Qual é a influência da web, redes sociais e de estar conectado à internet muitas horas por dia em questões como identidade, autoestima e ansiedade para os jovens? O eixo comportamento da pesquisa Juventudes e Conexões traz esse e outros resultados. Confira!
A internet amplia o acesso de jovens ao conhecimento e a vozes não-hegemônicas. Permite aprendizados sobre mercado de trabalho, educação, lazer, e ainda impacta positivamente em questões pessoais como autoestima e identidade. Por outro lado, existe uma insegurança em relação a se expor demais, a compartilhar dados no ambiente digital e também uma preocupação a respeito do cyberbullying. Como todos esses pontos dialogam entre si num universo altamente conectado?
Em um cenário onde 91% dos jovens utilizam o smartphone para acessar a internet e 97% acessam ao menos uma rede social, a pesquisa Juventudes e Conexões, buscou entender os jovens na era digital, falando com mais de 1.400 jovens entre 15 e 29 anos das cinco regiões do Brasil. Um dos quatro eixos foi sobre comportamento e trouxe reflexões sobre a participação da tecnologia na construção de identidades e interações que jovens fazem com seu entorno.
De modo geral, a internet ajudou a quebrar barreiras de acesso ao conhecimento, deu espaço para novas vozes e trouxe mais formas de pensar e lidar com o imaginário que fazem de si mesmos, tornando o ambiente virtual um espaço marcado pela convivência e afirmação da diversidade. Ao mesmo tempo, comportamentos de intolerância, exposição da intimidade, aumento da ansiedade e prática de bullying são temas sensíveis para os jovens ouvidos pela pesquisa.
Internet gera ansiedade
Para os jovens participantes da pesquisa, o aumento da dependência pela conectividade podem levar a processos de ansiedade e depressão, uma vez que as muitas possibilidades e oportunidades dão a sensação de que “nunca se vai dar conta de tudo”, geram frustrações, sensação de perda de tempo ou medo de estar perdendo alguma coisa importante.
“A ansiedade aumentou porque a internet proporciona muita coisa em um pequeno espaço de tempo”, observa um dos jovens ouvidos pela pesquisa.
É importante ressaltar que ainda que 57% concordem que a internet piora a ocorrência de ansiedade entre eles, 28% percebem que a mesma pode colaborar para a melhora desse quadro.
Identidade pessoal
Questões relacionadas à identidade pessoal, como autoestima, aceitação e estética são os pontos que mais chamaram a atenção, positivamente, no eixo de comportamento da pesquisa. Para começar, identidade é um conceito construído ao longo do tempo, segundo os jovens pesquisados. “Não dá para construir a identidade, construir tudo o que eu sou e tudo o que eu vou ser em um dia só, em um ano só. É coisa para a vida inteira”, afirmou um dos jovens que participou da pesquisa.
A internet tem um papel importante na construção da identidade. O estudo mostra que a web permite aos jovens:
- Acessar conteúdos diversos que quebram paradigmas e preconceitos;
- Ajuda a conhecer e incorporar novos comportamentos, práticas, estilos, hobbies etc.;
- Permite estar, de alguma forma, próximo a pessoas admiradas e se inspirar nelas;
- Facilita acompanhar ou fazer parte de movimentos políticos.
A ativista e micro influenciadora, Luana Carvalho, de 20 anos, conta que sempre usou a internet como forma de comunicação. Para ela, as redes sociais hoje têm papel importante na construção de identidade das mulheres negras, sobretudo, as mais jovens.
“Quando minha mãe era jovem, essa ferramenta não existia e isso acabou influenciando negativamente no processo de autoestima dela. Já comigo foi totalmente diferente. Desde os 15 anos, uso muito as redes sociais para procurar minhas referências enquanto mulher negra e gorda, tanto na representatividade de corpo quanto na representatividade intelectual”, relata.
Luana conta que passou um por um longo processo de descoberta, mas que hoje consegue se enxergar como referência para outras mulheres iguais a ela. “Depois que me entendi enquanto gorda e negra ficou mais fácil de achar minhas inspirações e hoje, me arrisco a dizer que também sou uma dessas referências para algumas jovens. Sem contar na parte de acolhimento e identificação de narrativas quando encontramos mulheres parecidas na internet, as redes sociais são ferramentas fundamentais hoje pra mulheres como eu”, finaliza.
30% dos jovens dizem que a relação que eles têm consigo mesmo melhorou com conteúdos da internet sobre cabelo, corpo, sexualidade e similares.
A coordenadora de pesquisa do InternetLab, Natália Neris, foi uma das especialistas consultadas pela Pesquisa Juventudes e Conexões. Para a especialista, a internet tem influenciado positivamente nessa construção da identidade dos jovens, na maior parte do tempo.
“Principalmente na última década, em relação à estética é algo extremamente positivo. Por exemplo, a quantidade de canais e páginas que ensinam as meninas negras a cuidarem do cabelo, fazerem trança, falam de produtos e serviços. Tem dados sobre isso, o aumento de buscas por cabelos crespos no Google cresceu 200% no período de dois anos”, comenta.
Na entrevista abaixo, ela comenta um pouco mais sobre esse impacto e dá dicas de como utilizar as redes de maneira saudável.
Como a internet e as redes sociais podem influenciar jovens em sua definição de identidade pessoal?
A internet possibilita a todos de falar e ter voz sobre diferentes temas. Temos muitas pessoas discutindo estética, corpo, sexualidade, gordofobia e racismo. Isso é importante porque permite a identificação de muitos jovens com esses grupos, algo que antes era raro em meios de comunicação tradicionais. Por outro lado, pode acontecer de a internet estimular uma vida perfeita, que fazem os jovens não enxergarem a vida real nos perfis das redes sociais. E ao se julgarem por meio dessas publicações, eles podem sofrer com ansiedade, depressão e problemas com autoimagem.
De que maneira é possível auxiliar jovens a lidar com esses aspectos negativos?
É importante mostrar que a internet é um instrumento e entender que as redes sociais fazem parte da nossa vida, mas não são tudo. É preciso ter uma vida off-line que preze por outras atividades e estabelecer um tempo de navegação. Também é bom lembrar que tudo que vai para rede social passa antes por uma edição e a realidade não contém a perfeição e idealização que aparece em determinados perfis nas redes. Além disso, é interessante acompanhar pessoas que têm abordagens críticas, pois existe uma diversidade de canais que apresentam discussões sobre estéticas e rompimento de padrões. Por fim, é importante lembrar que o cyberbulling é crime. Então, se o jovem ver alguma prática dessas, é preciso que ele saiba denunciar, para desencorajar. Não repassar imagens e denunciar é importante para ter um uso saudável da internet.
Quer saber mais sobre o que pensam os jovens na era digital nas áreas de educação, comportamento, participação social e empreendedorismo? Acesse e baixe gratuitamente a terceira edição da Pesquisa Juventudes e Conexões.