Dia da Água: STEM apoia estudantes na criação de protótipo de tratamento de água

Localizada no interior de São Paulo, a cidade de Franca é conhecida nacionalmente por seu café. Em 2020, o setor cafeeiro representou aproximadamente 20% da economia local, e a safra anual atingiu cerca de 15% do total de café produzido no Brasil. Com tais predicados, é de se imaginar as consequências ambientais dessa grande produção, que acabam contaminando as águas que ficam nos arredores das lavouras. Para solucionar este problema, três estudantes da Escola Estadual Ângelo Scarabucci abusaram da criatividade e, tendo como base a metodologia STEM, criaram um protótipo para remover os resíduos de insumos agrícolas de água contaminada. É o que destacaremos neste Dia Mundial da Água.

Um dos 10 finalistas do programa global Respostas para o Amanhã, da Samsung, o Macafiltro foi realizado durante o ano letivo de 2022, supervisionado pelo professor de biologia da escola, Henrique Pereira. Ele está à frente da disciplina eletiva “Vai aí um café?”, na qual apresenta um histórico da produção de café local e globalmente, além de incentivar os estudantes a identificar os eventuais problemas ao longo da sua cadeia produtiva.

Desde o campo até chegar em nossa xícara, eles construíram um mapa mental dessa cadeia. Isso os ajudou a encontrar os principais focos de problemas da produção de café”, afirma Henrique. Foi então que três alunas – Giovana Parreira Bomfim, Lorrane Batista Aves e Maria Fernanda Motta Pereira – definiram a questão ambiental como uma prioridade, já que o uso decorrente de insumos agrícolas, como agrotóxicos e fertilizantes, gera resíduos que se infiltram no solo, contaminando as massas subterrâneas de águas – ou até mesmo podem contaminar as águas superficiais por meio de um processo de escoamento.

 

Dia da Água e STEM: solução de baixo custo

Era um problema e tanto para uma cidade que não conta com rede de tratamento em área rural e onde muitas pessoas consomem a água diretamente do rio ou de uma nascente. A solução encontrada pelas jovens foi a criação de um filtro de baixo custo utilizando frutos de macaúba, uma palmeira muito presente – e pouco aproveitada – na região. Dentro deles, há uma casca chamada de endocarpo que, por ser muito rica em carbono, poderia ser transformada no carvão vegetal que faz a filtragem da água. Nascia assim o Macafiltro.

Henrique enfatiza que, para além da conscientização ambiental, jovens estudantes devem ser estimulados a pensar e aplicar soluções para os problemas comunitários. “Não adianta só levar propostas prontas de soluções que outras pessoas já fizeram, fechar meu livro e ir embora para casa”, afirma. “A gente precisa criar um espaço dentro da escola para que os jovens possam pensar e propor soluções para isso. Eles só vão se debruçar sobre esses problemas e procurar soluções a partir do momento em que forem realmente instigados para isso.”

Para o professor, a conexão entre o mundo real e a sala de aula potencializa o processo de ensino e aprendizagem. “Toda a questão climática e ambiental, que eles aprendem de maneira teórica,  foi colocada em prática através do Macafiltro, contextualizando para a realidade e cotidiano deles e, por consequência, dando muito mais significado ao papel da escola.” Indo além, a iniciativa ajuda os estudantes na compreensão de que eles são agentes transformadores de seu território. “Pela primeira vez, eles de fato puderam contribuir socialmente com a comunidade em que vivem, de uma maneira muito significativa e impactante”, define.

Dia da Água e STEM: Letramento científico

A iniciativa é considerada uma pré-iniciação científica, pois permite que estudantes do ensino médio tenham a oportunidade de experimentar o fazer acadêmico antes mesmo de ingressar em um curso superior. A metodologia inovadora STEM também estimula os estudantes a resolverem problemas locais com um olhar multidisciplinar. “O intuito é auxiliar no letramento científico desses jovens, para que depois possam caminhar sozinhos. A escola tem a missão de oportunizar isso.”

O Macafiltro ainda está em andamento. “Temos alguns resultados iniciais que mostram o potencial do nosso filtro”, conclui o professor, “mas a nossa intenção é aprimorá-lo.” Nesse sentido, as jovens criadoras do projeto participaram de uma mentoria com a equipe do Respostas para o Amanhã, na qual receberam orientações sobre próximos passos e possíveis melhorias a serem aplicadas no protótipo.

Assista a um vídeo do projeto aqui.