Inovação para superar desafios e embasamento para tomar boas decisões estão entre as vantagens do uso dos dados para gestores públicos da educação. Saiba mais!
Desde que as aulas presenciais retornaram, gestores e professores da rede municipal de Canarana (MT) preenchem uma tabela colaborativa com dados sobre frequência escolar dos estudantes. Por exemplo, algumas unidades anotam a presença em lousas na sala de aula. Decerto, uma forma de engajar a comunidade escolar nesse controle. O levantamento e a análise de dados para gestores públicos da educação é uma estratégia para superar desafios de aprendizagem dos estudantes.
“A frequência é pré-requisito para fazer a recomposição das aprendizagens e reinserir os estudante nos processos de alfabetização. Por isso, decidimos monitorá-la de perto”, explica Eduardo Ferreira da Silva, dirigente municipal de Educação do município e presidente da Undime Centro-Oeste (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) e da Undime Mato Grosso.
Desde 2017, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que fluência em dados é uma das competências fundamentais para inovar no setor público. Quando o assunto é educação, essa demanda é emergencial para lidar com os problemas do presente. Um estudo realizado pelo Ipec para o Unicef mostrou que uma em cada 10 crianças e adolescentes brasileiros de 11 a 19 anos não está frequentando a escola. Nos últimos três meses, mais de 20% dos que estão já pensaram em desistir dos estudos.
“A pandemia causou uma disrupção na educação. Será que a gestão pública está preparada para lidar com os desafios e criar soluções necessárias e urgentes? O uso de dados e informações é premissa para planejar, estruturar, monitorar e avaliar políticas públicas de qualidade”, define Karoline Muniz, coordenadora do curso Cidadãos de Dados, do Social Good Brasil (SGB), parceiro da Fundação Telefônica Vivo.
Análise de dados educacionais: da teoria à prática
No Brasil, existem fontes robustas de coleta de dados de educação, como o Censo Escolar, o QEdu e o Inep Data. Contudo, o trabalho com esses dados deve começar a partir do entendimento de que eles não são a realidade em si, mas trazem aspectos dela. Por isso, devem ser lidos, interpretados, qualificados e cruzados para que efetivamente constituam uma mensagem útil aos gestores públicos de educação.
“Em resumo, não podemos olhar apenas para dados de aprendizagem. Porque temos também dados contextuais, de infraestrutura e de rede. E eles vão servir para diferentes atores. No âmbito do governo, ajudam a desenhar políticas públicas mais assertivas”, indica Maria Helena Bravo, pesquisadora e consultora em Políticas Públicas Educacionais. Ela levanta os principais recortes que devem ser feitos pelos gestores para pensar a educação a partir dos dados.
O primeiro é a localidade das escolas, mapeando se são rurais ou urbanas, o contexto da região onde estão e o tamanho da instituição e da rede da qual ela faz parte. O segundo recorte é o de raça e gênero daquela comunidade escolar. E o terceiro está relacionado às condições financeiras das famílias.
“Esse cruzamento de dados é importantíssimo para entender e qualificar prioridades. Já que a fluência em dados ajuda a ter um bom diagnóstico para que possamos garantir que todos os estudantes estejam de fato na escola”, explica Maria Helena.
“Achamos de extrema importância que gestores públicos, coordenadores pedagógicos, diretores e professores consigam desenvolver o processo de tomada de decisão a partir não só da aprendizagem, mas considerando o contexto dos estudantes, a relação deles com a família e com a própria escola. É transformar dados em informações para que elas virem atitudes”, enfatiza Lia Roitburd, Gerente de Projetos Sociais da Fundação Telefônica Vivo.
Cidadãos de Dados: um curso que apoia gestores públicos de educação
Apoiar o desenvolvimento de competências necessárias para fluência em dados é um dos pilares da Fundação Telefônica Vivo para fomentar uma educação pública de qualidade. Por isso, em parceria com o SGB, que busca tendências mundiais para gerar impacto positivo com o uso de tecnologia e dados para o bem, ofereceu gratuitamente o curso Cidadãos de Dados a gestores públicos do Conselho Nacional de Educação (Consed) e da Undime.
Assim, durante cinco semanas, mais de 105 gestores públicos municipais e estaduais de 26 estados e do Distrito Federal fizeram uma imersão na temática, partindo do entendimento sobre competências humanas e analíticas essenciais para o mundo digital e o futuro do trabalho.
“Certamente, as reflexões propostas no curso revelaram a importância de usar os dados de forma ética e para o bem comum, para que não atuemos em bolhas. Mas como agentes de mudança em todos os níveis da sociedade”, define a professora Ellen Karla dos Santos, do núcleo de tecnologia municipal da Secretaria de Educação de Vitória do Santo Antão (PE).
Enquanto para Evandro Paiva, coordenador estadual do Censo Escolar na Secretaria de Educação do Pará, o curso trouxe uma perspectiva de aprofundamento. “Sempre trabalhei com dados na Secretaria. Mas o curso me ajudou a ter uma visão mais complexa, a juntar as peças soltas e montar o quebra-cabeça”, disse.
De acordo com Thaís Speranza Righetto, coordenadora de projetos do Consed, a dificuldade de um olhar aprofundado para as diversas fontes de dados é um dos principais desafios dos gestores da educação pública.
“Muitas vezes não há integração entre os setores especializados na geração de dados educacionais, como censo escolar, avaliações e financiamento. Assim, a conferência desses dados fica dificultada e a interpretação deles, setorizada. A formação veio para nos apoiar na capacitação dos profissionais que tomam decisões.”
Dados e informações são a mesma coisa?
Esqueça planilhas montadas por pesquisas e questionários. Na Era dos Dados, a principal fonte de dados somos nós e tudo o que fazemos. Desde conversas no WhatsApp até buscas no Google, links acessados, vídeos e fotos recebidas ou enviadas. Dessa maneira, estamos produzindo e consumindo dados a todo momento, mesmo sem dar conta disso. Mas vale entender que dados e informações não são exatamente a mesma coisa. De acordo com o Social Good Brasil, o dado é a menor unidade de informação. Ou seja, são registros soltos, aleatórios e sem qualquer análise.
No entanto, dependendo do contexto ou da forma como eles são organizados, o conjunto de dados passa diferentes mensagens. Um conjunto de dados organizados forma uma informação. Já um conjunto de informações processadas e armazenadas no repertório de cada pessoa gera conhecimento. Para começar a trabalhar com dados é importante entender qual o seu nível de compreensão em relação ao tema.
O Social Good Brasil disponibiliza uma autoavaliação gratuita que ajuda a entender quais competências precisam ser desenvolvidas para adquirir fluência em dados para gestores públicos da educação. Da mesma forma está disponível, no canal do YouTube, uma minissérie que dá dicas simples de como começar a entender dados.