Cooperativa Crescer promove formação e inclusão, enquanto projeto Kombosa Seletiva transforma lixo em negócio social lucrativo
Os catadores de materiais recicláveis são atores essenciais para a efetivação de uma política sustentável de resíduos sólidos. Com seus carrinhos, passam na porta de prédios, casas e estabelecimentos comerciais em busca do que pode ser reutilizado – afinal, muito do que chamamos de lixo, não é.
A atividade, que garante a sobrevivência de muitas famílias vulneráveis ganhou uma versão mais profissional e sustentável nos trabalhos da Cooperativa Crescer, localizada no Jaraguá, Zona Norte de São Paulo. Desde 2006, ela é referência de empreendedorismo social.
No início dos anos 2000, parte da equipe da organização social Eco Cultural decidiu criar uma cooperativa de reciclagem, que também investisse na formação dos trabalhadores e oferecesse atividades teóricas de educação ambiental, já desenvolvidas pela instituição.
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Cooperativa Crescer promove formação e inclusão em São Paulo
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Segundo o fundador e presidente, Jair do Amaral, o grupo mobilizou pessoas em situação de vulnerabilidade social e egressos do sistema carcerário interessados em trabalhar na cooperativa. De lá para cá o projeto cresceu, e atualmente conta com 44 cooperados.
Ao visitarem diversas cooperativas, o idealizador e a equipe observaram que a preocupação das iniciativas era sempre em relação ao processo produtivo, da coleta, separação e venda do material. No entanto, a preocupação em relação à gestão era muito pequena.
“Quisemos montar uma cooperativa que fosse modelo de gestão. Na maioria das cooperativas, os presidentes e diretores estão com a barriga na esteira. Eles estão mais preocupados em produzir do que em gerir. Nós também temos metas, mas temos uma equipe exclusiva para a parte estratégica”, explicou Jair.
Diferenciais
Para isso acontecer, a Cooperativa Crescer conta com profissionais especializados, como coordenadores comerciais e supervisores de produção. No ano passado, lançou até um aplicativo, onde é lançada toda a produção da equipe.
O programa de formação permanente é outro diferencial. Há um projeto de alfabetização e inclusão digital, em parceria com o Instituto Paulo Freire e com a Samsung. A formação em coleta seletiva proporciona acesso a informações sobre resíduos, como os processos de descarte, composição dos plásticos, visita a empresas recicladoras, etc.
Após a formação, a organização encaminha os profissionais para empregos com parceiros da cooperativa ou realiza a promoção, dentro da própria organização, nos cargos de gestão.
Como participar
Para entrar no programa de formação, o interessado deve se inscrever na cooperativa. As formações acontecem em duas turmas com 20 vagas, durante seis meses. A carga horária de 6 horas diárias, de segunda à sexta, é dividida em trabalho e treinamento teórico, com uma bolsa de R$ 984 mensais. Ao final de 6 meses, os mais bem avaliados são absorvidos pela cooperativa ou por parceiros.
Para Amaral, o grande sucesso do projeto é romper o ciclo da pobreza e incentivar o empreendedorismo socioambiental, além do impacto no meio ambiente, uma vez que 120 toneladas de resíduos deixam de ir ao aterro sanitário todo mês, somente com o trabalho da cooperativa. O projeto, que era piloto, já está levando seu modelo para outras cooperativas.
“Além de gerar renda e da pessoa sustentar sua família, a cooperativa ativa a microeconomia local, pois os cooperados são moradores do bairro. Fazemos circular entre 70 mil e 80 mil reais por mês, gastos nos açougues e mercadinhos da vizinhança”, exemplifica Amaral.
Kombosa Seletiva
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Projeto Kombosa Seletiva vende serviço de coleta seletiva em São Paulo
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Foi também a busca por formação que transformou a vida de Sergio Bispo, ou Bispo, como é conhecido, empreendedor ambiental e criador do projeto Kombosa Seletiva – coletivo de cinco catadores.
Natural da Bahia, Bispo chegou a São Paulo em 1989 e desde a infância trabalha como catador. Após frequentar diversas palestras e eventos sobre a área, teve a ideia de investir em um veículo que pudesse ampliar a coleta, já que, na cidade de São Paulo, quem gera mais de 200 litros de lixo por dia precisa contratar um serviço participar de coleta.
Sem saber ler e nem escrever, Bispo se sentiu estimulado a ampliar seus negócios e fazer catadores abandonarem as carroças: se alfabetizou, tirou habilitação e comprou uma Kombi, com incentivo e apoio financeiro do sociólogo Pedro Tavares Nogueira, do produtor de eventos Bruno Aga e de Áurea Barros, do Instituto Viva Melhor.
Atualmente, a Kombosa Seletiva faz o gerenciamento de resíduos em 45 pontos de São Paulo, entre condomínios e estabelecimentos comerciais, com 15 coletas por dia. A Kombi deu lugar a um furgão mais moderno, e a renda vinda do trabalho, que inclui eventos e palestras, possibilitou a realização de um grande sonho de Bispo: aos 60 anos, com oito filhos e dois netos, ele conseguiu juntar dinheiro e comprar sua casa.
Agora, deseja deixar um futuro mais sustentável para sua família e para todos as crianças e adolescentes. “É preciso valorizar sempre o trabalho dos catadores e pensar nas futuras gerações que cuidarão do planeta, para a construção de um mundo sem desigualdade social e ambiental.”