O consumo faz parte do nosso dia-a-dia. Desde hábitos simples, como ligar a luz do quarto e abrir a torneira para escovar os dentes, até à necessidade de se alimentar ou se vestir.
O uso de recursos de forma desenfreada trouxe impactos para o meio ambiente, para a economia e para a sociedade como um todo. Dados já apontam que usamos 60% mais recursos do que o planeta Terra pode regenerar. Daí a urgência de refletir sobre os nossos hábitos de consumo.
Pensar em como produzir menos lixo, conhecer a origem de determinado produto e quais problemas pode trazer para o meio ambiente fazem parte do chamado consumo consciente e, ao contrário do que muitos pensam, não quer dizer deixar de consumir.
“Consumo consciente significa consumir melhor e diferente, sem excessos, para que todos vivam com mais bem-estar hoje e no futuro. Significa ter a visão de que o ato de consumir um produto ou serviço está num contexto maior de ciclo de produção, que vai além dos impactos imediatos”, explica Larissa Kuroki, coordenadora de Conteúdos e Metodologias do Instituto Akatu, organização que atua na transição para estilos sustentáveis de vida.
Essa preocupação cresce na população brasileira. Uma pesquisa da empresa Toluna, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, mostra que 75% das pessoas mudaram a forma de consumo devido à preocupação com o planeta. Já 70% alteraram os hábitos buscando o próprio bem-estar.
Pandemia e consumo
O isolamento social, iniciado em março de 2020, provocado pela pandemia do novo coronavírus, fez a humanidade diminuir a taxa de consumo dos recursos da Terra em 9,3%. Segundo Tereza Cristina Melo, coordenadora geral do Laboratório de Sustentabilidade da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), essa redução aconteceu porque as pessoas limitaram suas atividades.
“Houve uma redução de consumo por uma questão circunstancial. As pessoas não podiam sair, então os carros ficaram nas garagens. Além disso, com lojas e shoppings fechados, as pessoas deixaram de comprar. A insegurança financeira também fez a população comprar com um certo cuidado, com certa economia”, analisa.
Tal cenário é reforçado pelo estudo sobre Vida Saudável e Sustentável, elaborado pela GlobeScan: 66% dos brasileiros se disseram muito afetados pela Covid-19 e 52%, pela crise econômica.
“O isolamento social fez com que as pessoas pudessem observar de modo mais intenso o impacto do seu consumo através da geração de resíduos, compra de alimentos, uso de energia e água. Isso foi positivo para o consumo consciente, pois os consumidores passaram a buscar maneiras de economizar em todos esses aspectos para não sofrer com as contas no final do mês”, complementa Larissa Kuroki.
Empreendedorismo consciente e impacto positivo
Antes mesmo da pandemia os brasileiros já apontavam uma mudança na forma de consumir. Segundo o Instituto Akatu, a busca por assuntos ligados ao vegetarianismo no Google cresceu de 150% a 250% nos últimos anos. Esse comportamento também se reflete no campo da beleza. O mercado de cosméticos veganos ou naturais cresceu 50% nos últimos anos. No varejo de roupas, o movimento slow fashion cresceu 3% em 2020.
O empreendedorismo consciente tem o objetivo de criar impacto positivo para a sociedade e para nós mesmos e é um ramo em crescimento. Mais de 2,5 milhões de pessoas já compram produtos sustentáveis em toda a América Latina. Aqui no Brasil são mais de 1,4 milhão.
Foi repensando as próprias escolhas de consumo que duas amigas largaram a profissão de engenharia de produção em 2018 para montar um negócio sustentável. Natalia Konishi e Mariana Lemos Gonçalves tiveram contato com produtos ecológicos e começaram a pensar sobre o lixo que produziam.
Assim surgiu a B.live, com o intuito de trazer soluções para uma vida com menos produção de resíduos, em busca de um mundo mais sustentável.
“Temos a missão de mudar os hábitos sociais através de atitudes mais ecológicas”, conta Mariana.
A empresa traz diferentes soluções em produtos para o cotidiano, como canudos de inox ou de vidro e itens para todos os ambientes da casa. Tem produto de limpeza natural, maquiagem e até pano de prato vegano.
Elas começaram pelas redes sociais e depois de três meses, a demanda cresceu, por isso criaram o e-commerce. O faturamento aumentou mais de 100%.
“Cada dia que passa nós temos mais pessoas interessadas nesse novo mundo da sustentabilidade, além de muitas empresas que buscam parceria. Mas ainda é um nicho bem restrito e desafiador, sentimos que muitas pessoas ainda precisam se conscientizar”, relata.
Apesar dos desafios, hoje elas realizam quase 350 entregas por mês pelo próprio e-commerce e por empresas parceiras e o negócio gera emprego para outros empreendedores. Todos os produtos de costura são produzidos em parceria com uma fundação de costureiras.
“Dê preferência para microempreendedores, porque quando fazemos isso, além de ser mais fácil de rastrear como foi realizada a produção, ainda apoiamos uma pessoa que está começando”, finaliza Mariana Gonçalves.