O crescente uso de tecnologia no esporte favorece a utilização do futebol como forma de potencializar o ensino de matemática
Em tempos de Copa do Mundo, já é tradicional que as escolas se transformem em locais de festa e reunião para assistir à seleção brasileira em campo. Porém, muito mais do que os jogos em si, o torneio mundial de futebol abre oportunidades para os estudantes se aprofundarem em diversas áreas do conhecimento, como história, geografia, educação física e matemática.
Sim, você leu certo: a matemática está muito presente no futebol. Durante a Copa do Mundo, quem participa de bolões sabe da importância de calcular as chances das equipes em cada jogo; quem preenche o álbum de figurinhas também está fazendo contas a todo o momento. E, adentrando o espaço de uma partida de futebol, são infinitas as possibilidades de usar cálculos matemáticos e ciência de dados para influenciar diversos aspectos do jogo, desde a escolha da estratégia e a escalação dos atletas até a decisão sobre quem bate um pênalti decisivo.
Ciência de dados e probabilidades
A professora de matemática Claricy Alves, da rede estadual de ensino de Alagoas, desenvolve com seus alunos uma atividade que cruza dados referentes aos chutes a gol do argentino Lionel Messi. Afinal, quantas tentativas o craque precisa ter para balançar as redes do adversário?
A partir dessa estatística, os estudantes do segundo ano do Ensino Médio criam hipóteses sobre a atuação do jogador em determinada partida. Por não ter uma resposta correta, a prática estimula o debate sobre ciência de dados e probabilidades entre os alunos.
“Inicialmente os alunos estranharam, pois buscavam uma resposta numérica e exata, mas no decorrer das discussões eles foram levantando hipóteses e observando a importância daqueles dados para o próprio jogador, a equipe técnica, adversários e torcedores”, observa a educadora.
Futebol e matemática: diversas possibilidades
Ela ressalta o potencial do futebol como um grande atrativo para o ensino da matemática, já que a paixão pelo esporte desperta a curiosidade dos jovens em relação aos seus ídolos. “Podemos desenvolver várias habilidades da educação básica, fazendo um levantamento de dados dos jogadores como idade, altura e peso. É possível ainda estudar a geometria (área, perímetro, formas geométricas) presente no campo, nas ideias de impedimento, as diferenças entre uma falta comum e a que gera um pênalti”, aposta Claricy, que também cita como possibilidades de estudo a velocidade dos atletas, a parábola descrita pelos chutes e o posicionamento nas jogadas ensaiadas.
“A partir dos dados, os alunos também enxergaram que Messi é muito persistente e que não é o melhor do mundo por acaso, mas, sim, por dedicação e treinamento. Aproveitei o momento para motivar os estudantes e dizer que todos somos capazes de atingir nossos objetivos através do esforço e da persistência, inclusive aprender matemática”, revela a educadora.
Tecnologia cada vez mais presente no esporte
Outro projeto que alia futebol e matemática foi criado por Gilcione Costa e outros docentes do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2004. Trata-se da iniciativa “Probabilidades no Futebol”, cujo objetivo principal é a divulgação da matemática por meio do esporte.
“A análise matemática sempre existiu no futebol, no cálculo de pontos necessários para um time ser campeão ou não ser rebaixado, e mais recentemente, com o cálculo de probabilidades”, explica Gilcione. “No caso do futebol, há uma consideração complexa, já que alguns resultados de uma partida são mais prováveis do que outros. Uma análise mais técnica entre as inúmeras possibilidades de um jogo de futebol, como número de gols, o perfil do árbitro e as condições climáticas podem ser utilizados para ensinar matemática e determinar quais resultados seriam mais prováveis.”
Criada por um pesquisador matemático da Universidade de Oxford, uma projeção apontou que o Brasil é favorito ao título da Copa do Mundo em 2022. Divulgada poucos dias antes do início da competição, a projeção simulou os jogos da fase de grupos um milhão de vezes, e as partidas da fase mata-mata 100 mil vezes. Os resultados mais comuns foram considerados para a previsão matemática.
Uma tendência crescente no mundo do futebol é a presença de equipes de dados e estatísticas nas comissões técnicas dos principais clubes. Um arsenal de ferramentas tecnológicas conquista cada vez mais espaço no esporte, com instrumentos capazes de analisar inúmeros dados de jogos, treinos, preparação e condição física dos atletas.
“Um dos objetivos quando fazemos uma análise estatística de um time de futebol é a detecção de padrões, quer seja na forma de time atacar ou defender”, aponta o docente. “Esse estudo pode auxiliar um técnico na escolha de um esquema tático, com certos jogadores com características mais adequadas para enfrentar certos adversários. A análise pessoal sempre será muito importante no processo de decisão, mas a análise de dados pode fornecer alternativas para uma escolha de esquema tático ou de jogadores para uma partida frente a um adversário com características específicas”, conclui Gilcione.