Contexto atual incentiva a busca por métodos de avaliação que estimulem um ensino-aprendizagem personalizado, conheça algumas formas e, também, o exemplo da 42 São Paulo
Progredir, colaborar e servir. Esses são os três critérios usados para avaliar os cadetes, como são chamados os estudantes da 42 São Paulo. Muito além do desempenho no aprendizado da programação e seus códigos, o objetivo é criar um ambiente onde cada um pode medir como e quanto precisa avançar. Com uma metodologia gamificada, o modelo disruptivo da rede busca desenvolver habilidades para uma aprendizagem ativa.
“Existe uma preocupação nossa de estimular a consciência dos cadetes em relação às condições envolvidas no aprendizado, para além do conteúdo em si. Progredir significa participar dos projetos. Colaborar está ligado ao senso de comunidade necessário para desenvolvê-los. E servir coloca os estudantes na posição de protagonistas das soluções que oferecem para a rede”, explica Guilherme Decourt, diretor da 42 São Paulo.
A 42 São Paulo, primeira unidade da América Latina, trabalha o ensino de programação sem custo, sem nenhuma experiência prévia exigida e para qualquer pessoa com mais de 18 anos. A metodologia, desenvolvida na França e utilizada em mais de 20 países, promove aprendizado entre os pares. Mantida com a ajuda de empresas parceiras como a Fundação Telefônica Vivo, a rede propõe o ensino de códigos sem perder de vista competências e habilidades essencialmente humanas. Saiba mais sobre como a 42 funciona na prática!
Se os estudantes entregam um projeto, ganham pontos de progresso. Se participam de uma reunião de comunidade, recebem pontos de colaboração. Caso se voluntariem para ajudar a melhorar algum serviço ofertado pela 42 São Paulo, também somam conquistas. Existem as avaliações no modelo mais tradicional, mas essa dinâmica anterior permite que os estudantes saibam em que precisam trabalhar para seguir aprendendo.
“O desconforto de receber uma devolutiva frustrante se equilibra com os outros aprendizados ao longo da trajetória, cortando a relação entre a nota e a capacidade de avançar. No final do dia, o importante é desenvolvê-los para se comprometerem com a aprendizagem”, resume Decourt.
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Avaliando o potencial humano
Personalizar o ensino, sobretudo quando se lida com grandes turmas, não é tarefa fácil. Ainda assim, o contexto de desigualdades no acesso à educação, intensificado pela pandemia, fez com que repensar os modelos aplicados anteriormente passasse a ser uma necessidade.
“As salas de aula sempre foram heterogêneas, com alunos em diferentes momentos de aprendizagem. Talvez o que a pandemia fez foi ampliar essa carência pela própria ausência de experiências educativas para alguns estudantes. A avaliação diagnóstica nunca foi tão importante para apoiar no planejamento de ações pedagógicas considerando essa realidade”, reflete Julci Rocha, especialista em educação inovadora e fundadora da Redesenho Educacional.
Para além da pandemia, o avanço das tecnologias já anunciam um futuro do trabalho cada vez mais automatizado, que exige competências específicas e conectadas a essa expectativa. Desde a educação básica até a superior, habilidades difíceis de mensurar, como autonomia, flexibilidade, criatividade, comunicação e colaboração, tornam-se essenciais para formar profissionais e cidadãos do século XXI.
“A tecnologia certamente enriquece as experiências de aprendizagem, sobretudo porque os ambientes digitais permitem mensurar dados com mais facilidade. Mas ela é apenas uma ferramenta, o que importa é olhar para as condições humanas envolvidas nesse processo”, pondera Guilherme Decourt.
Tanto a especialista em inovação educacional, quanto o diretor da 42 São Paulo concordam que a prioridade é a abertura para o diálogo. A proposta de pensar formas inovadoras de avaliar depende da integração entre coordenação, equipe pedagógica, estudantes e familiares. É como um comum acordo, em que o importante é sempre usar a avaliação como um norte para encontrar condições melhores para o aprendizado.
Curva de aprendizagem pela equidade
A necessidade de pensar em instrumentos avaliativos mais conectados com os objetivos de aprendizagem dos estudantes também se aplica na Educação Básica. Há décadas, especialistas como Cipriano Carlos Luckesi (autor do livro Avaliação da Aprendizagem Escolar, 2014) apontam a ineficiência de processos que não consideram o ensino como parte do resultado.
“Todas as dimensões da avaliação precisam estar a serviço do ensino e aprendizagem, nos seus diferentes níveis. O mais importante é garantir o envolvimento do estudante na reflexão sobre os processos e resultados, caso contrário teremos um sistema sempre excludente”, complementa Julci Rocha.
Segundo a mestre em educação, traçar uma curva de aprendizagem permite investigar o impacto do conteúdo individualmente, aproximando-se do diagnóstico sobre a qualidade do ensino e do aproveitamento da turma. Ao romper com a lógica tradicional, que classifica os estudantes por notas e usa o fracasso escolar como critério, é possível traçar caminhos para garantir equidade.
“O currículo é um direito, mas fazê-lo do mesmo jeito para todo mundo ao mesmo tempo pode não ser eficaz para todos. A personalização do ensino, abre caminho para o sujeito dar significado pessoal ao que aprende, podendo, portanto, participar das definições do que se faz e como se faz”, conclui Julci.
Para saber mais
Pensando no papel fundamental das avaliações, sobretudo as formativas e diagnósticas, para a educação pós-pandemia, o Guia da Ação Avaliativa traz orientações para a implementação de estratégias avaliativas alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Elaborado pelo Centro de Avaliação e Políticas Públicas Educacionais (CAEd), da Universidade Federal de Juiz de Fora, em parceria com Fundação Lemann, o material é gratuito e tem como objetivo auxiliar nas soluções para personalizar o processo de ensino-aprendizagem em sala de aula.