Com ajuda da tecnologia e transparência, iniciativas procuram fortalecer doações de pequenos valores de forma recorrente a organizações sociais
O brasileiro é solidário: sete em cada dez pessoas, ou seja, 70% realizam ao menos uma doação anualmente. É o que aponta o Country Giving Report 2018, o mais recente estudo sobre a doação individual no Brasil, realizado pela Charities Aid Foundation (CAF) e lançado pelo IDIS.
O mesmo relatório Country Giving Report 2018, divulgado pelo IDIS, aponta que as novas gerações de brasileiros são mais engajadas e doam mais. Segundo o estudo, pessoas entre 25 e 34 anos doaram mais dinheiro comparadas às pessoas com mais de 55 anos (75%, contra 64%). Além disso, o estudo também constata que a faixa etária 18-24 anos é a que percebe mais o impacto positivo da atuação das organizações da sociedade civil.
Visando explorar essa característica nacional, surgem iniciativas que se propõem a incentivar a cultura de doação recorrente e a plataforma BSocial é uma delas.
A ideia é construir uma ponte para a captação de recursos, unindo interessados em doar a instituições e causas. Desta forma, a plataforma disponibiliza busca por temas: Educação, Crianças e Jovens, Idosos, Saúde, Meio Ambiente, Direitos Humanos, Esportes, Animais, Arte, Cultura e Patrimônio Histórico e Situações Emergenciais.
“O brasileiro é sensível e solidário. Ele doa, mas pode e deve aprender a doar de maneira planejada e recorrente. Pode-se dizer que o Brasil não tem ainda uma cultura de doação estabelecida. Há muito espaço para desenvolver esse campo e promover essa cultura”, explica Flora Botelho, curadora e co-fundadora da BSocial.
A iniciativa surgiu exatamente da vivência do time de curadores, envolvido com trabalho voluntário, ao presenciar a dificuldade financeira de organizações do terceiro setor e aliar a isso a vontade de desenvolver um projeto de impacto social.
“Nossa estratégia é informar e dar visibilidade nas ações que têm propostas efetivas para transformar nossa realidade socioambiental. Saber quem faz, como faz, o que faz e o impacto positivo do terceiro setor são as chaves para engajar pessoas com seus propósitos e necessidades”, enumera Flora.
O trabalho de montar o portfólio de ONGs cadastradas começou há um ano e partiu daquelas com as quais a equipe da BSocial, envolvida com o terceiro setor há bastante tempo, tinha relacionamento como voluntários e conselheiros.
A tecnologia e a cultura de doação
Com a pretensão de ser uma ferramenta fácil, confiável e acessível, reunindo causas de instituições que tenham credibilidade e passem por um rigoroso processo de validação, a iniciativa conta com apoio do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), que valida as organizações que recebem os recursos, e do Instituto Phi, que cria relatórios de impacto para traduzir em dados o retorno dos recursos investidos.
O interessado em fazer uma doação realiza um cadastro no site, escolhe qual causa deseja ajudar, escolhe o valor a ser doado: R$ 25, R$ 50 ou R$ 100, além da periodicidade: única ou mensal. Após a transação, 88% dos recursos ficam com as organizações e 12% são utilizados para manter a plataforma.
Oferecer uma ferramenta com opções de causas, que disponibilize o acompanhamento e impacto de cada doação de forma transparente, ajuda a fortalecer a cultura de doação recorrente e a criar um negócio em que o propósito é tão importante quanto a sustentabilidade financeira.
“Focamos na chamada ‘inversão da pirâmide’, ou seja, acreditamos que muito mais pessoas possam se engajar e doar um valor menor. Contar com a tecnologia nos proporciona essa escalabilidade e é fundamental”, encerra Flora Botelho.
Clube do Bem
O crescimento da cultura de doação também ganha força em exemplos que reúnem protagonismo juvenil e empreendedorismo social.Os jovens empreendedores Bruno Ramuth e Fernando Branco, são os responsáveis por trás da ideia do Clube do Bem, plataforma que permite que o usuário realize doações que variam entre R$ 15 e R$ 100 para diferentes organizações. Quem doa, ganha descontos em compras virtuais e benefícios proporcionados pelas empresas parceiras.
Usando como referência os 17 objetivos da Organização das Nações Unidas, os amigos procuram realizar uma seleção e detectar instituições que possuem causas interessantes e, ao mesmo tempo, uma carência maior com relação ao apoio na captação de recursos.
A premissa, segundo os sócios, é “unir pessoas, empresas e causas sociais”, de forma que todos sejam beneficiados.