Esse tipo de agressão on-line afeta a vida de crianças e adolescentes e pode provocar depressão e até suicídio. Por isso, é fundamental ajudar a combater esse que é um dos principais crimes na internet
A pandemia provocou uma série de mudanças na vida dos jovens. Distanciamento dos amigos, aulas remotas, mais tempo em casa. Todas essas alterações fizeram com que computadores, tablets e celulares se tornassem ainda mais presentes na rotina das pessoas. Não podemos negar que são inúmeros os benefícios da internet, ainda mais em época de isolamento. Ela é fonte de conhecimento, de diversão e interação. Mas também pode ser utilizada de forma negativa, como os crimes na internet. O cyberbullying é um exemplo disso.
89% da população, entre 9 e 17 anos, usam a internet no Brasil. É o que mostra a pesquisa realizada pela TIC Kids Online Brasil 2019, aplicada entre outubro de 2019 e junho de 2020, com 3 mil entrevistados. Essa porcentagem equivale a 24,3 milhões de crianças e adolescentes.
Segundo especialistas, com o uso mais frequente, a internet representa os mesmos riscos a que estamos sujeitos quando andamos pelas ruas das grandes cidades. Por isso, é preciso ficar atento aos crimes que circulam pelas redes.
“Hoje a internet é como se fosse a nova praça pública do Planeta Terra, que tem 4 bilhões de humanos frequentando ao mesmo tempo. Então, você tem o melhor e o pior ali. O risco a que estamos expostos na internet são os mesmo de estar passeando sozinho em uma praça ou uma praia”, explica Rodrigo Nemj, diretor de educação da Safernet. O professor ainda alerta: “Ela passa a falsa sensação de segurança”.
E ao mesmo tempo que você corre o risco de sofrer uma violência, também pode praticá-la. Mesmo sem saber. Por isso, é necessário ser instruído para o bom uso dos recursos disponíveis.
O cyberbullying
O cyberbullying é o bullying realizado por meio das tecnologias digitais. Pode ocorrer nas mídias sociais, plataformas de mensagens, de jogos e celulares. É o comportamento que tem o objetivo de assustar, provocar raiva ou até envergonhar ou ridicularizar as vítimas.
Alguns exemplos:
– Espalhar mentiras sobre o cotidiano de alguém;
– Compartilhar nas mídias sociais fotos constrangedoras e descontextualizadas de uma pessoa;
– Enviar pelas plataformas mensagens ou ameaças que humilham;
– Se passar por outra pessoa e enviar mensagens cheias de ódio e preconceitos em nome de alguém.
Fonte: Safernet
Apesar dessa prática não consistir em agressões físicas, ela é tão prejudicial para a saúde física e psicológica quanto o bullying que pode acontecer em qualquer ambiente da “vida real”.
Essa agressão atinge o psicológico da vítima e pode resultar em sintomas como distúrbios de sono, transtornos alimentares, ansiedade, irritabilidade, depressão e até suicídio.
“Tem uma característica específica do cyberbullying que, no caso da internet, o torna muito mais facilmente replicável do que o bullying na escola. Cada pessoa que compartilha um conteúdo ofensivo é uma forma de repetição daquela violência. E isso pode arruinar a vida de famílias inteiras. Por isso, na internet, precisamos alimentar o respeito e a valorização da nossa vida e da vida dos outros”, alerta Rodrigo Nemj.
Ainda de acordo com a pesquisa da TIC Kids Online 2019, 61% dos entrevistados disseram que veem discriminações e ofensas mais de uma vez por dia nas redes sociais. O estudo também mostra que as meninas são as mais suscetíveis a encararem algum tipo de violência na internet. Uma em cada três (31%) trouxe relatos de ter sido tratada de forma ofensiva. Enquanto 24% dos meninos relataram essa queixa.
O cyberbullying é considerado o mais grave de todos os tipos de bullying, por ser mais difícil de ser detectado e disseminar mais rápido a informação.
Combatendo o cyberbullying
Para criar na internet o ambiente saudável que desejamos é preciso ter senso de responsabilidade. A gentileza e a empatia são sempre os melhores caminho para as relações, seja no ambiente físico ou virtual. E isso só depende de nós.
É preciso entender os limites entre uma brincadeira e uma ofensa. E manifestar insatisfação quando um comentário não for agradável.
“Estamos separados virtualmente, mas existe um ser humano do outro lado da tela. É preciso praticar a empatia também nas relações on-line. Porque o bullying é justamente a incapacidade de respeitar e de conviver com o diferente de maneira equilibrada”, comenta Rodrigo Nemj.
Se você acha que está sofrendo bullying, o primeiro passo é procurar ajuda de alguém que você confie, como seus pais, um familiar próximo ou outro adulto. Pessoas que são vítimas de qualquer forma de violência, incluindo o cyberbullying, têm direito à justiça, e os agressores devem ser responsabilizados.
O que diz a lei?
O cyberbullying não é classificado no Brasil como crime digital, mas está vinculado a outros crimes que fazem parte da Constituição Brasileira. Assim, ofensas podem se configurar como crimes contra a honra, como calúnia, difamação e injúria.
Em agosto, a Câmara Municipal de Natal (RN) aprovou o Projeto de Lei Lucas Santos, criado em referência à morte do jovem Lucas Santos, que sofreu cyberbullying após publicar um vídeo em uma rede social.
Comentários nocivos, como “você não merece viver”, podem ser considerados instigação ao suicídio. Casos mais graves como esse levam os ofensores à prisão.
Se você passar por isso, guarde todos os registros. Eles podem se tornar úteis e servir como provas para ajudar a dar fim ao abuso.
Fonte: Safernet
Leia mais: Cidadania digital é a boa da vez em educação
Cuide da sua rotina digital
É difícil imaginar como seria nossa vida sem olhar o celular para ler uma notícia ou navegar pelas redes sociais. A tecnologia modificou completamente nosso cotidiano, trazendo muitos benefícios. E também malefícios.
Desligar-se por um tempo ou manter o equilíbrio no uso das tecnologias também são formas de garantir o seu bem-estar. E de dar atenção a outras relações e atividades importantes, como a família.
“A vida off-line nos faz lembrar da nossa vida real. O uso constante das redes pode trazer prejuízos para o estudo e vida social. Sem dizer que a vitrine das redes sociais faz a gente comparar a nossa vida com a de outras pessoas. Como se aquela vida das redes fosse perfeita, e isso causa frustração. Então, é preciso se desconectar e fazer outras atividades para não se prender ao que não é real”, nos conta a psicóloga Jéssica Tibúrcio.
Segundo o diretor de educação da Safernet, Rodrigo Nemj, é preciso criar uma dieta digital. Assim como fazemos no cuidado com a nossa alimentação e saúde.
“A gente usa essa metáfora da dieta porque quanto mais cuidamos da alimentação equilibrada, intercalando com atividades físicas, a nossa saúde agradece. É a mesma lógica da rotina digital. É preciso pensar: do que estou me alimentando na internet? Estou passando tempo demais nela, sem fazer outras atividades? Que tipo de reações emocionais tenho com esses conteúdos e com as pessoas que acompanho na internet? É fundamental ter uma rotina estruturada na vida on-line quanto na off-line”, finaliza.