Para além do uso da tecnologia, o desenvolvimento de competências digitais considera o desenvolvimento profissional e pessoal e a inovação nas práticas pedagógicas. Saiba mais!
Os acontecimentos vividos desde 2020, por conta da pandemia, fizeram acelerar uma necessidade já prevista pelos especialistas em educação e exigida pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC): o desenvolvimento de competências digitais para professores e alunos.
Em um curto período, professores e gestores escolares tiveram que buscar por novas ferramentas tecnológicas, além de inovar suas práticas pedagógicas. Tudo para continuar a garantir a aprendizagem dos estudantes, mesmo que a distância.
Entretanto, não é de agora que o uso das tecnologias em sala de aula é considerado fundamental. Afinal, sua aplicação na educação é vista como oportunidade de promover um aprendizado mais colaborativo e, ao mesmo tempo, autônomo. Ou seja, permitir que o estudante seja protagonista na produção do próprio conhecimento.
Mas para alcançar tais competências digitais, é necessária atualização constante. Não apenas dos professores, como também da escola. Assim, é possível estimular o desenvolvimento de novas práticas e permitir que a aula seja mais dinâmica, produtiva e voltada aos interesses dos alunos.
O que são competências digitais e o que elas têm a ver com educação?
Competência digital é uma das oito competências essenciais para o desenvolvimento ao longo da vida, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Ela é necessária para a comunicação, relacionamentos, vivência cultural e desenvolvimento de atividade produtiva na sociedade.
O que diz a BNCC
Desenvolver cultura digital é compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
Na educação, a cultura digital tornou-se uma exigência da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento a coloca como uma das 10 competências gerais a serem desenvolvidas nas escolas. Por esse motivo, as competências digitais tornaram-se essenciais para o exercício da profissão dos educadores.
“Quando a gente fala em cultura digital na BNCC, falamos não só da técnica e do uso dos recursos. Mas também, das possibilidades do docente criar experiências de aprendizagem em que o aluno possa se desenvolver. Além de permitir que ele faça uma escolha ética daquilo que vai consumir e que possa se comunicar utilizando os recursos digitais de forma saudável”, afirma Lilian Bacich, coordenadora do curso de pós-graduação em Metodologias Ativas no Instituto Singularidades.
De acordo com a especialista, a ideia é que o aluno possa fazer o uso das competências digitais tanto para potencializar sua aprendizagem, quanto para que ele se insira na cultura digital deste século. “Por isso, essa é uma competência que está relacionada a todas as áreas de conhecimento”, complementa a coordenadora.
Aspectos importantes para o desenvolvimento de competências digitais dos educadores
1 – Desenvolvimento Profissional: permite ao professor usar as TICs em atividades de formação continuada e no desenvolvimento de atividades profissionais. Também torna o profissional capaz de usar a tecnologia para promover a troca entre pares. Além da habilidade de avaliar e implementar novas ações para melhoria de suas práticas.
“Está relacionado, principalmente, à formação de comunidade de aprendizagem. De como o educador se relaciona com o digital para aprender com seus pares. Muitas vezes, até para documentar o seu percurso e dar luz àquilo que ele vem fazendo. É uma competência digital voltada ao desenvolvimento enquanto profissional educador e às habilidades que ele encontra em grupo”, diz Lilian.
2 – Desenvolvimento Pessoal: aborda o uso responsável das tecnologias. Também reflete sobre as competências digitais e a capacidade de fazer e compartilhar o uso ético e responsável da tecnologia.
“Esse aspecto diz muito sobre os valores. Quanto mais o profissional tiver condições de selecionar recursos, analisar e selecionar fontes confiáveis, mais ele poderá passar aos seus estudantes. E desse modo, ajudá-los a desenvolver essa habilidade e a cidadania responsável para o uso desses recursos com valores éticos”.
3 – Prática Pedagógica: traz a reflexão sobre como incorporar tecnologia às experiências de aprendizagem dos alunos e às estratégias de ensino. E mostra como utilizar a tecnologia para criar experiências de aprendizagem que atendam às necessidades de cada estudante em prol das competências digitais com mais afinidade.
“Essas práticas falam sobre quais habilidades são importantes para entender se o recurso tecnológico pode ser incorporado pedagogicamente. E mais do que isso, mostra aos professores se aquelas tecnologias são realmente necessárias”.
Competências Digitais para além da tecnologia
As tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC) foram inseridas nas práticas docentes para promover aprendizagens mais significativas. Além disso, elas apoiam os professores na implementação de metodologias de ensino ativas, melhorando o interesse e engajamento dos alunos.
Entretanto, desenvolver competências digitais vai além de saber dominar e usar os recursos digitais como meio ou suporte para as aulas.
“O desenvolvimento de competências digitais não está ligado diretamente à quantidade de tecnologias que o docente domina. O uso de recurso digital só faz sentido se estiver conectado a outras habilidades. Considero mais importante a habilidade de saber o que faz sentido ser utilizado pedagogicamente, para que o aluno se desenvolva de maneira integral”, reforça Lilian.
Gestão escolar e o incentivo na formação de educadores
A formação prévia dos educadores, que muitas vezes não considera meios computadorizados, é um dos desafios para a gestão escolar na inserção de novas tecnologias em sala de aula .
Mas, segundo Lilian, isso é passível de resolução com conhecimento. Afinal, por meio do incentivo e da capacitação, os professores entram em contato com as tecnologias educacionais, desenvolvem competências digitais e são preparados para utilizá-las em sala de aula.
“É preciso que a escola permita o desenvolvimento dessas habilidades no professor. Do mesmo modo, investir em tecnologias dentro das escolas. Mas o principal é ouvir os professores, conhecendo seus medos, desafios e incentivando a formação continuada”, finaliza a especialista.