Minha história: lugar de criança é na escola
Raimundo Duarte de Lima
Venha Ver, RN
Desde criança, queria uma vida melhor para minha família. Eu trabalhava na roça junto com minha família, pois era na agricultura que tirávamos o pão de cada dia.
Eu sofria muito trabalhando na roça, não gostava. Todo o dia trabalhava. E o tempo que eu tinha para estudar era muito pequeno, já que a necessidade de trabalho era tão grande.
Na roça, cada alimento colhido era motivo de alegria. Quando eu chegava na escola e começava a estudar e a aprender cada letra do alfabeto, sabia que aquilo seria útil no futuro, porque é pelo estudo que vêm o aprendizado e o conhecimento para exercer uma profissão e conseguir um emprego no mercado de trabalho.
Muitas vezes cheguei a trocar a caneta pela enxada. Não era a minha opção, mas eu tinha que trabalhar para ajudar minha família. As mãos que seguravam o cabo da enxada já não eram mais as mesmas, pois cada vez “Muitas vezes cheguei a trocar a caneta pela enxada. Não era a minha opção”
que a enxada era usada como ferramenta de trabalho, minhas mãos sofriam as dores.
Foram dias difíceis de muitas lutas, foram dias em que trabalhei pesado. Cada grão de milho plantado era uma vitória. Mas melhor vitória seria se conseguisse sair desse sufoco.
Durante a jornada de trabalho, eu sempre tentava abrir espaço para concluir meus deveres escolares. Afinal, diante de minha rotina puxada, tinha de concluir minhas atividades da escola enquanto havia tempo. Quando chegava o final do dia, voltávamos para casa, mas no dia seguinte tudo começava outra vez. Eu procurava trabalhar o máximo possível, mas sozinho não conseguia, porque o trabalho era muito pesado, era trabalho de adulto.
Minha vida não foi fácil, porque comecei a trabalhar quando ainda era pequeno. Sempre sonhei em mudar essa situação, mas me perguntava: “Como?”.
Precisava sorrir, mas faltavam motivos. Quando o governo lançou o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), eu encontrei um motivo que mudou a minha vida. O PETI tinha o objetivo de tirar as crianças do mundo do trabalho para colocá-las dentro da escola. E eu fiquei feliz ao saber disso, pois pensava que nunca conseguiria sair do sufoco. Assim, comecei a participar do PETI, e foi uma chance indispensável. Minha mãe me cadastrou no Programa junto com meus irmãos. Nós fomos selecionados e conseguimos vaga na escola.
“Agora, eu carrego nas mãos o lápis e o caderno, não mais a enxada no ombro”
Minha vida mudou muito depois do PETI. O bom é que a gente começou a receber uma renda mensal, mas o melhor é que o tempo, antes dedicado ao trabalho na roça, foi ocupado pelo estudo. Ao invés de ir para a roça eu vou para o PETI. Agora, eu carrego nas mãos o lápis e o caderno, não mais a enxada no ombro.
O PETI continua abrindo vagas para os que precisam, principalmente para as que estão necessitando dessa oportunidade. Quando entrei no PETI, já sabia que aquele dia seria inesquecível. Afinal, tudo mudou na minha vida.
O dinheiro que recebo ajuda um pouco em casa. Nunca imaginei que todo o sofrimento pelo qual passei iria acabar, o Programa chegou em boa hora. Cada vez que visto o uniforme do PETI me sinto feliz, pois ele é uma forma de representar a mudança que ocorreu em minha vida. Já não preciso trabalhar, não preciso mais carregar a enxada, porque agora sigo o caminho da escola e levo o lápis e o caderno em minhas mãos.
Ocorreram muitas mudanças, mesmo depois que entrei no PETI. O principal de tudo é que consegui uma vitória: sair do trabalho infantil e entrar numa escola cheia de oportunidades e benefícios. Hoje, tenho 11 anos, continuo fazendo parte desse Programa, que só me trouxe alegria e felicidade. E tudo isso graças ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Essa é a minha história: antes e depois do PETI.