Conheça a opinião e as perspectivas de futuro de quatro jovens que participaram da Conferência Mapa Educação
Apostar no poder de transformação das juventudes brasileiras é uma das bandeiras do Movimento Mapa Educação. Para dobrar essa aposta, o grupo realizou, entre os dias 10 e 11 de dezembro, a IV Conferência Mapa Educação, com o tema “Nova educação, mundo do trabalho e futuro: como seguimos?”.
O evento foi realizado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), e reuniu mais de 300 jovens de todos os estados do país, representando a diversidade das juventudes do Brasil. A rede do movimento é composta por 400 jovens lideranças, que residem em 24 estados e 95 municípios brasileiros. Em 2021, a iniciativa alcançou cerca de 10 mil brasileiros por meio de 50 projetos.
Realizada desde 2015, a Conferência Mapa Educação tem a intenção de estimular o potencial de mobilização de juventudes em todo o Brasil e refletir sobre como as escolas, o governo, a sociedade civil e as empresas podem atuar em conjunto para a construção de uma educação que atenda à realidade brasileira.
Mapa Educação: o que pensam as juventudes
Com painéis expositivos, mesas de debate e oficinas, a Conferência Mapa Educação estimulou seus jovens participantes a refletirem sobre o futuro da educação no Brasil – e o papel das juventudes diante desse processo.
Afinal, o que os próprios jovens pensam sobre a educação do futuro? Como a juventude brasileira está se mobilizando por melhorias na educação pública? Como fortalecer espaços de formação e participação das juventudes no tema da educação?
“Ao reunir jovens de todo o Brasil e conectá-los com diversos palestrantes e organizações, a Conferência Mapa Educação mostra os caminhos de atuação possíveis ao jovem ativista”, aponta Gabriel Faustino, de 21 anos, natural de São Paulo (SP). Gabriel é um dos jovens líderes do movimento. “Em uma realidade que cada vez mais fecha as portas a nós, onde vemos um número crescente de jovens sem trabalho e sem estudo, nosso principal foco foi discutir como construímos realidades de trabalho e de educação para a juventude.”
Para ele, a educação precisa estar voltada ao interesse desses jovens. E um dos desafios está justamente na construção dessa costura, com participação popular e protagonismo dos jovens, e que ao mesmo tempo esteja de acordo com as competências e habilidades previstas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
“Acreditamos na escola como um local seguro para o desenvolvimento dessas habilidades. Para contribuir com esse processo, o Mapa oferece um espaço plural de debate, formação e construção coletiva, sendo um ambiente seguro de aprendizagem e erro, intercâmbio de ideias e diálogo.”
Juventudes representadas nas tomadas de decisões
Para a ativista da educação Livia Souza, de 18 anos, natural de Capanema (PA), um dos grandes legados da Conferência está na conexão entre as juventudes brasileiras. “Conversamos muito sobre educação básica e a importância do acolhimento para estabelecer um sistema educacional humanizado. No entanto, a realidade mostra uma situação contrária, na qual muitos jovens perdem o prazer pela escola”, reflete Livia.
“Quando a escola não oferece um olhar para o aluno como um todo, ele desiste. Além de aprender português e matemática, ele está na escola para desenvolver sua maturidade emocional e social e ter acesso a recursos básicos, como a merenda. Debatemos bastante sobre como os ativistas da educação podem atuar conectados com educadores e gestores de políticas públicas, em busca de que as redes de ensino ofereçam uma estrutura potente e acolhedora para que o jovem tenha um desenvolvimento progressivo, com prazer pelo que está aprendendo.”
A ativista defende a necessidade de a população jovem estar representada nas tomadas de decisões referentes à educação pública e às próprias juventudes. “Existem formas de ocupar esses espaços e dialogar com as pessoas que estão ali, tendo a sua voz ouvida e as suas percepções consideradas com seriedade. O Mapa Educação acredita nessa abertura maior para jovens que estão comprometidos e fazendo a diferença.”
Impacto emocional do desemprego
Durante a Conferência foi lançado o Relatório Especial – Trabalho e Renda da pesquisa “Juventudes e a Pandemia: E Agora?”, coordenada pelo Atlas das Juventudes. Realizado entre julho e agosto de 2022, o levantamento mostra que o bem-estar mental dos jovens está diretamente relacionado às perspectivas de trabalho. A cada dez jovens que estão em busca de emprego, quatro avaliam como ruim ou péssimo o seu estado emocional.
“Esse estado emocional pode significar o resultado de uma série de desafios enfrentados pelas juventudes, inclusive os educacionais, dilatados na pandemia”, analisa Mailson Cruz, de 26 anos, natural de Canaã dos Carajás (PA). Mailson é jovem pesquisador na Rede de Conhecimento Social e um dos líderes do Mapa Educação.
A pesquisa mostra que a sensação de não ter aprendido o adequado ao longo da pandemia é maior entre os jovens que estão procurando trabalho ou não trabalham do que entre os que estão trabalhando. “Isso pode levar esses dois primeiros grupos a ter menos segurança acerca de suas capacidades. Essa situação se reflete nas demandas dos jovens, que consideram como prioridade os conteúdos que preparam para o mercado de trabalho e atividades que trabalham as emoções. Essas demandas são maiores entre os jovens que estão procurando trabalho”, afirma Mailson.
Mapa Educação: Pluralidade de vozes
Os dados coletados pela pesquisa podem apoiar na construção de políticas públicas, na visão de Mariana Lima, de 20 anos, natural de Campo Grande (MS). Ela, que é jovem pesquisadora da Rede Conhecimento Social, acredita que a Conferência Mapa Educação é um espaço propício para estabelecer uma ligação entre gestores educacionais e informações atualizadas sobre as juventudes brasileiras.
“O que o levantamento e a Conferência nos indicam é que, ao menos durante a próxima década, não tem como falar de educação sem falar sobre mercado de trabalho e a inserção de jovens dentro dele”, observa Mariana. “Quase não se fala sobre isso nas escolas. E esse debate não é só sobre trabalho, mas sim sobre futuro. Mesmo diversas em suas origens e formas de atuação, as juventudes que participaram do evento chegaram ao consenso de que não há como trabalhar educação sem se voltar para o mercado de trabalho.”
Investindo na diversidade, o Mapa Educação vem contribuindo para trazer uma pluralidade de vozes aos espaços de discussão sobre as juventudes. “A educação é ampla e múltipla, e trazer pessoas de diversas localidades foi essencial para deixar a Conferência com a cara do Brasil, impulsionando as perspectivas da juventude brasileira”, finaliza a jovem pesquisadora.