deputados federais e senadores, feitos em exercício de sua função, identificando suspeitas e incentivando a população a questioná-los.
“Existe uma diferença entre dados disponíveis e dados acessíveis. Uma nota fiscal de combustível de um deputado, por exemplo, leva mais de 13 cliques para ser encontrada no Portal da Transparência. O que fizemos foi usar a inteligência artificial para cruzar dados e deixa-los acessíveis ao público”, explicou Leandro.
Atuação em rede
O movimento Data for Good é um desafio para organizações que têm acesso à dados, especialmente às empresas de Telecomunicações. As discussões sobre a responsabilidade das organizações em como coletar e tratar os dados de usuários de forma ética e de positiva será aquecida pela Lei Geral de Proteção de Dados, que entra em vigor em 2020.
A formação da rede vai ser fundamental para que as organizações filantrópicas sejam mais eficientes ao promover o bem social. É o que acredita Graziela Santiago, coordenadora de conhecimento do GIFE – Grupo de Institutos Fundações e Empresas, que esteve presente no evento. “É fundamental fazer essa construção coletiva. A gente sabe que o setor privado já discute dados há tempos e a gente do campo social não pode ficar para trás”, diz.
Para ela, há uma série de formas de como o investimento social privado pode atuar com a produção de dados. “As organizações podem usar os dados para guiar uma atuação social mais eficiente, apoiando Ongs e poder público que usem tecnologia na promoção de impacto social. E há também a relação dos institutos e fundações com suas empresas, que podem ajudar a aumentar a discussão sobre uso ético e proteção de dados”, conclui.