A iniciativa torna São Paulo e outras cidades brasileiras polos de educação e cidadania.
A iniciativa torna São Paulo e outras cidades brasileiras polos de educação e cidadania.
O passeio feito de bicicleta leva até o local ao ar livre que exibe filmes sobre a infância. Em uma praça próxima, um grupo de pessoas se junta para aprender os princípios da permacultura. Tem palestra sobre reciclagem, mas também sobre direitos humanos e tecnologia social. A Virada Sustentável torna São Paulo por alguns dias o que ela deveria ser sempre: uma cidade de ocupações, cuja população reflete sobre a própria atuação e pensa em alternativas para tornar o espaço urbano mais habitável, afetivo e ecológico.
O evento saiu da cabeça de alguém que por muitos anos nunca pensou em trabalhar a temática da sustentabilidade, e acabou por se tornar um de seus mais ferrenhos ativistas. André Palhano nasceu na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo. Quando veio para a capital cursar Jornalismo, os rumos acadêmicos o levaram a trabalhar na área de finanças e economia. Ele fez parte de grandes redações, como Agência Estado e a rádio Jovem Pan. Foi a Folha de S. Paulo que o convidou, pela primeira vez, a escrever sobre sustentabilidade no caderno Dinheiro.
André reconhece ter recebido o convite com estranheza. “Pensei, ‘Poxa, vou falar sobre o quê, sobre o mico-leão-dourado? ’”, ele relembra, brincando. Mas em contato direto com o tema, pesquisando e construindo pautas, as perspectivas sobre o que é sustentabilidade se ampliaram. O jornalista percebeu que o tema funciona como uma engrenagem propulsora de debates sobre economia, direitos e ocupação de espaços públicos por pessoas que muitas vezes não reconhecem seu direito em usá-los. “Não tem como não ficar fascinado por sustentabilidade depois que se conhece o tema. Foi o que aconteceu comigo.”
O jornalista logo percebeu que o que é falado sobre sustentabilidade muitas vezes é estereotipado, tornando o tema pouco atrativo para o público. As pessoas conectam automaticamente a questão sustentável à ecologia, sem enxergar suas ramificações, como a redução da desigualdade, a diversidade e os direitos humanos. Os próprios ativistas ambientais têm dificuldade em divulgar a causa e torná-la sedutora, para muito além de conversas sobre reciclagem ou compostagem.
A veia de empreendedor social de André Palhano pulsou para mudar esse cenário. Em parceria com a publicitária Mariana Amaral e uma rede de colaboradores e movimentos sociais, André criou a primeira Virada Sustentável em 2011. “Fizemos um festival que reúne teatro, cinema, exposições e atividades lúdicas, cujos conteúdos ampliam a percepção mais holística do tema por parte da população”, explica André. O evento, em seu sexto ano, ocupa a cidade em atividades nas regiões centrais e periféricas.
André sente que, desde a primeira virada até a que acontecerá dias 25 a 28 de agosto, a relação dos habitantes da cidade de São Paulo com seu entorno tem se transformado: eles estão cada vez mais conscientes do quanto é necessário ocupar e cuidar do espaço urbano: “Praticar ciclismo e passear em uma avenida fechada para carros no domingo são atividades que mudam a relação com a cidade e facilitam o aprendizado de que podemos sim ser mais sustentáveis nas práticas cotidianas”.
Ele também acredita que a sustentabilidade e os temas que a rodeiam são um campo fértil para a criação de empreendimentos e de negócios de impacto social. “Uma das características mais legais da geração empreendedora é que elas têm o empreendedorismo como uma prática natural – os jovens juntam recursos de diversos lugares e tem muita energia para impactar positivamente sua cidade”. A articulação em rede faz-se muito necessária na incidência social, e André não acredita que teria sido possível manter a Virada Sustentável sem o apoio de entidades, colaboradores e voluntários engajados na causa.
A Virada já extrapolou os limites da cidade; ela acontece em Porto Alegre e Manaus, e futuramente no Rio de Janeiro e em Salvador. O tema de 2016 baseia-se nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pela ONU (Organizações das Nações Unidas). O empreendedor social que deu o pontapé nesse grande encontro de tecnologias sociais não poderia estar mais orgulhoso do que criou. Fazer com que pessoas se engajem no temas de sustentabilidade e ocupação de espaços não é uma tarefa simples, mas André não está sozinho, e uma rede crescente o apoia na ideia de transformar São Paulo em uma cidade educadora.